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Estudo de projeção Covid-19. Alarmante e sem necessidade
Ponto de Vista

Estudo de projeção Covid-19. Alarmante e sem necessidade

Sobre o Estudo da projeção Covid-19 para Cabo Verde divulgado ontem (dia 10/04) na Cidade da Praia. Pergunta-se:

1. Se os estudos são instrumentos importantes para o auxílio à tomada de decisões e correções de eventuais falhas, porque não cingir o seu uso e a sua circulação/divulgação entre os “Stakeholders” a quem verdadeiramente importam para as ações e tomadas de decisões?

Porquê vir divulgar (o que só gera mais alarme e pânico) estudos epidemiológicos do tipo e ainda mais fora de tempo (como o próprio consultor reconheceu por várias vezes que muitos dos cenários projectados não se aplicam ao caso de Cabo Verde porque medidas foram tomadas quer da higiene individual, quer do distanciamento social requerido e quer de medidas politicas com a autorização unânime do Parlamento para a declaração do Estado Emergência, etc, etc?

2. O estudo deveria sim, ser de consumo restrito porque baseia em pressupostos e hipóteses que podem ser úteis para o planeamento e a programação das respostas sanitárias do país, mas estão distantes da realidade prática vivenciada no país. Vamos a 2 (dois) exemplos apenas:

a) O estudo é claro que os modelos estatísticos foram preparados com base nos indicadores e evolução noutros países, alguns dos quais, como a China e a Itália. Serve esta base para o caso de Cabo Verde? Tenho por mim que não. De relembrar apenas, que estes países foram fortemente afetados pela pandemia e com uma rápida evolução e propagação da doença entre a população (Ro) e sem contar que as respostas dos países foram diferentes.

b) Outrossim tem a ver com a base para extrapolação utilizada. Esta base assenta nos testes realizados (100 testes) e nos doentes já confirmados (7 casos confirmados à data). Usando esta base e numa lógica simples é-nos apresentado uma extrapolação para toda a população de Cabo Verde (556.586 habitantes) que deu um total de 38.961 pessoas que já "podem estar infetados" com covid-19 em Cabo Verde.

Isso pareceu-nos “errado” e longe da realidade atual. A nosso ver não se pode fazer extrapolação deste tipo porque a amostra parece-nos não ser representativa da população (somos 9 ilhas habitadas e os casos aconteceram em 3 ilhas apenas); a população não é homogênea e em contacto permanente como o estudo toma como pressuposto fundamental para termos um N de 556.586 habitantes em permanente contacto ... e sabemos que não é assim o caso de Cabo Verde.

Sem entrar em outros pormenores de eventuais insuficiências do modelo S.I.R utilizado para ilhas (há literatura q.b sobre o assunto) também, como a maioria dos cabo-verdianos, estranhei a divulgação deste estudo ao público.

Reconheço utilidade aos estudos do tipo (ainda que com as insuficiências que possam ter) como um instrumento importante para, nesta fase, melhorar o planeamento; melhorar provisões e corrigir os planos das aquisições de material médico e de assistência hospitalar (máscaras, ventiladores, etc); programar e simular necessidades do pessoal médico para uma eventual resposta em cenários mais pessimistas, etc,etc .... mas dai a dar uma conferência do tipo de ontem para partilhar estudos de projeções e simulações de cenários com o público em geral (muitas das vezes não tão preparado para o seu consumo) só serve/serviu para alarmar, ainda mais, a população e cheirou-me a desproporcional e despropositado. Diria mesmo, sem necessidade!

P.S: No entanto hoje de manhã ao ver a manchete do jornal online o país fiquei com algumas dúvidas sobre as verdadeiras intenções da divulgação do estudo.

Boa Páscoa a todos vós e que esta nos traga boas novas e um ressuscitar de esperanças em dias melhores.

Juntos vamos vencer esta luta para mais e melhor Cabo Verde.

Artigo publicado pelo autor no facebook

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Redação