Tive a oportunidade de ser, entre mais de duas centenas presentes, um dos observadores internacionais a acompanhar as eleições gerais em Angola. Pelos escassos dias de presença em Luanda apanhei a parte final da campanha onde todas as emoções se concentravam e já se proferiam discursos de consolidação da jornada eleitoral.
As notícias transmitidas pelas televisões, os movimentos de rua ou mesmo conversas, aqui e acolá, davam para ter uma percepção sobre o que estaria a acontecer e sobretudo para aperceber que os angolanos estavam interessados nesse acontecimento político de relevância nacional e que despertava um grande interesse a nível internacional.
No dia das eleições, 23 de Agosto, à semelhança dos outros observadores, levantei-me cedo para estar pronto para a missão de observar o pleito, os seus contornos e os seus desenvolvimentos. Convém dizer que o povo conseguiu pôr-se de pé ainda muito mais cedo movidos por uma vontade madrugadora de ir depositar os seus votos nos seus partidos e candidatos preferidos.
Passavam poucos minutos das sete horas (as assembleias de voto já estavam abertas às sete horas) já era visível o movimento das pessoas com um dos dedos pintados, pela tinta indelével, de regresso a casa depois de ter exercido o seu direito/dever de votar e, convém destacar, que transmitiam um ar alegre, descontraído e de uma indisfarçável satisfação.
Visitei, em Luanda uma dezena e meia de Assembleias de voto constituídas por várias mesas e pude contactar, juntamente com os outros do mesmo grupo de observadores, os integrantes das mesas e os representantes dos partidos para além de um ou outro eleitor. Todos eram unânimes em reconhecer e afirmar que tudo estava a correr bem, sem sobressaltos e sem incidentes.
As filas, algumas enormes, para se ir votar eram contrastadas com um ambiente tranquilo, sereno, de civismo e muito ordeiro o que impressiona positivamente porque afinal pode-se votar em pessoas e projectos diferentes respeitando as diferenças, as preferências e as opções. Isso aconteceu literalmente em Luanda.
O ambiente nas ruas também era tranquilo e ordeiro, próprio de um país que prova saber valorizar a paz que tanto custou conquistar e preservar.
Participei, observando, no fecho de uma das mesas e na contagem dos votos expressos e o ritual longo de apuramento, contando voto a voto na presença do olhar atento dos representantes/delegados dos partidos concorrentes e pude testemunhar, nesta fase derradeira, a lisura, a transparência e a seriedade dispensadas a este acontecimento eleitoral. Nessa mesa todos confirmaram os números e ninguém contestou o resultado.
Posso concluir que vi um país a crescer, uma democracia a afirmar-se, um povo interessado e participativo e uma escolha livre, democrática, responsável e madura dos legítimos representantes e que estas eleições foram justas, livres e transparentes
Ficam registadas no meu sentir um apurado nível de organização com introdução de meios tecnológicos que facilitam os eleitores e dignificam o processo.
Para mim foi uma oportunidade de constatar na prática o que aconteceu nessas eleições e, o que verifiquei, não tem nada a ver com as avaliações remotas, feitas de cor e à distância e, que me desculpem, carregadas de subjetivismo e alguma maldade pelo meio. Precisam ir a este país para lhe conhecer por dentro e despido dos estereótipos e preconceitos que algures foram semeados em nós e, acriticamente, alimentamos.
Partilho, para terminar o meu sentimento de respeito, de apreço, de admiração e de esperança em relação a um país, ao seu povo e aos seus legítimos governantes.
Rui Semedo
Agosto de 2017
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