É no mínimo estranho esta estratégia, quase que mórbida, dos contendores da arena política cabo-verdiana, em tentar surfar toda e qualquer onda do momento, que se julga poder trazer algum ganho político, por pequeno que seja, sem ter a mínima preocupação com os superiores interesses da Nação.
Isto a propósito de algumas reações à recente afirmação do PM de que a rota dos voos não é uma decisão administrativa ou política. Nalguns “pequenos sectores”, quase que cai o Carmo e a Trindade
No século XIX, um proeminente empresário brasileiro de nome Irineu Evangelista de Sousa, mais conhecido por Visconde de Mauá tinha uma frase célebre que dizia o seguinte:
“o melhor programa econômico de governo é não atrapalhar aqueles que produzem, investem, poupam, empregam, trabalham e consomem”
Os que agora estão “indignados” com a afirmação do PM, esquecem-se que, essencialmente, dois fatores contribuíram para colocar a Tacv em situação de falência, sem aviões e sem crédito junto de fornecedores:
(1) viabilidade comercial de uma companhia com custos excessivos e mercado reduzido. O Gov do MpD reestruturou a empresa e assumiu corajosamente a operacionalização do hub no Sal para criar mercado através da distribuição de passageiros nas rotas Américas - Europa e posteriormente África. Mercado é uma das condições para a rentabilidade da empresa. Não é por acaso que durante 15 anos o Gov do Paicv não conseguiu privatizar a Tacv, apesar de JMN ter anunciado várias vezes. Sem aumento da dimensão e rendimento do mercado, não há parceiros estratégicos na privatização. Não é pelo mercado interno pequeno (500 mil hab.) e de baixo rendimento (3.800 dólares de rendimento per capita) que aparecem interessados credíveis na privatização;
(2) interferências políticas na gestão e nas opções de negócios da empresa. O Gov Paicv determinou rotas por razões políticas. Todos estão lembrados da “aventura africana” que resultou em mais de dois milhões de prejuízos. Por sinal, não aprenderam a lição e querem forçar o atual Gov a impor à empresa decisões de natureza política mesmo que à revelia do processo de recuperação da empresa e da viabilidade comercial das rotas. Não explicitam no entanto, quem paga este tipo de decisões: (a) o país de uma forma geral, pois a situação em que deixaram a Tacv constitui um elevado risco fiscal com consequências no quadro macroeconômico do país e na sua credibilidade externa; (b) os contribuintes cabo-verdianos que arcam com as consequências da desestruturação da economia do país, quer através dos impostos, quer através do endividamento.
Finalizo deixando um outro pensamento, desta vez, do proeminente Estadista Britânico, Winston Churchill:
“A diferença entre um estadista e um demagogo é que este decide pensando nas próximas eleições, enquanto aquele decide pensando nas próximas gerações.”
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