O debate verdadeiro não é sobre se os jovens estão a sair porque alguns sempre sairão. O debate certo é: como estão a sair, por que estão a sair, e como podem ser melhor apoiados cá e lá fora. E nisso, o Acordo de Mobilidade é um passo em frente. Agora, o desafio é acompanhar esse avanço com políticas que assegurem dignidade na integração e oportunidades reais em casa. Repetir ideias falsas, sem contexto, não ajuda ninguém. Pior ainda, pode servir interesses contrários aos de Cabo Verde e dos próprios emigrantes. É tempo de falar com mais responsabilidade e com mais verdade, em jeito de respeito a uma célebre que a diáspora faz parte da nação global que é Cabo Verde.
Nos últimos meses, tem-se popularizado um discurso alarmista de que os jovens cabo-verdianos estão a abandonar o país em massa, supostamente por falta de oportunidades e por desespero face à situação interna. Esta narrativa, amplificada por setores da oposição, não passa de uma narrativa falsa que alimenta uma ideia de “fuga coletiva” da juventude uma ideia que, ao ser repetida, começa a parecer verdade, mas ó cabo-verdianos sabem que não é verdade.No entanto, os factos contam uma história diferente.
O novo acordo de Mobilidade CPLP é um ganho estratégico, não uma porta aberta sem controlo como o PAICV tenta vender .
É verdade que o novo Acordo de Mobilidade da CPLP facilitou processos de circulação entre países de língua portuguesa. E é igualmente verdade que este acordo representou um dos maiores ganhos diplomáticos da governação de Ulisses Correia e Silva, fruto de uma liderança eficaz na presidência cabo-verdiana da CPLP. Pela primeira vez, criou-se um enquadramento formal para a mobilidade com regras mais claras, maior cooperação consular e canais institucionais de confiança, além da facilidade de circulação de pessoas principalmente ( Doentes em situação de evacuação, Estudantes universitários, investigadores e cientistas)
Mas daí a concluir que Portugal tem as “portas escancaradas” vai um longo caminho. Portugal é membro do espaço Schengen, o que significa que continua sujeito a regras de imigração e segurança rigorosas da União Europeia. A entrada no país ainda requer visto, contratos, autorizações, e o histórico anterior ao acordo mostra que os pedidos de visto por parte de cabo-verdianos eram frequentemente recusados um problema que, em parte, motivou a criação do novo regime, também de realçar que era uma das maiores reclamações dos Cabo-verdianos no inicio da legislatura de Ulisses .
E aqui é importante dizer com clareza: repetir que Portugal tem as portas escancaradas é fazer o jogo da extrema-direita portuguesa, e ajudar-lhes na sua narrativa, fazendo um desserviço aos cabo-verdianos. São esses partidos que aproveitam este tipo de discurso para alimentar o medo, justificar políticas anti-imigração e atacar os imigrantes da CPLP, inclusive os cabo-verdianos. É uma irresponsabilidade política e, mais do que isso, um perigo real para quem emigra de forma legal e digna.
Emigrar não é escapar e muito menos falhar
A migração jovem cabo-verdiana existe, mas está longe de ser um êxodo. O que vemos é uma mobilidade seletiva, estratégica e mais qualificada. Muitos jovens partem com planos bem definidos, com formações técnicas ou superiores, adquiridas graças a instituições como o IEFP de Cabo Verde e outros programas governamentais e de apoio a formação e capacitação jovem. A migração de hoje não é a mesma de décadas atrás é mais preparada, mais informada, e frequentemente ligada a redes de cooperação, estágios, bolsas e intercâmbios.
O desafio maior agora não é a saída, mas a integração dos mesmos em portugal seu reconhecimento de diplomas, a adaptação ao mercado de trabalho português, o acesso justo à formação contínua. É nesta fase que a ação conjunta entre governos, instituições de ensino e comunidades da diáspora precisa de se intensificar.
Ficar também é um ato de coragem
É igualmente importante reconhecer os jovens que escolhem ficar em Cabo Verde aqueles que enfrentam dificuldades, mas apostam no país, que recorrem a créditos a bolsas na área digital ou arriscam a serem empreendedores. A narrativa da “fuga” invisibiliza estas histórias e transmite uma ideia perigosa: a de que só fora do arquipélago é possível ter futuro. Isso simplesmente não é verdade.
