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Nubru - Bruno Monteiro. “O Rap já salvou mais jovens que o Governo”
Cultura

Nubru - Bruno Monteiro. “O Rap já salvou mais jovens que o Governo”

Kaminhada. Assim se chama o primeiro álbum do Rapper compositor cabo-verdiano Nubru - Bruno Monteiro. São 16 faixas inéditas, que contam com participação de vários artistas cabo-verdianos como, Batchart, Djox, Kumba, Tochi, Mark Delman, Manolo, Nana, Dzenh e Rahiz. 

Depois dos singles “KONTRIBUTO” e NHA ANJO” lançados recentemente, as 16 faixas que compõe o álbum já estão disponíveis nas plataformas digitais (YouTube, Spotify, Soundcloud, Deezer). 

O disco é novo, mas o sonho é antigo A Kaminhada começou há muitos anos atrás e reflete o percurso na música que agora partilha com o público.

Músico e poeta ou poeta e músico, Nubru descobriu primeiro as palavras e adotou depois o Rap para dar melodia às suas revindicações em forma de rimas.

“Eu era aquele aluno reivindicativo, que participava em tudo. Era da associação de estudantes do grupo de teatro, da comissão de disciplina... Na época eu já escrevia poemas e a ideia da rima sempre me atraiu”, partilha.

O polivalente da cidade de Várzea de Igreja- São Domingos- foi palco das suas primeiras batalhas de Rap, entre os jogos de basquete e o convívio dos amigos. Tinha 16 anos quando criou, com mais dois amigos, o primeiro grupo de Rap. Os Dogmatas, um nome com influências da corrente filosófica do dogmatismo, pois acreditavam na máxima de dizer a verdade com a certeza de atingi-la.

“Na altura íamos ao sound click buscar beats, íamos ao Centro da Juventude para ter acesso aos computadores. Assim gravámos mais de 20 músicas e participávamos em vários eventos locais”, lembra. Desde então, foi trilhando um caminho marcado pelo Rap lusófono e cabo-verdiano.

“Eu ouvia Rap norte-americano, mas não entendia a mensagem e já nessa altura preocupava-me muito com a mensagem. Daí dar preferência ao Rap lusófono. Ouvia muito Boss AC, Gabriel Pensador, Calibrados e os primeiros álbuns de Anselmo Ralf. Do Rap crioulo os Rapaz 100 Juiz foram a grande influência”, elenca.

Mensagem

A adolescência passou. Nubru foi para a universidade, mas nunca parou de escrever. No percurso universitário adquiriu várias ferramentas que hoje utiliza na produção da sua arte.

“Os Rapaz 100 Juiz foram um grande ponto de referência no início do meu percurso. Mais tarde, conheci Batchart, um grande amigo com quem ganhei novas influências e adquiri novos conhecimentos, principalmente na clarificação dos aspetos técnicos da música e do Rap”, explica.

O disco chega depois de um longo período de maturação pessoal e musical e Nubru considera que, apesar da conjuntura, o momento não podia ser melhor.

“Talvez não seja o timing certo para o mundo, mas é o meu momento. Estamos em catástrofe, mas as minhas catástrofes aconteceram antes. Este é um momento em que estou em paz, em que posso dedicar-me mais à minha música e partilhá-la com as pessoas”, explica.

Nubru defende que este é também momento de passar as mensagens que realmente interessam, pois acredita a 100% no poder do Rap de salvar vidas.

“O Rap é terapêutico, fiz muitas músicas como forma de aliviar as minhas angústias. Não me sinto genuíno se apenas criticar e não falar de mim. Eu sou o que eu conheço melhor. Acredito que não seja tão diferente das outras pessoas e acredito que elas se relacionam com a música. Arrisco a dizer que o Rap já salvou mais jovens do que quaisquer políticas dos sucessivos governos. Não só porque salva-nos a nós Rappers como também aos que nos ouvem, ao dar-lhes algo em que acreditar e verem que não estão sozinhos”.

Empreendedorismo

Nubru explica que Kaminhada é fruto de um investimento pessoal. “Porque os sonhos não têm preço e o Rap é acima de tudo empreendedorismo”.

“Nós Rappers somos os verdadeiros empreendedores. Mostramos que podemos sair do quintal da nossa casa para os grandes palcos de Cabo Verde e do mundo. Nos nossos home stúdios nós fazemos tudo, com o nosso trabalho e o nosso talento”, garante.

Melhorar é sempre a meta, por isso Nubru investe na pesquisa de novos grupos e novas linguagens, muito importantes nesta fase em que considera estar ainda a definir o seu estilo.

Quanto ao Rap crioulo, considera que a sua identidade está a tornar-se cada vez mais clara e aponta o recurso aos ritmos tradicionais, a participação de artistas tradicionais, a abordagem de temas tão intrinsecamente cabo-verdianos como o mar, a seca, ou as chuvas como factores que contribuem para este reforço da identidade.

E este álbum é também uma plataforma de expressão do Rap crioulo em todas as suas variedades. “Kaminhada tem 9 participações, amigos Rappers de Santiago, São Vicente e da diáspora. É muito importante para mim a unificação contra o bairrismo, que está no Rap como em outros sectores da nossa sociedade”, lamenta.

As expectativas são muitas, mas resumem-se em poucas palavras. “Espero que as pessoas gostem do álbum, pois foi feito com muito carinho e dedicação. Quero ver as coisas mudarem no nosso país e que quando as pessoas oiçam a minha música sintam conforto e felicidade e saibam que mesmo nos momentos difíceis há sempre uma luz no fundo do túnel”, finaliza.

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Redação