Crise de medicamentos. Governo demite Conselho de Administração da Emprofac e nomeia João Spencer como PCA
Economia

Crise de medicamentos. Governo demite Conselho de Administração da Emprofac e nomeia João Spencer como PCA

O Governo demitiu o Conselho de Administração da Emprofac e vai nomear já amanhã, 23, na Assembleia Geral da empresa, uma nova equipa gestora formada por João Spencer, Evelyse Semedo e Sara Pereira.

A crise dos medicamentos e as notícias de relação conflituosa entre as administradoras Melina Veiga e Ana Ribeiro apressou o Governo a mudar o Conselho de gestão da Emprofac, empresa detida a 100% pelo Estado e que está em vias de ser privatizada.

Amanhã, na Assembleia Geral da Emprofac, marcada para as 16 horas, o vice-primeiro ministro, Olavo Correia, vai nomear João Spencer, doutor em Comunicação Comercial e que já passou pela Tecnicil, como o novo presidente do Conselho de Administração. Como administradoras, o governo escolheu Evelyse Semedo, contabilista e prata da casa, e Sara Pereira, mestre em Ciências Farmacêuticas e que estava colocada como directora de Serviço de Inspecção e Controlo na Inspecção Geral das Actividades Económicas.

A nova equipa de gestão da empresa pública de comercialização e distribuição de medicamentos vai assumir o cargo durante três anos, até 2024. O que quer dizer que a privatização da Emprofac, aguardada desde o ano passado, vai ter de esperar mais três anos no mínimo.

Na sua página no facebook, o vice-primeiro ministro escreveu: "O Estado da República de Cabo Verde, na qualidade de detentor de 100% do capital social EMPROFAC, ao abrigo da alínea b) do artigo 59º e do nº 1 do artigo 61º, do Código das Sociedades Comerciais aprovado pelo Decreto-legislativo nº2/2019, de 23 de julho, conjugado com artigo 6º dos Estatutos da EMPROFAC, S.A.R.L., através de uma deliberação unânime por escrito procedeu à eleição de novos membros do Conselho de Administração da empresa para o triénio de 2021 a 2024".

Olavo Correia diz que "esta iniciativa do acionista único da empresa vem em decorrência da caducidade do mandato dos membros do CA cessante da Emprofac, tendo-se mostrando necessário proceder-se à respetiva eleição de novos membros".

O VPM não disse que a saída de Veiga e Ribeiro, que assumiram a gestão da Emprofac depois da demissão de Gil Évora do cargo de PCA, era para acontecer desde Outubro, mas que as manteve inamovíveis pelo menos até ontem, quando as contactou para lhes informar que estavam demitidas.

Na verdade, foi a notícia de Santiago Magazine sobre uma inspecção da Entidade Reguladora Independente da Saúde (ERIS) na Emprofac, para averiguar as causas da ruptura de stock de diversos medicamentos nas farmácias por todo o país que irritou do Governo.

Mal se apercebeu da gravidade da situação, o Executivo viu-se obrigado a mudar urgentemente da equipa gestora da Emprofac. O vice-primeiro ministro, mesmo demorando em promover a sua substituição aquando da saída de Gil Évora, estava também há algum tempo agastado com desempenho da dupla Melina Veiga/Ana Ribeiro, mas "alguma pressão de famílias influentes no MpD mantiveram essa substituição como que em stand-by ou então para não acontecer até à privatização da Emprofac".

Só que, nos últimos tempos, as relações de Melina Veiga com o próprio Olavo Correia estavam a piorar, com aquela gestora muitas vezes a ignorar as chamadas do governante ou a recusar prestar informações sobre a empresa. Daí, o Governo ter agendado para amanhã, 23, uma Assembleia Geral para demitir formalmente a actual administração e nomear uma nova, liderada por João Pedro Spencer.

Como tudo começou

Santiago Magazine noticiou que a ERIS iniciou uma inspeção na Emprofac devido às inúmeras queixas que vem recebendo das várias farmácias do país que reclamam de várias rupturas de medicamentos em todo o arquipélago - mesmo os hospitais estão sem reagentes e outros equipamentos de cuidados médicos comercializados pela Emprofac.

Vários medicamentos inclusive para doenças crónicas não se encontram nas prateleiras das farmácias desde o início do ano. A situação levou muitos utentes a denunciar nas redes sociais essas rupturas no stock sem data para reposição.

Sem resposta da Emprofac, pelo menos onze farmácias de diferentes ilhas recorreram à Entidade Reguladora Independente da Saúde, que iniciou uma inspecção na Emprofac para averiguar qual o motivo de ruptura em tantos medicamentos e apurar responsansabilidades.
Mas a questão vai muito mais longe. Segundo fontes de Santiago Magazine todo este problema que afecta as farmácias e os utentes se deve ao facto de a actual Administração não ter feito as adjudicações do Plano de Compras para 2021, devido a divergências sérias existentes entre as Administradoras Ana Ribeiro e Melina Veiga.

Consta então que a administradora Ana Ribeiro teria decidido encomendar os medicamentos ao mesmo fornecedor do ano anterior (por causa da situação de pandemia), só que Melina Veiga teria desautorizado a colega de administração enviando um outro e-mail ao fornecedor a cancelar o pedido, "alegando que tem de ser ela, Veiga, a tratar desse assunto", evidenciando "um clima de cortar à faca" entre as duas gestoras da Emprofac, que estava a piorar a cada dia.

"As rupturas de medicamentos atingiram um nivel nunca presenciado na empresa, a má gestao é a prática corrente e no final de 2020 a empresa foi obrigada a queimar cerca de 48.000 contos de medicamentos inutilizados devido aos prazos e em virtude de compras excessivas feitas durante esse ano", revelou fonte de Santiago Magazine, acrescentando que "os lucros da Emprofac cairam este ano mais de 30% saindo dos 204.000 contos em 2019 para cerca de 130.000 contos em 2020 e os indicadores financeiros da empresa degradam-se".

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