Cabo Verde precisa de continuar a criar condições para que a juventude tenha razões para ficar: mais emprego qualificado, mais inovação, mais cultura e mais confiança. Mas também precisa de um discurso político responsável sério é coerente, que não transforme conquistas em crises fictícias, nem alimente medos que desmotivam os que cá permanecem a construir o futuro.
Por isso convido a oposição a embarcarem na linha da responsabilidade e do debate sério e produtivo
O debate verdadeiro não é sobre se os jovens estão a sair porque alguns sempre sairão. O debate certo é: como estão a sair, por que estão a sair, e como podem ser melhor apoiados cá e lá fora. E nisso, o Acordo de Mobilidade é um passo em frente. Agora, o desafio é acompanhar esse avanço com políticas que assegurem dignidade na integração e oportunidades reais em casa.
Repetir ideias falsas, sem contexto, não ajuda ninguém. Pior ainda, pode servir interesses contrários aos de Cabo Verde e dos próprios emigrantes. É tempo de falar com mais responsabilidade e com mais verdade, em jeito de respeito a uma célebre que a diáspora faz parte da nação global que é Cabo Verde.
Comentários
Samuel Doe, 5 de Jun de 2025
Mais um cristão novo a funcionar como prolongamento do braço colonial a fazer pregões como se de um feirante se trata. Os graúdos estão escondidos e enviam a caça miuda.
Responder
O seu comentário foi registado com sucesso.
Zé P., 5 de Jun de 2025
A população cabo verdiana está a diminuir, empresas já começam a reclamar de mão de obra, e o governo assume a necessidade de talvez ter de importá-la do outros países da região. Considerando que eu não acho que a nossa juventude quer se resumir a mão de obra, ou pelo menos, não a mesmas condições que vêm que as pessoas passam aqui, sinceramente entendo que tomem a decisão de imigrar e seguir o sonho de uma vida hipotéticamente melhor lá fora.
Zé P., 5 de Jun de 2025
Fábrica e industrialização por todo o país também não sei se é a solução, fábricas pelo que acompanho noutros países se generalizam aonde existe mão de obra diversa, barrata, e não muito qualificada, portanto, acho apenas uma solução preguiçosa, e possívelmente não a melhor a longo tempo considerando os possíveis processos de automação que serão avançados futuramente, portanto, só uma nota para quem quer pensar a questão do emprego para a juventude.Zé P., 5 de Jun de 2025
Agora voltando ao seu texto, me parece mais uma tentativa de "image washing" do governo que também age preguiçosamente. Para desenvolvimento de um país não é preciso somente de recursos monetários avulsos (agradecemos muito a contribuição de emigrantes), mas também de expertise, geração de conhecimento interno, e um bom nível de produtividade (importante para garantir a previdência a longo prazo também).Zé P., 5 de Jun de 2025
E ninguém nunca sugeriu que se bloquiasse a emigração (isso é um desvio de discurso comum para confundir as pessoas), não ví ninguém que tenha o mínimo de responsabilidade sugerir isso, as intervensões são no nível de garantir que as pessoas possam dar cada vez mais o seu contributo direto para o desenvolvimento do país contribuindo com expertise, know-how, para além de dinheiro que também é importante.Zé P., 5 de Jun de 2025
Portanto é preciso de fato responsabilidade, e digo mais, assumamos e tratemos os problemas nacionais como "adultos na sala", e não tentar fazer desvios barratos para tentar fingir que um problema que está claro para todos (zonas e cidades que vão ficando vazias) não existe, pois isso é insensato e contribui para a ideia que os políticos estão nem aí para os problemas das populações.Responder
O seu comentário foi registado com sucesso.
analista social, 5 de Jun de 2025
Análise ou investigação sem fontes ou dados científicos é mero ato de escrita invulgar. Aconselhava o Autor a fazer trabalho de Campo, indo a procura de informações confiáveis junto da INE, Centro de Emprego CV, VLS, Centro Comum de Vistos, Embaixada de Portugal em Cabo-Verde e AIMA em Portugal. Tendo esses dados estaria habilitado e em condições de escrever um artigo que se quer credível. Contras fatos não há argumentos os cenários são cada vez mais visíveis, ao olho nu.
