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A [des]motivação do pessoal no mercado laboral cabo-verdiano: A fuga de cérebros como uma ameaça contínua   
Ponto de Vista

A [des]motivação do pessoal no mercado laboral cabo-verdiano: A fuga de cérebros como uma ameaça contínua  

...o incentivo à motivação de funcionários poderá constituir a chave do sucesso, quando, pelo contrário, a desmotivação trará ou provocará o caus social, podendo traduzir na consequente instabilidade socioeconómica nacional. Em nome da verdade e para o bem deste país! Valorizemos, irmãos, os nossos recursos humanos!

"[...] A principal causa de desmotivação é ausência de reconhecimento, quando o profissional não é objeto de gratidão pelo que faz. [...] Elogie em público e corrija em particular. Um sábio orienta sem ofender, e ensina sem humilhar." Mário Cortella, 1954-presente

Nesta que me constitui mais uma oportunidade em matéria de emissão da minha opinião, voltada para uma contribuição adicional, face ao esclarecimento da opinião pública, pretendo posicionar-me sobre um assunto polémico, sendo caraterístico da sociedade cabo-verdiana, em nome e em defesa do desenvolvimento deste maravilhoso país [como não me canso de repetir], visando a única e exclusiva ambição do progresso ou transformação socioeconómica nacional. Trata-se, desta vez, do que podemos chamar de “desmotivação de funcionários”, verificada a nível de diferentes setores administrativos, evitando apenas falar da administração pública [cabo-verdiana], conforme se traduz o título acima exposto. Medito, particularmente, nesta questão, visando exclusivamente a melhoria do estado de coisas. E, devo dizer que não paira, mesmo, nesta e assim como em qualquer das minhas discussões, nenhuma gota ideológica, o que significa que não há, aqui, interesses partidários nenhuns. Tudo está e tem sido dito ou defendido em prol de desenvolvimento desta nação. Até porque, quem conhece Silvino Batalha, sabe que não se está perante um lambe botas à conquista de algum espaço ou protagonismo nas cenas política e administrativa nacional, visto que apesar dos pesares, continuo, ainda, acreditando no poder da meritocracia. O mais importante no exercício de funções a que nos incumbem exercer, deve ser a conquista do savoir faire [ou seja, do conhecimento] — o nosso mérito e, devemos construi-lo, diariamente, não só nas nossas relações de trabalho, mas também no ambiente académico, bem como nas relações de convivência com o próximo. É não deixar de os fazer em qualquer que seja circunstância e, acreditar em nós mesmos, que Deus [o Bom Senhor e Omnipotente] venha-nos, deveras, garantir o merecido espaço, no contexto social e administrativo de desenvolvimento, independentemente do âmbito ideológico das coisas.

Irmãos, às colocações supra feitas, alerto e lembro-vos, uma vez mais que, a politização não faz escola nem neste e nem noutros artigos da minha autoria, mas sim, tenho o cuidado de empreender [ou seja, apresentar] meras sugestões de desenvolvimento, visando tão-somente o resgate de valores supremos desta nação, tendo a ver com a redução de riscos de atropelo à sobrevivência do próprio Estado de direito democrático. Veja que, normalmente a gravidade da situação só se começa a sentir, depois de um determinado tempo, chegando, por vezes, a ocorrer ao fim de década (s) depois. Isto, porque como é evidente, a politização e consequente desmotivação do pessoal técnico, é inimiga de qualquer empresa e instituições assim como de uma nação, de um modo geral, podendo tornar-se um cancro, quando esta é aliada à falta de maturidade política, só sendo evitada, perante a preferência de assessores capacitados e responsáveis, munindo de formações e experiências adequadas ao contexto laboral onde se enquadra [ou seja, do funcionamento de determinadas instituições e/ou empresas].

