Os vírus são partículas infeciosas e até hoje, há debate se são ou não, seres vivos. São invisíveis, porém capazes de multiplicar rapidamente num curto espaço de tempo. O vírus precisa de ajuda externa para se multiplicar, ou seja, precisa se infiltrar no material genético das células dos seres vivos para conseguir libertar suas partículas pelo organismo. Algumas doenças causadas por vírus mais conhecidos são a hepatite, as gripes nas suas mais diversas formas, a dengue, o HIV, catapora, sarampo e outras infeções diversas como o recente coronavírus, capaz de causar infecção respiratória grave.
O vírus SARS-CoV-2 (designado 2019- nCoV) surgiu em dezembro de 2019 na China, e depois se espalhou rapidamente por todo o mundo. Hoje, 11 dias do mês de abril, já se registam 1.699.272 casos confirmados com um total de 105.873 mortes em todo o mundo. Esse vírus tem vários espigões à superfície, e são esses que lhe permite ligar às células, propriamente aos receptores ACE2 presentes nos pulmões, artérias, coração, rins e intestinos. Esses picos revestem-se de uma substância da família dos açúcares para esconderem a proteína viral, e assim evitar as nossas defesas. Por exemplo, o vírus HIV (vírus da imunodeficiência humana), precisa fugir constantemente do sistema imunitário e apresenta uma camada muito mais densa em relação ao coronavírus, isto significa que o caminho para a vacina contra o coronavírus não será tão complicado. Como sabemos, o caminho para qualquer vacina seja ainda considerado algo ainda a um ano de distância, cientistas ao redor do mundo estão explorando ativamente drogas que seriam potencialmente eficazes no combate ao COVID-19.
Uma equipe de pesquisa conjunta do Instituto de Xangai de A Matéria Medica e a Shanghai Tech University, realizaram rastreio de medicamentos em silício e um teste de atividade enzimática, e relataram 30 agentes com potencial atividade antiviral contra SARS-CoV-2, em 25 de janeiro de 2020.
Destacam-se o IFN-α, lopinavir/ritonavir, ribavirina, cloroquina e arbidol, antivirais inclusos nas Diretrizes da versão 6, para tratamento da COVID-19. O IFN-α é um antiviral de amplo espectro que geralmente é usado para tratar a hepatite, embora seja relatado inibir a reprodução SARS-CoV in vitro. Lopinavir/ritonavir é um medicamento para o vírus da imunodeficiência humana usado em combinação com outros medicamentos para tratar pacientes infectados com HIV. Chu et al. descobriram que o lopinavir/ritonavir tem atividade anti-SARS-CoV in vitro e em estudos clínicos. A ribavirina é um análogo de nucleosídeo com um amplo espectro de efeitos antivirais. A cloroquina é um antimalárico amplamente utilizado e foi considerado um potencial antiviral de amplo espectro em 2006. Cloroquina bloqueia a infecção por SARS-CoV-2 em baixa concentração, com um efeito meio-máximo (CE50) de 1,13 μM e um meio citotóxico à concentração (CC50) superior a 100 μM. Arbidol é um antiviral que pode ser usado para tratar o influenza vírus. Um estudo revelou que o arbidol pode inibir efetivamente infecção por SARS-CoV-2 a uma concentração de 10-30 μM in vitro.
Além dos medicamentos acima que foram incluídos nas Diretrizes, o favipiravir é um medicamento que também suscita atenção. O favipiravir foi aprovado para o tratamento da nova gripe em 15 de fevereiro de 2020, na China. Favipiravir atualmente está a ser testado em ensaios clínicos no tratamento de COVID19. O favipiravir é um novo tipo de RNA dependente inibidor da RNA polimerase (RdRp). Favipiravir é convertido em uma forma fosforibosilada ativa (favipiravir-RTP) nas células e é reconhecido como substrato pela RNA polimerase viral, inibindo assim o RNA da atividade da polimerase. Portanto, o favipiravir pode ter potencial ação antiviral no SARS-CoV-2, que é um vírus RNA. Em 14 de fevereiro, um ensaio clínico sobre o favipiravir para o tratamento de COVID-19 iniciado pelo Serviço Clínico Centro de Pesquisa Médica do National Infectious Diseases e o Terceiro Hospital Popular de Shenzhen alcançou resultados promissores. Os resultados preliminares indicaram que o favipiravir tem maior ação antiviral do que a dupla lopinavir/ritonavir. Não foram observadas reações adversas significativas nos ensaios com favipiravir, e teve significativamente menos efeitos adversos que lopinavir/ritonavir. Remdesivir é outro medicamento potencial para tratamento do COVID-19. É um análogo de nucleosídeo e um antiviral de amplo espectro. Wang et al. revelaram que o remdesivir bloqueia potencialmente a infecção por SARS-CoV-2 em baixas concentrações e tem um alto índice de seletividade (concentração efetiva semi-máxima (EC50), 0,77 μM; concentração semi-citotóxica (CC50)> 100 μM; SI > 129,87). Holshue et al. relataram que o remdesivir produziu resultados promissores no tratamento de um paciente com COVID-19 nos Estados Unidos. O darunavir, que é uma segunda geração do HIV, exibiu eficácia pela inibição do SARS-CoV-2 in vitro. Experiências com células indicaram que darunavir inibiu significativamente a replicação viral em um concentração de 300 μM in vitro.
Hoffmann et al., ressaltam que o SARS-CoV-2 usa o receptor SARS-CoV, ACE2, e a protease celular TMPRSS2 para entrar nas células alvo. Um inibidor de TMPRSS2 bloquearia a entrada e, portanto, constitui uma opção de tratamento. O imatinibe, um inibidor seletivo da enzima tirosino quinase ABL e do gene BCR-ABL, é também alvo de pesquisa, visto que inibe a fusão de viriões com a membrana endossómica. Importante reforçar que a eficácia e segurança destes agentes, no tratamento de COVID-19 precisam de ser confirmados em futuros testes e alguns já demonstraram eficácia preliminar contra o COVID-19.
*Farmacêutica formada na Universidade Federal Fluminense no Brasil. Desempenhou 4 anos como técnica de regulação farmacêutica na DGF e atualmente atua como docente na Universidade Jean Piaget de Cabo Verde.
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