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São Domingos. Manuel de Candinho acusa edil de centralismo e pede desprofissionalização como vereador
Política

São Domingos. Manuel de Candinho acusa edil de centralismo e pede desprofissionalização como vereador

Em causa, “desvios de fundos da Cultura”, “falta de diálogo” e centralismo, afirma Manuel de Candinho, que exigiu que o seu salário passe a ser usado para financiar a Cultura. Clemente Garcia reage: “talvez ele não tenha tempo (para a Câmara)”.

Pouco mais de um ano após a tomada de posse da nova equipa camarária em São Domingos, as relações entre o presidente do município, Clemente Garcia, e do vereador do pelouro da Cultura, Património e Turismo, Manual Pereira, mais conhecido por Manuel de Candinho, azedaram a ponto de o vereador pedir a sua desprofissionalização imediata.

Em carta endereçada ao presidente da Câmara, no passado dia 16 deste mês, e que Santiago Magazine teve acesso, Manuel de Candinho alega falta de meios e, sobretudo, “desvios dos objectivos para a Cultura. “O presidente sabe que é impossível implementar ideias sem que haja o mínimo de meios financeiros, por mais criativo que se seja; o presidente sabe que a Cultura ficou inviabilizada completamente com o desvio de objectivo sem prévia concertação com os vereadores para análise em relação ao protocolo com a CV Telecom, protocolo esse que eu como vereador sequer conheço”, denuncia o músico.

O protocolo a que o vereador se refere tem a ver com um suposto contrato de financiamento anual da CVT para todos os eventos culturais no concelho de São Domingos até um montante de 9 mil contos, e que a CM terá utilizado para comprar um novo autocarro de transporte escolar, entretanto, apresentado à comunicação social como sendo oferta da Telecom. “Ele sabe que a cultura não tem um centavo no Orçamento Municipal. Entretanto, tirou 6 mil contos dessa verba disponibilizada pela CVT para dinamizar a Cultura para comprar um autocarro, e sem informar a nenhum vereador. Só soube disso quando a CVT me solicitou a agenda cultural para as festas de Nhu Febreru (2 de Fevereiro) dizendo que têm um protocolo com a Câmara em como essa empresa é patrocinadora oficial de todos os eventos culturais em São Domingos”, explica o vereador ao Santiago Magazine, notando que “há toda uma jogada para prejudicar São Domingos”.

Manuel de Candinho acusa Clemente Garcia de querer centralizar tudo e desconfiar de tudo. “Veja, enquanto vereador da Cultura marquei audiência com com o primeiro-ministro, há duas semanas, para lhe expor os meus projectos culturais para o concelho, a ver se conseguimos outras formas de financiamento. Só que ele (presidente da CM) ficou irritado porque, eventualmente, pensou que fui fazer queixinhas. Decidiu então reunir de urgência os vereadores para me dizer à frente de todos que não podia ter feito aquilo sem o informar e, mais grave, que estou na Câmara sem fazer nada, quando ele é que não me dá condições e nem permite que busque parceiros por minha conta e risco”.

E acrescenta: “se não há verba para a Cultura e todos os meus projectos não passam ao crivo do senhor presidente que acha inclusive que estou na Câmara sem fazer nada, então não se justifica a minha profissionalização como vereador”. Aliás, já na carta a pedir a sua desprofissionalização, Manuel de Candinho sugere que o seu salário seja aplicado para financiar a Cultura no município. “Já que não há meios para a dinâmica cultural, não justifica a minha profissionalização enquanto vereador. Peço, encarecidamente, que o valor gasto comigo enquanto vereador a tempo inteiro seja reservado ou revertido às actividades culturais e no apoio às boas propostas que os jovens e os demais munícipes vem trazendo”, anotou na missiva.

Pelo menos o pedido de desprofissionalização já foi aceite pelo presidente da Câmara, através de um despacho com data de 18 de Janeiro. No mesmo documento, Clemente Garcia informa que o Pelouro da Cultura, Património e Turismo, antes a cargo de Manuel de Candinho, passem, a partir de 1 de Fevereiro para o vereador Américo Lima, em acumulação com o de Assuntos Administrativos, Finanças, Oficina, saneamento e Desporto.

“Ou seja, eu pedi apenas a desprofissionalização, entretanto o presidente sozinho, isto é, sem ouvir a Assembleia Municipal, decide retirar-me pastas. Quer dizer que sou vereador sem nenhum Pelouro e, eventualmente, sem assento nas reuniões da Câmara”, ironiza.

Contactado por Santiago Magazine, Clemente Garcia, que está em Portugal, prometeu falar sobre o assunto quando regressar. Ainda assim deu tempo para confirmar que o vereador é que pediu a sua desprofissionalização e, ao mesmo tempo, desmentir Manuel de Candinho. “Não houve nenhum desvio (de objectivos para a cultura). Talvez ele não tenha tempo e podes comprovar”, atirou, aludindo, supostamente, ao facto de o vereador ser um dos elementos do grupo musical Bulimundo e estar muitas vezes em digressões pelo mundo, além de actuar em concertos pessoais no país e no estrangeiro.

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Redação