Ficam imprimidas essas considerações iniciais e, prometo também ser breve nas linhas que se seguem. Diria que o futuro deste país poderá estar em causa, caso os nossos dirigentes e a sociedade civil, de um modo geral, não colocarem mãos à obra, em defesa de interesses do povo ou, mesmo, do próprio Estado. Caso contrário, tudo o que existe neste país, tendo sido construído, da independência nacional aos nossos dias, isto é [doravante substituído por sua sigla “ie”] por entre as duas repúblicas (ie, da primeira de 1975-90 à segunda de 1991-presente) pode deitar, irmãos, por água-a baixo. Penso que cada um de nós, ie, cada um dos homens e mulheres desta terra, tem algo a dizer sobre esse aspeto. Não podemos dizer e nos enganar que estamos bem, num quadro de debilidade social, pelo mal-estar generalizado por parte de agentes [funcionários] afetos aos diferentes setores administrativos nacionais, em decorrência da falta de motivação laboral; não podemos dizer ou nos enganar que estamos vivendo num país de maravilhas, se as coisas não estão a funcionar, adequadamente e, não podemos dizer que estamos bem, se estamos a deparar com funcionários a viver com viros constantes de ansiedade, limitando seus sonhos e debilitando, cada vez mais, suas saúdes física e mental, comprometendo a estabilidade de suas famílias e ameaçando a garantia em termos de concretização de seus sonhos, assim como o [futuro] de seus filhos. Tudo isso, irmãos, sem falar da crescente ameaça face à instabilidade socioeconómica de suas famílias, no global. Trata-se, sem dúvida, do reflexo de salários insignificantes, reinantes em diferentes setores administrativos e coisas do género, o que reflete na insatisfação pessoal, estando aliada, muita das vezes, aos conflitos laborais, provocadas tanto por falta de motivação de recursos humanos, quanto pelas respostas ineficientes às suas demandas, agravando-se ainda, mediante divergências ou desencontros de foro ideológico, entre outras questões pouco dignas de abordagem funcional, no ambiente laboral cabo-verdiano.

Dizer, no entanto, que mesmo verificando que estamos sendo atingidos por alguma espécie de injustiça social, a nível do mundo laboral, é bom procurar sentirmo-nos sempre forte, evitando dar sinais de fraqueza e, reclamar [ie questionar] o nosso direito, sobretudo quando sentimos lesados em certos aspetos. Porém sempre, sem nunca tentarmos ariscar em formas algumas de represálias, porque podemos incorrer no risco de perder tudo ou grande parte de nossas conquistas, ou seja, dos direitos adquiridos, em resultado de experiências [de trabalho] acumuladas. E, para já, nunca podemos dar os nossos ouvidos às tentativas de humiliação por parte dos maiores beneficiários do sistema organizacional, ao depararmos com comportamentos pouco éticos. Devemos, pelo contrário, deixar transparecer a ideia de uma autoestima elevada, não obstante os choques existentes que, por vezes, deixa o indivíduo em situação vulnerável. São, infelizmente, situações que ocorrem com maior frequência, a nível da Administração Pública, onde costuma, infelizmente, haver uma excessiva partidarização, mormente nas vésperas de eleições eleitorais – algo que não gostaríamos que fizesse escola neste novo milénio [ou seja, no Século XXI], o que pode colocar em causa o normal funcionamento de instituições da república, estorvando, deste modo, o desenvolvimento harmonioso deste país.

