Os dados do inquérito nacional sobre a vulnerabilidade alimentar e nutricional das famílias indicam que 10% da população cabo-verdiana sofre de desnutrição crónica e 7,4% de obesidade infantil nas crianças com menos de cinco anos.
Esta informação foi avançada hoje pelo ministro da Agricultura e Ambiente, Gilberto Silva, à imprensa à margem da cerimónia de abertura da X reunião do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CNSAN), realizada esta quarta-feira, na cidade da Praia.
Conforme lembrou, desde 2018, Cabo Verde tem realizado inquéritos relacionados com estas questões, por forma a permitir fazer o ajustamento das medidas de políticas que tem que ver com a segurança alimentar e nutricional.
“Os dados recentes apontam que devido a actual conjuntura que o mundo enfrenta, 81 mil pessoas em Cabo Verde, ou seja, 17% da população estava na fase de subpressão, pouco mais de 40 mil, ou seja, 8% já na fase de crise alimentar e um pouco menos de 1% na fase de emergência alimentar”, declarou, salientando que o Governo não pode ficar indiferente a esses dados, que, a seu ver, poderiam ser piores se o mesmo não tivesse tomado medidas que contribuíram para a mitigação da situação.
Ainda, de acordo com o ministro, os dados mostram que 32% das famílias cabo-verdianas ainda não tem o acesso financeiro suficiente, 10% da população sofre de desnutrição crónica, 7,4% da camada infantil com menos de cinco anos sofre de obesidade.
“É um indicador que mostra que temos que atacar a temática da obesidade, pode parecer paradoxo, havendo desnutrição crónica e ao mesmo tempo a obesidade e isto pode acontecer. Vamos ter que atacar esses assuntos nos próximos tempos, mas também mostra, por exemplo, que quatro em cada dez mulheres estão a sofrer também de obesidade e excesso de peso”, acrescentou.
Considerou, neste sentido, importante que as acções sejam melhoradas e uma melhor orientação das políticas públicas no sentido de resolver esses assuntos, referindo que durante a reunião, serão discutidas de igual modo, as novas linhas orientadoras para actualização da Estratégia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional prevista para ainda este ano.
Gilberto Silva reconheceu, no entanto, que há ainda desafios a serem ultrapassados, com destaque para a melhoria da produção e do rendimento das famílias por forma a permitir o acesso financeiro das mesmas aos alimentos.
“É preciso melhorarmos consideravelmente a nossa dieta, às vezes temos a questão da obesidade, por exemplo, há muita gente com muito dinheiro que se alimenta mal mas também há pessoas que têm pouco dinheiro e que têm uma dieta alimentar adequada, ou seja, há aspectos que tem que ver com a nutrição e que dependem essencialmente do conhecimento e das boas práticas”, afirmou, defendendo ainda que há necessidade de articulação das políticas públicas, há vários níveis e melhoria das cadeias, organização das cadeias de produção e distribuição de alimentos.
Por seu turno, a representante da FAO em Cabo Verde, Ana Touza, destacou a forma como o Governo tem trabalhado no sentido de implementar programas e projectos, que, realçou, proporcionam directa ou inderectamente a segurança alimentar e nutricional aos cabo-verdianos, não obstante as crises que afectam o mundo.
Salientou ainda as medidas do Governo para mitigar o impacto da escalada de preços, visando uma maior resiliência do sistema alimentar com a adopção de várias medidas assertivas, tendo, no entanto, frisado que os dados mais recentes apontam para uma percentagem importante da população a enfrentar dificuldades a nível da segurança alimentar.
“Os esforços conjugados de mitigação dos impactos da crise sócio-económica permitirão a melhoria da situação alimentar face ao período homólogo”, declarou, reconhecendo, no entanto, que há necessidade de se manter as medidas para uma maior sustentabilidade.
Por isso, exortou o Governo a agir e que, tendo em conta o novo contexto global e local é necessário reavaliar e actualizar a Estratégia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional por forma a responder aos novos desafios dos ODS e da Agenda 2063 da União Africana.
A Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) constitui uma prioridade na Agenda 2030 e nos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), sob o qual os Estados se comprometeram a acabar com a fome, garantindo a segurança alimentar, melhorando a nutrição e a agricultura sustentável (ODS 2).
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