XXXIX CENA
Os Hiaces circulam para riba e para baixo procurando passageiros. Um deles, com apenas um lugar vazio no banco ao lado do condutor, pára perto do Dr. Simão.
AJUDANTE – Assomada, kel omi. Assomada, carro cheio. Só temos um lugar.
O Ajudante desce, pega Dr. Simão por um braço e leva-o para o carro. Com a outra mão ele abre a porta do lado do acompanhante.
DR. SIMÃO – Não gosto de ir no banco da frente. Prefiro sentar-me no banco onde fico à vontade para ler o jornal.
AJUDANTE (Abre a porta do lado, um ocupante oferece-se para trocar do lugar com Dr. Simão) – Isso mesmo, nha brother. Vem tu sentar aqui na boca e deixa o senhor ir-se ali.
OCUPANTE (fora do Hiace) – Vou só comprar uma coisa no Sucupira, já volto.
CONDUTOR – Então vou só meter combustível e venho apanhar-te.
Dr. Simão senta-se no banco atrás do condutor, abre o jornal e lê tranquilamente. Vê-se no relógio que é meio dia e meio. O Condutor Arranca e o Ajudante vai com a cabeça de fora gritando.
AJUDANTE – Assomada, vamos embora; vamos embora, Assomada, carro cheio. Só temos mais um lugar. Assomada, vamos embora.
O Hiace vai dando voltas entre Sucupira/Vila Nova, Vila Nova/Sucupira. Sempre que entra uma pessoa, sai outra e o carro continua com um lugar vazio.
XL CENA
Na Esquadra da Fazenda, Nhu Seis está encostado ao balcão a conversar com Chefe.
CHEFE DE ESQUADRA – Então o nosso amigo não quer confessar-se que tirou a velha a dentadura da boca porque tinha nela dois dentes de ouro?
NHU SEIS – Eu não. Nem conhecia a senhora!
CHEFE DE ESQUADRA – Ok. Como não foste apanhado em flagrante, não vou maçar um agente para levar-te ao Tribunal só para ouvires o TIR do Juiz. Já estás cá há mais de 24 horas, a velha não tem testemunha, não foste flagrado, podes ir embora. O processo segue depois para Tribunal.
NHU SEIS – Posso tomar um banho antes de sair?
CHEFE DE ESQUADRA – Depois limpa bem o chão.
NHU SEIS – Eu limpo. (Dá uns passos e vira) O Chefe arranje-me um pedacinho de sabão, se faz favor?
CHEFE DE ESQUADRA – Não tenho sabão.
NHU SEIS – Nem um pouquinho de champô?
CHEFE DE ESQUADRA – Se não tenho sabão que custa quase nada, achas que vou ter champô, que é coisas de branco?
Nhu Seis entra na casa de banho e sai elegantemente bem vestido.
XLI CENA
Nhu Seis sai da Esquadra bem vestido, com uma mala de couro pendurado ao ombro. Passa pelo Totinho que está de pé em frente ao Hotel Eurolines na Fazenda, cidade da Praia. Totinho fica a olhar para ele, convencido de que se trata de um amigo que vive na Holanda. Nhu Seis vira a cara e apercebe-se que o emigrante olha para ele com estupefação. Abranda os passos, para, volta e vai ter com ele.
NHU SEIS – Desculpe, amigo. Por acaso, você me conhece?
TOTINHO (olha-o nos olhos) – Mas deveras, és assim ingrato, rapaz? Já não me reconheces, ou finges que já te esqueceste de mim?
NHU SEIS – A cara não me é estranha, mas… francamente! Já não me recordo. Mas vejo que a cara me é familiar.
TOTINHO – Não te lembras do Totinho?
NHU SEIS (um pouco desprevenido) – Totinho!…
TOTINHO – Em França.
NHU SEIS – França?!
TOTINHO – Quando aquele barco onde tu trabalhavas… – não sei se ainda lá trabalhas – fez escala no Rio Sena, quando iam da Holanda para Alemanha e que paraste três dias em minha casa no Zero Seis em Paris.
