Uma onda emergente de racismo está a assustar a Itália desde que o novo Governo tomou posse. Em dois meses 33 atentados, sendo nove mortais. Uma delas é um cabo-verdiano que foi baleado nas costas enquanto trabalhava.
No passado dia 26 de Julho, um electricista cabo-verdiano, com autorização de residência em Itália, foi alvejado nas costas enquanto trabalhava na instalação de luzes para um festival na região de Veleto. O atirador justificou-se que queria acertar num pombo.
A explicação não convenceu as organizações de direitos humanos naquele país europeu, que denunciam uma emergente onda de racismo que invade as cidades italianas sobretudo desde a entrada do novo governo e que tem como ministro do Interior, Matteo Salvini, líder da Liga (partido de extrema direita), cujas declarações xenófobas, racistas e anti-emigração, estão a incentivar o uso da violência contra estrangeiros sobretudo da raça negra.
O cabo-verdiano é, aliás, uma das nove vítimas mortais de ataques a tiro contra negros residentes em Itália. Segundo o jornal L’Espresso, nos últimos dois meses já se contam 33 os casos de atentados a cidadãos de origem africana em todo o país.
O site da Al Jazzerra denuncia que no passado dia 17 de Julho uma criança de apenas um ano de idade foi baleada por um individuo que passava numa scooter. O suspeito acabaria sendo descoberto mas, pasme-se, disse que estava a “testar a sua pistola”.
A onda de atentados contra negros não poupa nem mesmo atletas que envergam a camisola da Itália. O último caso, ocorrido no início deste mês de Agosto, envolveu Daisy Osakue, uma atleta, filha de pais nigerianos, que nasceu em Itália. A rapariga tem cidadania italiana e deveria competir nos Campeonatos Europeus de Atletismo, que começaram ontem.
A jovem foi atacada na rua com um ovo, quando atravessava a estrada e teve de ser operada ao olho esquerdo devido a uma lesão na córnea, ficando fora dos europeus de Atletismo, que decorrem em Berlim desde ontem, 6 de Agosto - Osakue é considerada uma promessa no lançamento do disco em Itália.
Imigrantes à procura de asilo, imigrantes legais e outras pessoas que não são de origem italiana estão entre os feridos em ataques racistas registados no país desde Junho. O caso mais grave aconteceu quando uma menina de 13 meses foi atingida a tiro, nos braços da mãe, numa rua de Roma e ficou com paralisia - a tal que o autor disse estar a tertar a sua arma.
A lista já é extensa e vem preocupando muita gente pelas características desse tipo de crime. Não é por acaso que, há já algum tempo se fala num "novo jogo" nas ruas, em Itália, em que os imigrantes africanos são "a pontaria" numa espécie de "tiro ao alvo". Os autores são jovens que andam de bicicleta ou scooter a vaguear à noite ou até mesmo em plena luz do sol.
Konate, um senegalês hoje com nacionalidade italiana, afirma que os ataques já existiam, mas que agira “usam armas de fogo”. “Quando um italiano pega numa arma e dispara contra um negro é como se fosse o governo a disparar”, ironiza esse cidadão citado pela Al Jazeera.
A oposição em Itália considerou que os ataques contra estrangeiros ocorridos nas últimas semanas resultam de uma "espiral racista" no país, resultante da "propaganda racista", mas o governo negou e atribuiu os incidentes ao excesso de imigrantes.
"Existe uma espiral racista preocupante que tem de ser reconhecida. Quem não reconhece este problema transforma-se num cúmplice", afirmou o secretário-geral do PD, Maurizio Martina, que anunciou para setembro uma grande manifestação nacional em resposta ao "clima de ódio".
A reação do primeiro-ministro não se fez esperar. Salvini respondeu qualificando o "alarme racista" de "invenção da esquerda": "Os italianos são boas pessoas, mas a sua paciência acabou. Eu, como ministro, trabalho há 58 dias para dar segurança e calma às nossas cidades", disse.
A ministra dos Assuntos Públicos, Giulia Buongiorno, também da Liga, afirmou por seu turno que "o único alarme é o caos criado pelas decisões equivocadas da abertura das portas a qualquer tipo de imigração", segundo uma entrevista ao La Repubblica.
Também o líder do Movimento 5 Estrelas, que integra a coligação de governo com a Liga, e ministro do Trabalho, Luigi di Maio, recusou haver um "alarme racista" e afirmou tratar-se de "um argumento da esquerda" para atacar Salvini.
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