Falando, especificamente da questão remuneratória [ie, salarial] nacional, apraz-me a título exemplificativo, partilhar convosco uma interessante impressão advinda ao-de-fora, sobre o salário, vigente a nível de administrações e institutos públicos cabo-verdianos. Trata-se de uma cidadã estrangeira e mais concretamente, uma empresária [singapurense], radicada em Nova York que tive o privilegio de conhecer e trocar impressões, pela rede social, tendo me falado inerente às “excelentes qualidades de nossos recursos humanos”, o que me fez sentir elogiado, por essa impressão que ela disse ter de Cabo Verde. Ela disse, por outras palavras que, o nosso país goza de recursos humanos sui generi, ie, competentes e muito bem qualificados profissional e academicamente, munindo de um salário invejoso, no contexto salarial [laboral] africano, comparativamente, apesar do lugar que ocupa o país na esfera geoeconómica mundial, quando, embora seja, o menos positivo, segundo a mesma fonte, “há, no entanto, uma grande disparidade salarial […]” [Anónimo]. Ela estava munida de informações sobre o facto de que um PCA [Presidente do Concelho de Administração] em CV chega a beneficiar de um salário chorudo [de por vezes USD 10.000 = 1000 contos] do equivalente a um CEO [Chief Executive Officer = Diretor Executivo] nos países altamente industrializados, como os EUA, quando [enquanto que] o salário mínimo nacional é insignificante. Eu não podia dizer-lhe que estava errado, porque também não esteve longe da [verdade] realidade nacional, ou seja, é um facto. E não estou aqui para condenar aqueles que são bem remunerados, mas sim para defender uma justiça salarial, quer seja a nível de setores públicos, quer privados, ie, um salário justo para todo o sistema laboral cabo-verdiano. Sim, irmãos, sou partidário de um vencimento digno, sob a garantia de estabilidade laboral, onde haja, principalmente, incentivo e motivação do quadro pessoal, para lembrarmos da máxima de Mário Sérgio Cortella, expresso no início deste texto. Seria bom considerarmos a grande verdade, segundo a qual, sem a necessária motivação de nossos quadros [Recursos Humanos] e sem um conceito salarial adequado, poderá haver o risco constante de fuga de cérebros. Estamos a falar, mesmo, de quadros jovens, o que implicará na tendência do envelhecimento precoce da população cabo-verdiana, podendo repercutir negativamente, como é óbvio, a nível do funcionamento da máquina administrativa nacional. Se não, perguntemos: Quem irá garantir a estabilidade fiscal e o consequente pagamento de reformas de aposentaria e/ou pensão de sobrevivência nos próximos 20 ou 30 anos? Quem? Claro que são os funcionários afetos a diferentes setores administrativos, na sua maioria, os jovens quadros que, se calhar, já não estará presente em território nacional, em decorrência da ausência de políticas direcionadas em torno da motivação do pessoal [ou seja, dos funcionários].

Devo dizer que, não era a minha intenção fazer referência a nenhuma instituição nesta reflexão, mas me veio pela cabeça o caso da TACV Cabo Verde Airline [embora essa referência já tivesse sido figurado, a priori, no rascunho] – a companhia de bandeira nacional e primeira que esteve na minha então ambição do primeiro emprego, a quando da então conclusão do ano 0 [Zero]. A TACV figurou-se no sonho de todos durante décadas. Todavia, esta que infelizmente está perdendo, paulatinamente o lugar que havia ocupado, não só no seio da administração pública cabo-verdiana, mas também no do mercado internacional de tráfico aéreo. Perguntemos, o que terá atrapalhado a sua performance qualitativa, ie, a solidez dessa empresa? o seu desenvolvimento?; A sua capacidade competitiva no ranking de transportes aéreos internacionais? Terá sido a falta de motivação de seus quadros ou ineficiência em matéria de gerenciamento? Neste sentido, entendo ser bem analisar as considerações tecidas por um empresário [São-vicentino] nacional, conhecido por Alcindo Amado, disponível neste jornal digital [Vide, p.f., os detalhes no site: https://santiagomagazine.cv/ponto-de-vista/manifesta-negligencia-na-gestao-dos-tacvcabo-verde-airlines, acesso a 17.07.022] e, tentar ver se, de facto, terá ou não o governo falhado nesse sentido. Estamos a falar de um cidadão que disse já ter contribuído, só durante este ano económico, com mais de 1 milhão de escudos em imposto, para os cofres do Estado. Por isso, dou-lhe razão e, vejo-me no direito de exortar o governo a reconsiderar a política para a presente empresa, empenhando na recuperação da imagem e do prestígio conquistado no passado, como já referido atrás, devolvendo a autoestima, sobretudo de seus funcionários que labutam dia e noite, em prol dos desafios globais dessa empresa e de toda nação, em geral. Se nada for feito nesse sentido, a deserção generalizada deste e de outros quadros será inevitável, podendo contribuir para a desestruturação demográfica nos próximos tempos. 

Portanto, o incentivo à motivação de funcionários poderá constituir a chave do sucesso, quando, pelo contrário, a desmotivação trará ou provocará o caus social, podendo traduzir na consequente instabilidade socioeconómica nacional. Em nome da verdade e para o bem deste país! Valorizemos, irmãos, os nossos recursos humanos!

Em 17 de Julho de 2022

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