NHU SEIS – Pois é, rapaz! Agora é que estou a lembrar-me. Como é que estás, pá? Quando é que vieste?
TOTINHO – Vim há uma semana. E tu? Quando é que vieste e por onde tens andado esse tempo todo?
NHU SEIS – Vim com três meses de férias, já comi um e tal.
TOTINHO (abraça-o ternamente) – Oh rapaz, tinha tanta vontade de te ver!
NHU SEIS – Eu também.
TOTINHO – Vais agora mesmo conhecer a minha casa e a minha família. (Nhu Seis fica desconcertado) Não precisas tremer os beiços porque não aceito desculpas. Hoje é véspera de Nhu Santo Amaro, festa da minha freguesia.
NHU SEIS (olha para o chão e bate com a mão na testa) – Caramba! Lamento muito, mas assim de repente!… Moras onde em Tarrafal? Em que sitio?
TOTINHO – Moro em Ribeira das Pratas. Lugar bonito e de Regedor afável. Onde o macho vai galo e volta pinto, a fêmea vai franga e volta galinha.
NHU SEIS – Francamente! Não gosto de desagradar amigos, principalmente um amigo à tua medida. Mas… de já pra já não estou em condições.
TOTINHO – Não estás em condições, porquê?
NHU SEIS – Estou a atravessar uma situação que até sinto pejo se souberes, apesar da amizade e muita confiança que tenho em ti.
TOTINHO – Não precisas de te acabrunhar. Conta-me sem receio. Falar verdade não é pecado, nem ser sério alguma vez foi crime. Tu sabes que somos amigos. Pode até ser uma situação que te possa ajudar a resolver.
NHU SEIS – Tu sabes tal qual eu, ou mesmo melhor do que eu, como é que nós os emigrantes, quando estamos cá de férias, somos sitiados por elas.
TOTINHO – Sobretudo o meu amigo que não é feio nem maltadjadu… e sabe muito bem trabalhar com a boca. Um perfeito arquiteto das palavras, verdadeiro operário da língua.
NHU SEIS – A minha mulher é muito ciumenta. Acho mesmo que, igual a ela, nenhuma outra mãe ainda pariu. Há três dias, não dormi em casa, quando cheguei de manhã, nem preciso dizer-te como passei. Começou logo a brigar comigo. Não lhe respondi para evitar que a situação se agravasse. Entretanto, ela prendeu me os documentos e a carteira com todo o dinheiro. Fiquei só com o livro de cheques, (mostra-lhe uma caderneta de cheques) mas é como se não o tivesse. Sem documento não há Banco que me dê dinheiro.
TOTINHO – Tu também, rapaz! És muito perigoso com elas. Mal as encontres… mandas o ranho para cima. Se calhar ela já descobriu que queres levar alguma chupetinha para Holanda já te prendeu os documentos?
NHU SEIS – Como é que soubeste? Tu adivinhas, rapaz?!
TOTINHO – Acertei?
NHU SEIS – Em cheio! Ando a morder uma catorzinha, estava a pensar levá-la comigo. Mas a coisa virou um pouco complicada. Não sei que tagarela é que se apercebeu do esquema e foi contar a minha mulher, ela está fúria-mar.
TOTINHO – Sabia que só podia ser isso. Conheço bem as tuas jogadas com rabos de saia. Sei que não perdoas! Não me esqueço daquela cena entre ti e a Dominique, aquela francesa, em minha casa em França. Oh rapaz! Às vezes estou sozinho, lembro-me e fico a rir até que me caem lágrimas. Lembro-me como se fosse agora, o grito que ela bradava quando lhe xobravas, e o barulho que a cama fazia. A cama era um João da Cruz, estava um pouco velha, ficou a fazer: nheki-nheki.
NHU SEIS (ri) – Tu não esqueces as coisas! Desde aquele tempo?!
TOTINHO – Há coisas que nos marcam e não nos deixam esquecê-las.
NHU SEIS – Por acaso é verdade.
TOTINHO – Depois daquele dia, encontrei-me com ela umas duas vezes no Centro Comercial. Ela pergunta-me sempre por ti. Faz-te sérios elogios. Disse que nunca tinha tido um macho como tu.
