O ringue da Nancy não é limitado pelas cordas e tem muito mais cantos, a sua luta não começa nem acaba quando coloca ou retira as luvas, mas é o tempo todo, uma luta para justiça social. Aprendi isso quando a Nancy me ofereceu um par de luvas, para me servir de inspiração e saber que nesta batalha para o bem estar do meu país, para a criação de oportunidades e de equidade não há descanso, tenho de continuar a pelejar as improbabilidades e as intempéries, para termos um Cabo Verde melhor, um Cabo Verde que apoia os seus atletas e que se opõe a essa tempestade que devasta carreiras atléticas e potenciais da nossa juventude; um Cabo Verde que dá uma atenção particular às mulheres, de maneira que possam equilibrar a maternidade com a paixão pelo desporto; um Cabo Verde que reconta as narrativas tradicionais e contribui para a emancipação das mulheres.
Não sou mulher, mas conheço bem a realidade para saber que ser mulher e uma profissional de alto nível é um trabalho hercúleo… ou melhor, de uma amazona… aliás, de uma cabo-verdiana. Vivemos numa sociedade que exige que a mulher seja uma cuidadora delicada e dedicada, boa dona de casa e boa mãe, ao mesmo tempo que se lhe exige também um excelente rendimento em tudo em que se envolve. A mulher não deve ser pressionada para nenhuma das duas possibilidades e as duas podem coexistir – e deveriam – sem nenhum problema. A falta de suporte institucional e recursos adequados, a ausência de políticas ligadas a maternidade mais sólidas e consistentes – enquanto mulheres extraordinárias lutam para equilibrar os papéis de mãe e profissional, quebrando as correntes do estigma e do estereótipo social que tende a empurrá-las para o plano de fundo – mostra que a busca por equidade e oportunidades é uma jornada em que devemos todos participar.
Com a ultima atualização do ranking em dezembro de 2023 da Federação Internacional de Boxe (AIBA) colocando a pugilista internacional cabo-verdiana, como número 1 em África na categoria 66Kg e número 2 a nível do mundial, Nancy “Ali” Moreira, esmurra e derruba preconceitos, prossegue na sua luta pela autonomia, em nome próprio e de outras mulheres, servindo-se de modelo e de inspiração a mulheres mais jovens, ou melhor, a pessoa humanas, independentemente do género, da idade ou da nacionalidade.
Cabo Verde está bem representado pela Nancy, que consegue chegar ao topo do mundo e conciliar a maternidade com as exigências do desporto de alto nível. Nancy é mãe e é campeã. Sabemos que a falta de apoio institucional e recursos para atletas mães é um desafio gigantesco, porque, regressar à competição depois de dar à luz não é fácil e pode resultar num impacto negativo na carreira. Por essas e outras razões, o trabalho da Nancy está para além de excecional, e nos deixa com a responsabilidade de agir para que este tipo de feito não se considere extraordinário, mas possível, e até habitual, fazendo assim justiça às mulheres.
O ringue da Nancy não é limitado pelas cordas e tem muito mais cantos, a sua luta não começa nem acaba quando coloca ou retira as luvas, mas é o tempo todo, uma luta para justiça social. Aprendi isso quando a Nancy me ofereceu um par de luvas, para me servir de inspiração e saber que nesta batalha para o bem estar do meu país, para a criação de oportunidades e de equidade não há descanso, tenho de continuar a pelejar as improbabilidades e as intempéries, para termos um Cabo Verde melhor, um Cabo Verde que apoia os seus atletas e que se opõe a essa tempestade que devasta carreiras atléticas e potenciais da nossa juventude; um Cabo Verde que dá uma atenção particular às mulheres, de maneira que possam equilibrar a maternidade com a paixão pelo desporto; um Cabo Verde que reconta as narrativas tradicionais e contribui para a emancipação das mulheres.
As lendas, os mitos e a História estão cheios de campeões - porque honram o seu povo e inspiram jovens, que se refletem neles, pois eles personificam possibilidades. É preciso disciplina, dedicação, perseverança e foco, é preciso saber cair e levantar-se mais vezes - e nós sabemos quantas vezes caímos com este governo -, e ter a consciência de que cada competição, como cabo-verdiano é uma exposição de identidade e da força de todo Cabo Verde, transcendendo fronteiras, levando o orgulho nacional.
É preciso investir no desporto, o que é essencial para a nossa juventude, para o orgulho nacional e para a nossa imagem no estrangeiro. Os valores do desporto estão mais que comprovados, além de criar uma juventude sadia, preparados para o futuro, cria pessoas capazes de trabalhar individualmente, mas em equipa ¬– uma conexão entre esforço individual e o orgulho nacional – o que é necessário para o nosso povo. Temos de ser proativos e não reconhecer os nossos atletas – e outros profissionais – só depois de chegarem ao estrelato, devemos proporcionar-lhes as possibilidades e facilitar-lhes o percurso.
Nancy já tem o seu lugar no nosso panteão, e o seu exemplo e as sementes que planta com a sua inspiração – pode não ser na mesma área em que se notabilizou, o boxe -, com certeza que vai dar mais frutos e mais sementes.
Orgulho-me de ser inspirado por ti, Nancy, e nunca descalçarei as luvas.
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