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Literatura: Volume de 1.500 páginas reúne 20 anos de poesia de José Luiz Tavares
Cultura

Literatura: Volume de 1.500 páginas reúne 20 anos de poesia de José Luiz Tavares

A poesia do cabo-verdiano José Luiz Tavares, de 2004 a 2023, é agora reunida num único volume, de cerca de 1.500 páginas, numa edição da Imprensa Nacional Casa da Moeda, confirmou hoje o autor à Inforpress.

Resultado de duas décadas de produção poética do escritor de Chão Bom, concelho do Tarrafal de Santiago, a antologia  “Como um Segredo na Boca do Universo – Obra Completa Mente Inacabada» reúne em um único volume, entre outros, os livros de poesia publicados pelo autor até aqui, nomeadamente “Paraíso Apagado por um Trovão (2004), “Cidade do Mais Antigo Nome” (2010), “Lisbon Blues” (2015), “Arder a Vida Inteira” (2016),  “Polaroides de Distintos Naufrágios” (2017), “Rua Antes do Céu” (2017, e “Instruções para Uso Posterior ao Naufrágio” (2019).

O livro dado agora à estampa, além de colocar à disposição do leitor num único volume livros publicados em inúmeras chancelas e díspares geografias (de Moçambique a Colômbia), inclui ainda dois livros inéditos, «As Irrevogáveis Trevas» e «Um Preto de Maus Bofes», a autobiografia poética e existencial do autor.

Segundo a sinapse que acompanha a publicação, “tal obra, pela sua densidade e extensão, construída em duas décadas de publicação, representa a mais singular e consequente aventura criativa da literatura cabo-verdiana, e quiçá da língua portuguesa, plasmada nas palavras de Pires Laranjeira, o maior especialista vivo nas literaturas africanas escritas em português.

“É provavelmente o poeta mais inusitado que surgiu nas literaturas africanas de língua portuguesa após as independências dos países. Cáustico, irreverente, aliando o classicismo das fontes e o conhecimento vasto da poesia universal ao canto da terra pátria, numa linguagem simultaneamente antiga e moderna, tem uma voz poderosa e altissonante, de uma criatividade completamente fora do vulgar, que surpreende pela eloquência e ironia, como se uma raiva profunda chegasse domada, feliz, e, paradoxalmente cuspindo fogo e melancolia”, destaca a sinapse, citando o crítico literário Pires Laranjeira.

A poética de José Luiz Tavares, sublinha Laranjeira, “um vulcão de lava jorrando do caos para a ironia e a angústia de uma palavra trançada com fúria e desvelo (…) uma gigantesca paixão consumida pelo ofício de trevas, que busca, em última instância, serenar a medonha inquietação de conciliar a melancolia das origens (um qualquer Cabo Verde que quase se apaga dos textos) com a inaudita força da viagem pelos mundos do sofrimento, a que somente o discurso – a submissão a uma ordem própria – consegue dar sentido, que é o da interrogação sobre a perda, a errância, o obstáculo e a morte, erguendo uma Obra por cima de toda a dureza da pedra, da sociedade, do tempo e da palavra”.

Em declarações à Inforpress, em Lisboa, onde o volume já foi apresentado, José Luiz Tavares disse desconhecer se a Imprensa Nacional Casa da Moeda pretende organizar o lançamento da poesia toda reunida em Cabo Verde ou não.

“Não me é indiferente que o façam ou não, pois gostaria de ver a obra apresentada no meu país, mas não depende de mim, ainda que eu possa ir chamar a imprensa e falar dela, mas não tenho o poder de colocar lá obra e pô-la em circulação, pois uma obra dessas não pode ser escondida dos leitores do país do autor, mesmo que ele não seja um figurão da política local, ou ter posicionamentos que desagradem à editora”, explicou o autor.

José Luiz Tavares Nasceu no dia de Camões, 10 de Junho, no Tarrafal, Cabo Verde, em 1967. Estudou Literatura e Filosofia em Portugal, onde vive há mais de três décadas. Desde a sua estreia, em 2003, publicou dezanove livros. Recebeu inúmeros prémios, sendo o escritor mais premiado de sempre de Cabo Verde.

Sobre a sua obra existe uma tese de doutoramento, Exemplo Cosmopolita, do seu principal estudioso, Rui Guilherme Figueiredo da Silva.

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