NHU SEIS – És brincalhão, Totinho!
TOTINHO – Bem, agora voltamos ao assunto. Vamos ou não?
NHU SEIS – Não dá. Não gosto de andar cau sem dinheiro, sobretudo para ir ao Tarrafal que é longe, véspera de uma festa rija como é a do Pega-Burrinho.
TOTINHO – António… é assim o teu nome, não é verdade? Não estou com muita certeza!
NHU SEIS (atrapalha e quase gagueja) – É… é… assim que me chamo, pois…
TOTINHO – Estás a ver que esta cabecinha só escola não tem por dentro? Mas o que se passou, mesmo depois de muito tempo, não me esqueço.
NHU SEIS – Já notei. Tens uma memória fenomenal.
TOTINHO – Obrigado. Bom, se o problema é dinheiro, já está resolvido. Empresto-te o dinheiro que precisas, dás-me depois. Nem se for quando encontrarmos novamente em França ou em qualquer parte da Europa.
NHU SEIS – Já te disse que estou de guerra com patroa.
TOTINHO – Queres dizer que se fores comigo ela te bate quando regressares?
NHU SEIS (dá uma gracinha) – Não é por isso. Tu sabes como é que as mulheres são. Se eu for agora mudar de roupa e sair, é mais uma chatice que estou a arranjar. Ela pode pensar que estou a provocá-la.
TOTINHO – Já entendi. Tens é medo que ela te dê banho com água a ferver?
Riem-se.
NHU SEIS – E sabes que um problema nunca vem só.
TOTINHO – Qual problema? O problema resolve-se com dinheiro, e dinheiro para ti não é problema.
NHU SEIS – Primeiro: esta roupa que trago no corpo está suja. Já estou com ela há três dias; segundo: não estou com dinheiro e não gosto de sair com pouco dinheiro e muito menos nabica. Tu sabes que dinheiro é a alavanca do mundo, e que os imprevistos são companheiros dos homens. Nunca ouviste dizer que um homem prevenido vale por dois? Que quem não chora dinheiro, nem sua mãe quando morrer ele não precisa chorar?
TOTINHO – Por isso que não me esqueço de ti. Com esta frontalidade como tu falas com as pessoas… esta tua honestidade, agrada-me.
NHU SEIS – Não sou de enganar alguém. As coisas que faço têm que ser transparentes. O que tiver que dizer… digo. Ou me bates, ou concordas comigo, depois acaba.
TOTINHO – Eu também sou assim.
NHU SEIS – Sou muito caprichoso. Se tomar uma decisão… está tomada. Por isso, não quero rebaixar-me perante a mulher e explicar-lhe aonde vou ou deixo de ir, pedir-lhe o meu dinheiro para pôr no bolso e a minha roupa para me vestir. Se não te zangues, adiamos esta viagem para um outro dia.
TOTINHO – Deus te livre! Iremos já. Já te disse que dinheiro não é problema. De quanto é que precisas? (Nhu Seis abana a cabeça) Três contos chegam?
NHU SEIS – Bom… de qualquer maneira… já que te teimas… dá cá os três contos. Dão para desenrascar um bocadinho.
TOTINHO – Dão para desenrascar, não! Se achas que três contos são poucos, diz-me então quanto é que queres? O resto… falamos depois.
NHU SEIS – Então dá-me cinco contos.
Totinho tira cinco contos da pasta e dá-lhos.
TOTINHO – Já agora tudo depende de ti. Quando quiseres… arrancamos.
NHU SEIS – Lá pelas duas horas encontrámo-nos na paragem de Hiaces… em Sucupira. Vou só deixar o meu compadre José de Madjidji saber que vou ao Tarrafal contigo, mando um filho dele, que é meu afilhado, buscar-me roupa à minha mulher e mudo estas.
TOTINHO – Sim, senhor. Encontrámo-nos na paragem de Hiaces, mas ao Tarrafal vamos de Táxi. Os Hiaces vão até a Vila, e de lá para minha casa ainda andamos um bocadão. Vamos de táxi que nos leva com buzina aberta e nos deixa à porta de casa. Emigrante não pode andar nos carros de carreira.
