O Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) questionou hoje se já não é chegada a hora de as autoridades competentes investiguem, a fundo, os contornos do negócio da privatização da TACV/CVA “que tanto prejuízo já deu a Cabo Verde”.
Esta posição foi hoje manifestada em conferência de Imprensa pelo presidente interino do PAICV, Rui Semedo, que reagia à notícia de que Governo vai abrir um processo para reverter a favor do Estado os 51% da Loftleidr Icelandic na Cabo Verde Airlines.
Semedo defendeu que se está perante um negócio, chamado de privatização, que “não trouxe absolutamente nada”.
“Não nos trouxe mercado, não nos trouxe capital e não nos trouxe experiência nenhuma. É um negócio onde o parceiro estratégico ganha tudo e Cabo Verde perde tudo e em toda a linha a começar por um aluguer (leasing) absurdo, em condições muito desfavoráveis se comparado com os preços praticados no mercado normal de transportes aéreos”, disse.
Ainda nas suas declarações, Rui Semedo ressaltou que todos devem estar lembrados que se está perante uma privatização em que o vendedor em vez de receber, pagou dinheiro ao comprador e que o mesmo parceiro não pagou nem um tostão com relação ao compromisso assumido.
“O PAICV já tinha alertado sobre este negócio lesivo aos interesses do país e fê-lo de forma repetida e continuada porque sabia que tinha do seu lado a razão e a verdade. Mesmo quando o Governo simulou a vinda do avião nas vésperas das últimas eleições legislativas, o PAICV teria alertado a todos que estaríamos perante uma encenação com o fim exclusivamente eleitoralista e que o avião não iria voar para nenhum país”, continuou.
Rui Semedo afirmou ainda que tanto tinha razão o PAICV que o avião, de facto, não conseguiu realizar um único voo “desde que chegou para testemunhar as eleições e garantir alguns votos ao Senhor Ulisses Correia e Silva”.
“Hoje todos sabemos que o país foi literalmente enganado, mas já não se pode fazer mais nada porque as eleições já foram feitas, os resultados já foram proclamados e o Governo já foi investido”, completou.
Rui Semedo apontou ainda que o episódio mais recente foi a “encenação” de tentar descolar o avião no Sal fazendo crer que desentendimentos, descoordenação ou outros problemas impediram aquela operação tantas vezes anunciada e tantas vezes adiada.
“O próprio Governo não estava interessado que o avião levantasse voo, pois se fosse sua vontade ver o avião no ar, acreditem que o avião voava de facto, porque o mesmo Governo que obrigou a ASA a investir neste saco sem fundo, pagando até o salário dos trabalhadores, conseguiria de certeza convencer a ASA a autorizar aquela operação”, sublinhou.
Para Rui Semedo, a situação poderia ser resolvida desde que os donos dos aviões, ou o parceiro estratégico, retirou todos os seus aparelhos para serem colocados num lugar “onde o Governo de Cabo Verde não podia fazer absolutamente nada”.
“Aliás este negócio não podia nunca ter acontecido naquelas condições tão desvantajosas, quanto vexatórias, para o país, mas parece que outros interesses, que não são, seguramente, os convergentes com os interesses de Cabo Verde, falaram mais alto”, disse.
Agora, continuou, mais uma vez para anestesiar e enganar a todos, “o Primeiro-Ministro finge bater com os punhos na mesa, simula falar grosso com o parceiro estratégico e desfaz a parceria, em direto na Televisão, deixando o acionista aparentemente surpreso”.
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