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Duas notas (imperceptíveis) sobre o desvio de 35 mil contos no BCA
Ponto de Vista

Duas notas (imperceptíveis) sobre o desvio de 35 mil contos no BCA

Imputar um crime de roubo ou desvio de dinheiro de clientes numa instituição bancária é grave, sem dúvida, para qualquer funcionário, mas importa questionar como é possível o BCA permitir que tal tenha sucedido durante dois anos seguidos sem tomar fé? Resposta, falha na supervisão, que, por arrastamento, denota incompetência dos superiores bancários.

Como se sabe, é o DSI (Divisão de Sistema Informático) a quem cabe essa tarefa de antever irregularidades do tipo e pôr cobro em tempo e hora, de modo a evitar prejuízos irreparáveis para o banco, tanto financeiramente, quanto ao nível da sua imagem externa. Ora, quando se trata de dinheiro dos clientes a situação piora estrondosamente e o banco sai bastante beliscado.

Ademais, e segundo dizem a Polícia Judiciária e o próprio BCA, que apresentou queixa contra Rosangela Semedo - a funcionária em causa -, os 35 mil desviados da conta dos clientes foram feitos durante dois anos! Se assim for, parece óbvio que o DSI mostrou ineficácia e incompetência. Ou foi propositado?

Esta pergunta tem toda a lógoca: É que noutras situações conhecidas do público esse departamento conseguiu detectar anomalias e ilegalidades supostamente cometidas por outros gerentes - como em Santo Antão, Fogo ou São Domingos, em que houve inclusive suspensões dos referidos individuos - imediatamente após terem sido alegadamente consumados esses actos. No caso da Rosângela, os desvios demoraram dois anos (2017 a 2019) sem que a mesma tenha sido apanhada pelo serviço que tem por missão detectar essas situações. De tal forma que a ela é suspeita de subtrair da conta dos clientes do BCA nada mais nada menos que 35 mil contos, montante elevadissimo para uma só pessoa desviar, ainda que em pequenas fracções. E pelo que sei e conheço da pessoa, a Rosângela é uma das melhores funcionárias do BCA, terá cometido este deslize, talvez, por erro de cálculo. Não a posso julgar, nem condenar, sem prova, mas a minha crença, ou quiçá, convicção é de que a haver tal desvio para benefício próprio é pouco provável.

Posto isto, devo concluir que houve incompetência ou falta de zelo dos responsáveis do DSI, a ponto de deixar arrastar durante 670 dias desvios regulares de dinheiro que não é do banco, obrigando a instituição a ter ressarcir os clientes visados, enquanto espera pela punição judicial da funcionária suspeita.

E os da DSI não mereciam igual castigo, por permitirem um escândalo desses na sua barba cara? A justiça muitas vezes é ingrata, mas parece pouco crível que a sub-gerente do balcão do BCA do Palmarejo tenha feito tudo sozinha durante dois anos sem que ninguém dentro da instituição (supervisores e sobretudo) tenha se apercebido desses desvios.

Se assim for, convenhamos então, o BCA não inspira confiança para ninguém depositar lá o seu dinheiro. E quem deveria transmitir essa confiaça é o próprio BCA, que deve apostar em pessoas sérias para os cargos de responsabilidade como supervisão.

Bastasse isso, hoje o BCA não estaria obrigado a devolver 35 mil contos aos clientes que nada têm que ver com o mau desempenho dos seus colaboradores de topo.

 

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Redação