NHU SEIS – Não há crise.
Apertam as mãos e fazem estalidos dos dedos. Nhu Seis compra um pão, mete uma banana por dentro e come avidamente. Depois compra um jogo de fato de veludo, um par de sapatos, traja a rigor e vai ter com Totinho.
XLII CENA
O Hiace em que Dr. Simão viaja para Assomada está sobrelotado. O Condutor para e o Ajudante tenta meter mais um passageiro, no mesmo banco onde vai o Simão. O Banco é para 3 pessoas, mas ele vai pôr 5. Vê-se no relógio que são 14:00h.
AJUDANTE (Com a mão nas costas do passageiro, fala para o Simão) – Kel omi, faça um jeitinho para que caiba este passageiro.
DR. SIMÃO – Sr. Ajudante, eu pago para ocupar um lugar, quero ocupá-lo sozinho.
CONDUTOR – Kel omi, se o senhor não quer assim… então desça.
AJUDANTE (fecha a porta) – Nós estamos a procurar a nossa vida, kel omi.
DR. SIMÃO – Muito obrigado. Já estou dentro do carro que me tinham dito que estava cheio, há uma hora e meia, querem agora que eu desça?
CONDUTOR – O senhor é que sabe.
AJUDANTE (fecha a porta) – Vamos.
Dr. Simão dobra o jornal e guarda-o na pasta. O Carro Arranca.
XLIII CENA
Um Oficial de Diligências vai ter com o Condutor na paragem de Assomada.
OFICIAL – Quem é o condutor deste Hiace?
AJUDANTE – Praia? (Abre a porta do lado do condutor) Há lugar na frente. Sobe.
OFICIAL – Quem é o condutor?
AJUDANTE – Não vais à Praia?
OFICIAL – Perguntei-te quem é o condutor deste carro?
AJUDANTE (percebe-se que o Oficial não vai à Praia, dá-lhe costas e vai ter com uma outra pessoa) – Praia? Vamos. Praia direto sem paragem. Anda.
Pega-lhe na mão e mete-o no carro.
OFICIAL – Senhor Ajudante, quem é o Condutor deste carro?
AJUDANTE (arrogante e malcriado) – Deixa-me trabalhar, homem.
UM TRANSEUNTE – O Condutor está ali naquela taberna mais a frente.
OFICIAL (dirige-se ao Condutor que está a beber um cálice de grogue) – És o condutor daquele Hiace ali?
CONDUTOR – Sim. Vais a Praia?
OFICIAL – Não. Kel omi é que mandou buscar-te para ires ter com ele. (O Condutor seca o copo e sai à rua desaforadamente) Senhor Condutor!
CONDUTOR (responde com mau modos) – O quê, fastentu?
OFICIAL – Não sou fastentu. Kel omi é que me mandou buscar-te para ires ter com ele.
CONDUTOR (vai andando em direção ao carro) – Eu não conheço kel omi.
OFICIAL – Ok. Estás preso.
Mostra-lhe o cartão de identificação.
UM OUTRO CONDUTOR (pára o Hiace ao pé do primeiro) – Um senhor que desceu do teu carro há bocado é Juiz, rapaz! Fizeste-lhe alguma coisa?
AJUDANTE – Se ele é Juiz, é lá no Tribunal. Dentro de Hiace ele é passageiro como os outros.
CONDUTOR (eleva as mãos à cabeça) – Ave-Maria! O que já fiz, meu Deus? Ele é aquele Juiz que veio há dias para Assomada?!
UM OUTRO CONDUTOR – Tinhas passageiros a mais?
CONDUTOR – Cindo a mais.
UM OUTRO CONDUTOR – Porra! Vai lá e bate coro ao gajo à maneira, pá. Dizem que ele é um gajo porreiro, pá.
XLIV CENA
Condutor está sentado diante do Dr. Simão, no seu gabinete.