Responder
O seu comentário foi registado com sucesso.
analista social, 5 de Jun de 2025
Análise ou investigação sem fontes ou dados científicos é mero ato de escrita invulgar. Aconselhava o Autor a fazer trabalho de Campo, indo a procura de informações confiáveis junto da INE, Centro de Emprego CV, VLS, Centro Comum de Vistos, Embaixada de Portugal em Cabo-Verde e AIMA em Portugal. Tendo esses dados estaria habilitado e em condições de escrever um artigo que se quer credível. Contras fatos não há argumentos os cenários são cada vez mais visíveis, ao olho nu.
Responder
O seu comentário foi registado com sucesso.
Dias Landim, 5 de Jun de 2025
Não sejamos generalistaas, dizer que" o povo inteiro de Caboverde", sr. Jorge Lopes, "precisa de escape" é puro exagero da realidade.
Nem todos os Caboverdianos imigram por escape mas porque sim,porque querem,em todo o mundo existe imigração e Cabo verde não seria uma exceção.
Certamente que a economia de cabo verde não é uma das melhores, claramente é preciso uma mudança, muitas mudanças, eu apelaria ao governo que parasse um minuto para pensar nos jovens do seu país...
Responder
O seu comentário foi registado com sucesso.
Dias Landim, 5 de Jun de 2025
Não sejamos generalistaas, dizer que" o povo inteiro de Caboverde", sr. Jorge Lopes, "precisa de escape" é puro exagero da realidade.
Nem todos os Caboverdianos imigram por escape mas porque sim,porque querem,em todo o mundo existe imigração e Cabo verde não seria uma exceção.
Certamente que a economia de cabo verde não é uma das melhores, claramente é preciso uma mudança, muitas mudanças, eu apelaria ao governo que parasse um minuto para pensar nos jovens do seu país...
Jorge Lopes, 5 de Jun de 2025
Sr. Dias Landim,agradeço o apelo ao bom senso… mas vamos lá com calma. Quando eu disse “o povo inteiro”, não estava a redigir um relatório do INE. Estava a usar uma expressão clara para uma realidade generalizada, que só não vê quem vive na bolha. É óbvio que há quem emigre por escolha. Mas quem conhece bairro, linha e estrada, sabe que a maioria vai porque já tentou tudo e nada pegou.
Jorge Lopes, 5 de Jun de 2025
Ir “porque sim” é coisa de quem tem cartão dourado e segunda residência, não de quem dorme à espera do visto como quem espera um milagre. Portanto, sim: o povo precisa de escape. Nem que seja só para lembrar que ainda há ar do outro lado da porta fechada.Mas vá lá, gostei da parte em que apela ao governo para pensar nos jovens. Pena é que o governo ache que “juventude” é só tema para campanha.Responder
O seu comentário foi registado com sucesso.
Jorge Lopes, 5 de Jun de 2025
Meu caro, o teu texto não é só desinformação, é desonestidade intelectual. Sob o disfarce de “análise”, é o típico exemplo claro de como se tenta normalizar a falência de políticas internas, atirando areia para os olhos do povo com discursos sobre “oportunidades estratégicas” e “mobilidade CPLP”. É o típico exercício de quem usa palavras bonitas para esconder a verdade desconfortável. É preciso chamar as coisas pelo nome.
