São Vicente: é hora de cortar o mal pela raiz
Ponto de Vista

São Vicente: é hora de cortar o mal pela raiz

A reconstrução não pode ser apenas repor o que existia antes. É preciso transformar esta tragédia numa oportunidade histórica para redesenhar a cidade de forma segura e sustentável. A Câmara Municipal, o Governo, engenheiros, urbanistas, universidades e a população precisam de unir esforços e planear a cidade para as próximas décadas, com base na ciência, na engenharia e na participação cívica.

A madrugada de 11 de agosto ficará marcada na história recente de São Vicente como um dos momentos mais trágicos que a ilha já viveu. Chuvas torrenciais, caindo em poucas horas, arrastaram tudo pelo caminho: casas, carros, estradas e, tragicamente, vidas humanas. Foi a força bruta da natureza a mostrar, mais uma vez, que a vulnerabilidade urbana custa caro e, demasiadas vezes, custa vidas.

Esta tragédia não é apenas resultado da intensidade da precipitação. É também consequência de um planeamento urbano insuficiente, de infraestruturas frágeis e de sistemas de drenagem incapazes de lidar com fenómenos climáticos extremos. Com as mudanças climáticas a tornar eventos como este mais frequentes e imprevisíveis, a pergunta que se impõe é simples: VAMOS RECONSTRUIR PARA REPETIR O ERRO OU VAMOS RECONSTRUIR PARA RESISTIR?

Soluções estruturais: cortar o pela pela raiz

Nenhuma medida será infalível, mas algumas podem reduzir de forma significativa o impacto de eventos extremos:

  1. Sistema moderno de drenagem pluvial

      • Redes subterrâneas capazes de escoar rapidamente grandes volumes de água, com canais, sumidouros e reservatórios de retenção.

      • Manutenção regular e limpeza das bocas de lobo, evitando entupimentos que agravam inundações.

   2. Reordenamento urbano e gestão de zonas de risco

      • Mapeamento de áreas propensas a inundações e desocupação progressiva das zonas mais críticas.

      • Proibição de novas construções em corredores naturais de escoamento de água.

   3. Obras de contenção e retenção

      • Muros de contenção e taludes reforçados em encostas vulneráveis.

      • Bacias de retenção e canais de desvio para desacelerar o fluxo de água antes de atingir áreas habitadas.

    4. Sistemas de alerta e educação comunitária

      • Instalação de sensores meteorológicos e pluviométricos que permitam emitir avisos rápidos à população.

      • Campanhas de sensibilização sobre segurança, evacuação e prevenção em situações de chuva extrema.

Reconstrução com visão de futuro

A reconstrução não pode ser apenas repor o que existia antes. É preciso transformar esta tragédia numa oportunidade histórica para redesenhar a cidade de forma segura e sustentável.

A Câmara Municipal, o Governo, engenheiros, urbanistas, universidades e a população precisam de unir esforços e planear a cidade para as próximas décadas, com base na ciência, na engenharia e na participação cívica.

Conclusão: um compromisso com a vida

Com a mãe natureza não se brinca. Mas com inteligência, planeamento e vontade política podemos transformar vulnerabilidade em resiliência.

Nesta hora difícil, expresso a minha mais profunda solidariedade às famílias que perderam entes queridos. Lamento profundamente as vidas ceifadas nesta madrugada fatídica. Que a memória dessas vítimas seja honrada com ação firme e responsável, para que esta tragédia se torne um marco na construção de um São Vicente mais seguro, justo e preparado.

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