O meu telemóvel toca. Fala um grande amigo, artista, colega de infância e de várias jornadas, e um grande ator de teatro: - Vai-se fazer uma longa-metragem em Santa Catarina e precisa-se de atores locais. És um potencial candidato… passa a informação para os demais colegas interessados.
Disse-me ainda que se trata de um filme que vai se chamar “Os dois Irmãos”, a ser realizado por Francisco Manso, tendo por base o romance homónimo do escritor Germano Almeida (prémio Camões 2018). Aliás, é o mesmo realizador do “Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo” (1997), também do referido escritor.
Posteriormente fico a saber que o futuro filme é uma co-produção entre Portugal e Cabo Verde, com o apoio do nosso Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas (MCIC) e Take 2000-Produções de Filme Lda.
Entre Praia, Assomada, Mindelo e Lisboa, são centenas de candidatos que se inscrevem para o casting. Porém, depois de várias sessões, são selecionados apenas cerca de 15 atores para as personagens necessárias. Mas, muitos técnicos locais também são contratados para o apoio logístico.
Há muito entusiasmo, uma vez que se trata da primeira longa-metragem realizada exclusivamente com atores cabo-verdianos.
Algum tempo depois, dá-se ao início dos preparativos (ensaios, identificação e marcações dos locais para as filmagens) e, por isso, sobe ainda mais a adrenalina no seio de todos os intervenientes.
Procede-se às assinaturas dos respetivos contratos entre os atores e a produtora, cujo cachet vai dos 10 a 500 mil escudos (ou mais). O valor é pago conforme o número das sessões gravadas e o peso dos atores. Na verdade, no elenco, há muitos pesos pesados.
O filme passa a ser destaque não só nos órgãos de comunicação social do país, como também de Portugal.
O Mindelinsite e Santiago Magazine escrevem que por altura do lançamento do projeto cinematográfico e da assinatura do acordo de parceria entre o governo de Cabo Verde e a produtora portuguesa – Take 2000, o Ministro da Cultura, Abraão Vicente, justificou que o investimento (…) terá um retorno financeiro para o Estado, que tem direito a 25% das receitas de bilheteira, e que isso irá beneficiar o país e o próprio ministério irá conseguir ter um fundo fixo para investir no audiovisual (2018).
O Diário de Notícias (dn.pt) afirma que o produtor “ José Mazeda tinha dito que, depois de Cabo Verde, a distribuição será feita em todo o mundo, com o objetivo de projetar o cinema e o audiovisual do arquipélago africano” (2019).
O mesmo jornal revela ainda que o filme, “(…) teve um custo de 22 milhões de escudos (200 mil euros), financiados pelo Governo de Cabo Verde” (6/1/19).
Mas o governo afirma que são apenas 20 milhões. Contudo, sabe-se que o custo total do filme ronda à volta de 120 milhões de escudos.
Após à conclusão das gravações e da pós-produção, todos aguardam, com ansiedade, pelo dia da ante-estreia que só veio a acontecer no dia 25 de janeiro de 2018, na Assembleia Nacional, 26 na praça da Assomada e 27 no Mindelo.
O palácio da Assembleia Nacional está completamente cheio para a ante-estreia mundial da longa-metragem. O realizador Francisco Manso sublinha as “condições excepcionais” para a produção audiovisual e os protagonistas auguram que este filme poderá vir a abrir um novo capítulo para o cinema nacional.
O ministro, por sua vez, justificando algumas críticas pelo investimento na referida produção, afirma que é uma aposta ganha por parte do ministério. Que o filme será uma ferramenta de marketing importante para a divulgação e promoção de Cabo Verde, das suas paisagens e da sua cultura e gentes. E que outro objetivo era, claro, valorizar a obra literária que inspirou a produção e o seu autor, Germano Almeida.
Todavia, o tempo vai passando e só no dia 16 de janeiro de 2019 (quase um ano depois), é que “Os Dois Irmãos” se estreia nos vários cinemas portugueses.
O público dá nota muito positiva não só pela qualidade do som e das imagens, como pelas atuações dos atores.
Até há a presença de alguns atores que viajam de Cabo Verde, supostamente por terem sido convidados individualmente.
Pelo dinheiro investido no filme e por se tratar, segundo o MCIC, de um projeto bastante ambicioso para o país, pensava-se que logo após às estreias em Portugal, o destino natural seria Cabo Verde. No entanto, passado já quase um ano, ninguém sabe do seu paradeiro, nem o destino que pretendem dar ao “Os Dois Irmãos”.
Sabe-se apenas que o referido filme teve uma passagem pelo Festival Internacional de Cinema de Montréal, a participação no Festival Caminhos do Cinema Português e um convite para o Toronto Black Film Festival, este, no passado mês de Fevereiro. Porém, ninguém informou aos atores e demais cabo-verdianos, em que posição ficou o filme, nem se conseguiu ganhar algum prémio.
Só se espera que o filme não esteja colocado já no baú do esquecimento à semelhança de outros também produzidos no país.
Aguarda-se!!!
Saudações artísticas e pedagógicas
Assomada, 17 de outubro de 2019.
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