Jorge Lopes, 5 de Jun de 2025
Dizer que é preciso “um debate honesto e construtivo” enquanto se escreve um artigo a negar a própria realidade da fuga massiva de jovens é uma contradição grotesca. Não se pode pedir honestidade e, ao mesmo tempo, mascarar o desespero com eufemismos diplomáticos. A mobilidade não está a ser uma escolha. Está a ser uma fuga. E uma fuga forçada pela incapacidade do Estado em criar horizontes para a juventude que forma e depois abandona.Jorge Lopes, 5 de Jun de 2025
Os jovens não estão a sair de Cabo Verde porque se sentem “motivados” a explorar novos mercados. Estão a sair porque estão fartos de andar com diplomas no bolso a viver de biscates, estágios eternos e promessas vazias. Estão a sair porque o país não lhes oferece futuro. Essa é a realidade crua. E quem se recusa a reconhecê-la ou está fora da realidade ou está comprometido com o mesmo sistema que continua a reproduzir este ciclo de desilusão.Jorge Lopes, 5 de Jun de 2025
Reduzir este êxodo juvenil a “narrativas exageradas” é mais do que insensibilidade — é cumplicidade com um sistema que falhou. Falar da CPLP como “ferramenta útil” sem confrontar o facto de que o país despreza a sua juventude qualificada é tentar encobrir o sol com a peneira. Não se faz desenvolvimento a fingir que não há crise. E não se protege uma geração com artigos de opinião que tratam a miséria como mito urbano.Jorge Lopes, 5 de Jun de 2025
O autor do artigo demonstra, no mínimo, uma falta de contacto com o terreno, e no pior dos casos, uma desonestidade intelectual perigosa, típica de quem já desistiu de exigir mais ao país — e agora quer convencer os outros a fazer o mesmo. Se há algo que Cabo Verde precisa, é de coragem para assumir o colapso silencioso que está a empurrar os jovens para fora, e vergonha na cara para parar de maquilhar estatísticas com retórica de gabinete.Jorge Lopes, 5 de Jun de 2025
A CPLP é um escape, sim. Mas quando um povo inteiro precisa de escape, a casa já está a arder. E há quem continue a fingir que está tudo bem — só porque não sente o fumo. Essa indiferença não é neutra, é cúmplice. Se queremos um futuro digno, é preciso romper com a narrativa de que emigrar é sonho, quando para muitos é o último recurso antes de se afundarem no desalento. O tempo da ilusão acabou. Agora é tempo de enfrentar a verdade.Dias Landim, 5 de Jun de 2025
Talvez, a migração seja um motivo de fuga por parte de muitos Caboverdianos como forma de melhorar a sua situação, por falta de oportunidades.Talvez sim, talvez seja este motivo a fome e o choque que muitos Caboverdianos sofrem ao terminarem um curso e saber que não vai encontrar um emprego, que todo o esforço foi uma "perda de tempo ".
Caboverde, claramente precisa investir mais nos jovens, investir mais em empego para para os mesmo.
Mas não sejamos generalistas....
analista social, 5 de Jun de 2025
O artigo demonstra, no mínimo a falta de imparcialidade, como é possível pedir um debate sério sem se basear em dados estatísticos? Ao levar o assunto apenas para o campo da politica e da cor partidária, automaticamente o autor descredibiliza todo o seu artigo que se pretende defender, baseados em textos e palavras bonitas. O Autor deste artigo deveria em primeiro lugar socorrer dos dados reais e estatísticos, deve ser o menos demonstrar ser o mais imparcial possível nas suas análise..analista social, 5 de Jun de 2025
Era urgente que fosse realizado um inquérito para apurar o porquê dos jovens estão a querer sair de Cabo-Verde. Outros, mesmo pagando fortunas e não importam, mesmo assim pretende sair do que ficar aqui. Mesmo correndo risco de ficarem no desemprego e mesmo sem onde morar por vezes, os jovens preferem ir partindo para emigração do que ficar em Cabo-Verde. Isto tudo, demonstra que algo está errado ou não vai bem a nível interno, mas os "Cegos" não querem ver ou analisar.Dias Landim, 5 de Jun de 2025
Não vejo aqui qualquer contradição, o autor do artigo apenas revela o seu ponto de vista, o que poderá estar errado(também poderrá não estar), existem pontos de vistas diferentes,e a saída dos jovens de Cabo verde também é provocada por motivos diferentes... Penso que não se pode afirmar nada a não ser que sejam realizados estudos estatísticos onde os dados poderão falar por nós,e só assim adotar. atitudes,medidas de forma a melhorar o que precisa ser mudado ....Responder
O seu comentário foi registado com sucesso.