Normalizando a mediocridade
Ponto de Vista

Normalizando a mediocridade

Acredito que é o momento para o senhor presidente Julio Lopes cancelar o slogan "Nós fazemos o que nos pedem” e tenha a coragem política que se exige que quem esteja a liderar e comece a traçar projetos estruturantes para o desenvolvimento do sector das pescas ,ou de outras áreas, eliminando o flagelo dos problemas sociais originados pelos desaparecimentos e acidentes com pescadores, mesmo que isso leve a um descontentamento da classe ou mesmo da nossa sociedade. Mas uma coisa podemos parabenizar esse executivo que foi o de ter conseguido colocar a sociedade salense numa inércia total, mesmo quando se atropela a lei, ao apresentar o projeto paliativo de um bar ao lado de um ATL.

Um dos principais problemas dos países “pobres”, é a sua classe política, que através da falta de competência aproveita-se dos problemas estruturais na sociedade, e vai se alimentando desses problemas para se promover e atingir o poder e quando o alcança, fará tudo para o manter criando um clima do quero, posso e mando e erguendo barreiras para aqueles que não compactuam com essa forma de fazer política. Marginalizado-os com ajuda de alguns idiotas-uteis e muitas vezes são alvos de assassinato de carácter.

Através dessa forma de fazer política, uma boa parte da sociedade vê-se obrigada a concordar com tudo que lhe é apresentado e os outros começam a desinteressar-se pela política, conformando-se com tudo mesmo que isso o afete direta ou indiretamente. 

Esses políticos medíocres, voltaram mais uma vez a apresentar um projecto, a casa dos pescadores, que não é nada mais do que um cuidado paliativo e não acrescenta nada de novo na vida dos pescadores e não contribui para a melhoria das condições sociais ou económicas dos pescadores de Santa Maria e da sociedade no geral. Mesmo que este projecto seja um pedido dos pescadores, as autoridades devem mostrar que existem outras prioridades e que a segurança e uma nova forma de fazer a pesca artesanal deve ser acolhida.

O flagelo do álcool, sempre esteve associado historicamente  com a vida dos pescadores, e construir um bar, mesmo atropelando a lei dos 200 metros de distância de um recinto educativo não contribui, em nada, para o desenvolvimento dessa classe. As condições sociais e econômicas dos pescadores precisam de projetos estruturantes que contribuam para a melhoria das condições de vida e da sociedade em geral.

Os pescadores não precisam de um bar para convívio ou um local de encontro, mas sim, de projectos de segurança e certificações em diversas áreas relacionadas com as pescas e que contribuam para uma transformação radical nas suas vidas. 

As autoridades continuam a negligenciar os problemas sociais que advém da falta de políticas direcionadas exclusivamente para os pescadores, principalmente, para minimizar os desaparecimentos e outros acidentes ou que passam a preparar as suas reformas para que no futuro não sejam vítimas do vosso assistencialismo ou encargos para o estado.

Qualquer visita ao pontão de Santa Maria podemos constatar que os coletes são corpos estranhos na vida dos pescadores e como equipamento de segurança deveriam ser obrigatórios em conjunto com equipamentos de comunicação e localização, em caso de socorro, e caberá às autoridades garantir que assim seja. Mas quando digo obrigatório, é necessário, primeiro, uma campanha de sensibilização para a mudança de mentalidade sobre  a necessidade desse equipamento e só depois podemos avançar para a sua obrigatoriedade.

O dinheiro do terreno e da contribuição da Câmara Municipal do Sal na construção deste projecto, seria o suficiente para equipar quase a totalidade dos botes, com coletes de salva-vidas  e na criação de uma campanha de sensibilização em Santa Maria.

A forma como vemos os pescadores deve sofrer uma transformação para serem atores ativos no desenvolvimento da nossa sociedade e não uma classe que é conhecida pelos seus problemas sociais e econômicos. 

Mesmo com a ambiguidade da nova lei do álcool, Lei 51/IX/ 2019 no seu artigo 14, que proíbe a venda a menos de 200 metros de estabelecimentos de ensino ou outros espaços educativos e que ao mesmo tempo permite que sejam os municípios  a decidirem a aplicação da referida distância, tenho certas dúvidas que exista algum despacho do representante do ensino, no Sal, a concordar a instalação de um bar a menos de 200 metros de um ATL. Tanto a Câmara Municipal, como a delegação de ensino deveriam apresentar os argumentos de como é possível que a instalação de um Bar, no mesmo piso que um ATL, não tenha qualquer impacto negativo na vida dessas crianças. Os técnicos da câmara que ajudaram na concessão deste projecto ainda tem alguma margem para corrigir esse erro.

Outra pergunta que acredito que dificilmente teremos resposta, é  como será feito a gestão do espaço de acolhimento de jovens em risco ou será que a associação de pescadores passou a ter essa capacidade técnica?

Os jovens em situação de risco, é um problema que o actual executivo nunca conseguiu resolver, e não é normal que venham a ser parceiros neste projecto, quando não apresentaram uma única solução para esse problema, tentando passar uma imagem de que estão a criar soluções. Em Palmeira, a associação de pescadores realizou um festival para angariar fundos para vedar o cais de pesca para não permitir que crianças ali estejam a perturbar o seu bom funcionamento, principalmente crianças em situações de risco que as autoridades como a CMS ou mesmo o ICCA não conseguiram resolver, nomeadamente, acolhendo essas crianças e criando soluções.

Podem sempre alegar que haverá salas de formação ou mesmo um espaço para o acolhimento de jovens em risco, e como escrevi, isso não é da competência da associação dos pescadores e temos instâncias próprias para esse efeito e urge um projecto para a Ilha do Sal e não para Santa Maria, com 5 quartos(no mesmo edifício com um bar), ou outra localidade. No que toca às salas de formações devemos também questionar a sua utilidade se temos bibliotecas, temos salas de aulas ou mesmo outros centros que poderão ser utilizados para formação.

Não podemos continuar a associar o álcool com a pesca artesanal.

Quando temos políticos medíocres, qualquer erro cometido por um técnico “ou não”, eles nunca terão a capacidade de o perceber e questionar, porque estão mais preocupados com assistencialismo e demagogia que na nossa sociedade continue a ser a única capacidade que é exigido para se ser político e contribuir para a falência da nossa sociedade.

Acredito que é o momento para o senhor presidente Julio Lopes cancelar o slogan "Nós fazemos o que nos pedem” e tenha a coragem política que se exige que quem esteja a liderar e comece a traçar projetos estruturantes para o desenvolvimento do sector das pescas ,ou de outras áreas,  eliminando o flagelo dos problemas sociais originados pelos desaparecimentos e acidentes com pescadores, mesmo que isso leve a um descontentamento da classe ou mesmo da nossa sociedade. Mas uma coisa podemos parabenizar esse executivo que foi o de ter conseguido colocar a sociedade salense numa inércia total, mesmo quando se atropela a lei, ao apresentar o projeto paliativo de um bar ao lado de um ATL.

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