O Presidente cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, mostrou hoje “estupefação, incómodo e tristeza” pelas declarações do autarca da Praia, Francisco Carvalho, que acusou o chefe de Estado de ser parte de “concertação” para atacar a Câmara Municipal da Praia.
“Foi com um misto de estupefação, incómodo e tristeza que tomámos conhecimento das declarações do senhor presidente da Câmara Municipal da Praia, no passado dia 08 de agosto, segundo as quais o “Presidente da República é parte de ‘concertação’ para atacar a Câmara da Praia”, reagiu o chefe de Estado cabo-verdiano, numa nota.
A reação de Jorge Carlos Fonseca surge um dia após o presidente da Câmara Municipal da Praia, Francisco Carvalho, ter acusado o chefe de Estado de ser parte de “concertação” para atacar a Câmara Municipal da Praia.
“Eu acho que, neste momento, há claramente uma concertação entre vários atores. Estamos a falar de responsáveis políticos a nível da concelhia do MpD [Movimento para a Democracia], estamos a falar de deputados da Nação do MpD, que estão concertados para atacarem a Câmara Municipal da Praia, porque não aceitam o resultado que saiu das urnas”, disse o autarca, citado pela imprensa cabo-verdiana.
Em causa está um encontro promovido pelo Presidente da República com os profissionais do setor de saneamento básico da ilha de Santiago, que contou com a presença de oito dos nove municípios da ilha, exceto a Praia, segundo Francisco Carvalho.
“Achamos que a Presidência da República não podia, de forma nenhuma, entrar neste tipo de concertações porque os resultados das eleições autárquicas têm que ser respeitados, podem não agradar às pessoas, mas têm de ser respeitados, assim é que manda a democracia, de maneira que as instituições devem aceitar estes resultados”, acrescentou o autarca.
O Presidente da República mostrou estar surpreso com as declarações, explicando que as relações com o autarca do maior município cabo-verdiano são cordiais, prova disso é que Jorge Carlos Fonseca felicitou Francisco Carvalho pessoalmente no dia seguinte às eleições autárquicas e recebeu o autarca para uma visita de cortesia.
Jorge Carlos Fonseca salientou ainda que, normalmente, reúne-se com camponeses, jovens, políticos, sindicalistas, empresários, homens de cultura, religiosos, pescadores, lavadores de carro, universitários, imigrantes, entre outros.
Para isso, para o mais alto magistrado da Nação cabo-verdiana, “há qualquer coisa que escapa e que gera, naturalmente, estranheza e perplexidade”.
“Não obstante a profunda tristeza e o embaraço que episódios desta natureza provocam, reiteramos que as portas do Palácio Presidencial e todos os outros canais de comunicação manter-se-ão permanentemente abertos para o senhor presidente da Câmara Municipal da Praia, que foi escolhido legitimamente pela maioria dos eleitores do município”, garantiu Jorge Carlos Fonseca.
Francisco Carvalho foi eleito nas autárquicas de outubro último pelas listas do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), partido na oposição governamental, que por sua vez é suportado pelo MpD, que desde 2008 tinha liderado os destinos da Câmara Municipal da Praia.
Jorge Carlos Fonseca vai terminar em outubro o seu segundo e último mandato de cinco anos cada permitido por lei como Presidente da República, em que foi apoiado pelo MpD.
A comissão política concelhia da Praia do MpD marcou para quarta-feira uma conferência de imprensa para reagir às “infelizes e gravíssimas declarações” do presidente da Câmara Municipal da Praia.
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