Política

O engenheiro Domingos Gomes Semedo vai concorrer como independente à presidência da Câmara Municipal do Tarrafal de Santiago. Militante do MpD, Emilio Tita, como é conhecido, justifica este projecto autárquico com o facto de Tarrafal ser “um bastião do MpD” e de este partido ter utilizado “sempre os eleitores a fim de ascender ao poder para depois os abandonar à própria sorte”. “E em todas as pesquisas obtive maior aprovação dos eleitores”, sublinha.

O MpD ainda não disse oficialmente quem vai ser o seu cabeça-de-lista nas eleições municipais deste ano no Tarrafal de Santiago, mas a disputa interna está ao rubro. O actual presidente da Câmara, José Soares, já não goza de muita aceitação no seio do partido local, que prefere Celso Ribeiro, engenheiro do Instituto Nacional de Esatística, ou o deputado nacional, também de nome José Soares, para o cargo. Ao que consta, o actual edil já será carta fora do baralho para a Comissão Autárquica do MpD. 

Entretanto, nem essas propostas alternativas parecem colher o apoio de muitos militantes do partido no concelho mais a norte de Santiago, que preferem outra personalidade a liderar os destinos do histórico e turístico Tarrafal. Um deles é Domingos Gomes Semedo, engenheiro informático na Caixa Económica de Cabo Verde. Agastado com a forma como o seu partido vem gerindo o município e “decepcionado” com o processo de escolha do cabeça de lista, Emilio Tita, como é conhecido, decidiu avançar com uma candidatura independente à Câmara Municipal do Tarrafal, posição que faz transparecer fraturas expostas no partido local.

Na verdade, Semedo já havia mostrado a sua disponibilidade para concorrer à autarquia tarrafalense, com apoio do MpD, desde Abril de 2019, tendo inclusive anunciado publicamente essa sua intenção na sua página do facebook. Agora, decide formalizar (pelos menos para o público) a sua candidatura como independente.

Segundo uma carta de anúncio de candidatura enviada esta terça-feira, 2, com exclusividade ao Santiago Magazine, Domingos Semedo aponta uma série de razões pelas quais optou por empreender uma candidatura independente à CM do Tarrafal, com o lema “Tarrafal é di nós. Nu trabadjal!”. No documento, este engenheiro informático da Caixa Económica de Cabo Verde diz por exemplo que “analisando o desenvolvimento do Concelho do Tarrafal nestes quarenta e cinco anos de independência e, traçando uma visão panorâmica extensiva aos sucessivos governos Centrais e Locais de Cabo Verde, entendemos que nenhum deles estiveram à altura das suas responsabilidades, na defesa do interesse dos tarrafalenses e do desenvolvimento harmonioso deste Concelho”.

E, virando para dentro, aponta o dedo indiscriminadamente ao seu próprio partido, o MpD, que dirige política e administrativamente o município do Tarrafal há três dácadas. “Sendo Tarrafal um bastião do MPD, este sempre usou dos eleitores a fim de ascender ao poder para depois os abandonarem à própria sorte. Nesta jogada política, o Partido sempre deu as «cartas» impondo aos tarrafalenses os candidatos que satisfazem os seus caprichos. Entretanto, o desempenho desses servidores tem sido decepcionante para os munícipes. E, do povo só se lembram de quatro em quatro anos”.

E assim, continua Domingos Semedo, “para evitar a imposição dos candidatos, antes da apresentação oficial desta candidatura, usamos como estratégia várias pesquisas espontâneas entre esta candidatura, o actual Presidente, o líder do Partido Local e todos os possíveis candidatos à Câmara Municipal. Entretanto, em todas as pesquisas realizadas, esta nossa candidatura obteve maior aprovação dos eleitores. Outrossim, esta é única candidatura que apresenta uma plataforma elaborada com base no que o povo tarrafalense acredita ser necessária e urgente para tirar o concelho do marasmo em que se encontra, plataforma esta pronta a ser implementada, caso merecermos a confiança dos tarrafalenses”.

A seu ver, uma candidatura independente, liderada por si, abre “uma nova esperança para Tarrafal”. “É preciso, urgentemente, virar a página do subdesenvolvimento e relançar a economia local e o emprego para esta população. Este é o caminho que Tarrafal precisa para retomar os trilhos do desenvolvimento e superar a pobreza severa que afecta a população, tanto do centro como da periferia”, pontua.

Domingos Semedo, ou Emílio Tita como será muito mais reconhecido no seu concelho natal, avisa ainda que “este é o momento do povo tarrafalense estar atento às monobras dos políticos e escolher o seu próprio representante”. “A eleição do presidente da Câmara do Tarrafal não pode servir , como tem sido hábito, de oportunidade que convoque os políticos ao negócio de votos para as suas conveniências, para, depois, abandonar o povo à sua sorte. Estamos com o povo e o povo está connosco! Basta de imposição! Basta de ridicularizar este povo!”, remata, reafirmando a bandeira que quer erguer: “Tarrafal é di nós. Nu trabadjal”.