I
O local transmite-nos o sentir e nem faltam palavras para se guardar o silêncio. Ali apetece-me ficar com a bandeira de Cabo Verde, no lusco-fusco de uma noite de agosto, sincronizado com a lua que entre as nuvens espreita e intensifica a aura singular de silêncio da aldeia e juras de amor eterno onde as aves não têm céu e sem serem mais ruidosas que os aviões no céu. No bom aconchego de uma mesa farta que atrai os comensais com a comida tradicional para gente urbana a recusar o silêncio de +2+4+6 bocas a ganharem asas famosas ao Sol para vo-a-rem e o mundo ficará à nossa procura com o eixo da bussola. (Para se dizer sem perdição serei sempre teu abrigo e oração a que faltam joelhos).
II
No sítio, encenarei com dois bi-chos. Cabra com tetas macias como animal solar e a galinha furfurácea entre a luz esfarelada e a poeira levantada na palha apoquentada pelos gafanhotos da maldição. Ali, folhearei o livro da minha memória com mão distraída procurarei uma poesia que na minha cabeça se faz alma sã que noutras almas santificadas regressará ao corpo sem men-ti-ras e sem es-mo-re-cer. (Para se dizer sem perdição serei sempre teu abrigo e oração a que faltam joelhos).
III
Vi que o lugar era do tempo em que as ca-bras subiam as falésias cegamente mordendo o céu algodoeiro de agosto. Ali, cinzelava nos rochedos a infrene impetuosidade do cavalo a escoicear com relinchos acostumados de cios como sopro de júbilo inerente. Repentinamente, distraí-me a ver os seios de Simone que caíam nus da blusa e as suas assedadas pernas quase todas descobertas aos olhos das pedras. Tudo parecia-me paisagens sonoras que embalava-me na minha viagem desafiante porque o pra-zer não tem que ver com a cul-pa.
IV
Sei que os meus ino-cen-tes olhos param debaixo da minha cabeça para desafiar o calor do fluxo piroclástico provocado pela explosão do Monte Vesúvio, em Itália, há quase dois mil anos, que vitrificou o cérebro de uma das vítimas, segundo o italiano Pier Paolo Petrone. Agora! No mesmo sítio, não sei se folhearei o livro da minha memória com mão distraída e se procurarei uma poesia que na minha cabeça se faz alma sã que noutras almas santificadas regressará ao corpo sem mentiras e sem esmorecer. Porque o que regressa nunca saiu do mesmo sítio no limiar do meu e nosso abri-go. (Para se dizer sem perdição serei sempre teu abrigo e oração a que faltam joelhos no limiar da minha e nossa mor-te).
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