DR. SIMÃO – Desta vez não lhe vou fazer nada, porque não quero prejudicá-lo. Mas fique a saber que o respeito é bonito e que vocês são obrigados a respeitar os passageiros que pagam o seu dinheiro para viajarem tranquilos.
CONDUTOR (a tremer de medo) – Sim senhor, Juiz.
DR. SIMÃO – O senhor sabe que todos os Hiaces têm limite de lotação. Quantos passageiros é que você pode transportar no teu?
CONDUTOR – Catorze.
DR. SIMÃO – Ora pois… viemos vinte e um.
CONDUTOR – Desculpe, Sr. Juiz.
DR. SIMÃO – Pela próxima que voltar a acontecer comigo, ou se alguém vier queixar-se de si pelos mesmos motivos, vai para a Cadeia Civil e fica sem a carta durante um ano, no mínimo.
CONDUTOR – Deus me defende, Sr. Juiz! Como vou dar de comer aos meus filhos?
DR. SIMÃO – O senhor tem filhos?
CONDUTOR – Tenho, sim, senhor.
DR. SIMÃO – Quantos?
CONDUTOR – 21.
DR. SIMÃO – Quantos?
CONDUTOR – 21 filhos
DR. SIMÃO – Quantos anos você têm?
CONDUTOR – 32 anos.
DR. SIMÃO (estapafúrdio) – Vá, vá daqui, por favor. Sr. Oficial, leve-o daqui.
O Condutor levanta e sai acompanhado do Oficial. Dr. Simão fica a rir.
XLV CENA
Familiares, vizinhos e amigos cumprimentam Totinho. Nhu Seis está sentado num banco, encostado à parede, a um canto de casa. Do outro canto está um gravador grande a tocar em cima da mesa, umas pessoas dançam e outras bebem grogue. Bujú entra e vai diretamente ao Nhu Seis.
BUJÚ – Então Nhu Seis! Que tal? Tu por aqui? (Nhu Seis não responde) Nhu Seis! Estou a falar contigo! Finges que não me conheces?
TOTINHO – Com quem estás a falar, Bujú? Conheces o homem? Meu Deus! Vocês são mesmo atrevidos.
BUJÚ – Não é preciso dizeres-me assim, só porque estou em tua casa, ou porque vieste da França. Então atrevido és tu que meteste no assunto que não conheces. Eu chamei-lhe é porque o conheço. Fomos colegas de tropa na ilha do Sal, em setenta 1976. Éramos do mesmo Pelotão.
TOTINHO – Viste que estás a mentir? Se tu, quando eu me embarquei estavas ainda com macacos no nariz, lambias o ranho, só depois de muito tempo é que foste para tropa, isto é, voluntário, vens agora dizer que conheces o rapaz, que há muito nos conhecemos no estrangeiro? E de jeito que tu falas, vocês são grandes amigos. Porque com essa confiança que lhe dirigiste, só podem ser grandes amigos… ou colega.
NHU SEIS – Ele está a falar comigo?
BUJÚ – Sim! Estou a falar contigo mesmo. Não estás a lembrar de mim? Não estás a lembrar do Bujú, soldado Nº 10 do 1º Pelotão de Infantaria? Não eras Nº 6… que ficamos a chamar-te pelo nome de Nhu Seis? O teu nome verdadeiro não é Arlindo… Arlindo Mendes Correia?
NHU SEIS – Não percebo o que estás a dizer, rapaz.
BUJÚ – Queres dar pa doido ou quê?
NHU SEIS – Não estarás a confundir-me com outra pessoa? Eu não te conheço de nenhum lado e nunca fui militar!
TOTINHO (desatinado) – O que ele quer eu já sei. É um moquete antes de pirar-se daqui. (Pra Bujú) Não tens vergonha, patife! E depois és teimoso! Até nome já lhe puseste. Tu é que lhe pariste, filho de uma vaca, paneleiro da merda. Nhu Seis!… Arlindo!… Nhu Seis é teu pai, Arlindo é teu Padrinho. Atrevido, sem vergonha. O nome dele, se queres saber, é António. Vá, põe-te lá pra rua. Maltrapilho.
Avança para Bujú e é evitado pelos presentes.
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