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Um deboche à democracia
Colunista

Um deboche à democracia

O Governo vai gastar em coffe break, alojamento e outros itens similares a quantia de 55.000.000$00 (cinquenta e cinco mil contos) para, supostamente, falar sobre liberdade e democracia, durante dois dias, numa das ilhas turísticas.

Num país pobre, onde muita gente precisa vender almoço para comprar o jantar, onde mais de 1/3 da sua população é pobre e que boa parte desta parcela é miserável e enfrenta o problema da fome, a realização de um evento com esse nível de gastança e esbanjamento é uma troça, um acinte, uma afronta ao povo que passa fome, aos financiadores internacionais dos programas orçamentais e aos parceiros e colaboradores nacionais e internacionais!

Esse mesmo Governo afronta os professores e seus sindicatos que reivindicam, responsável e legitimamente o cumprimento de seus direitos legalmente consagrados e vencidos há anos, se escusando com a falta de recursos mas considera que é prioritário gastar mais de meio milhão de dólares em dois dias com seus amigos em hotel à beira da praia!

Um Governo cujos estudos do afrobarometer apontam que quase 60% do eleitorado consideram que está direcionando suas ações para o caminho errado não tem legitimidade para afrontar nem intimidar professores, ameaçar funcionários incómodos com processos disciplinares, atentar e criar um clima de terror e medo contra o povo!

Os indicadores económicos, sociais e políticos do atual Governo são os piores em toda uma série de mais de 20 anos:

A taxa de desemprego é tão elevada que os indivíduos economicamente ativos se desesperam e empreendem uma fuga para o estrangeiro sem dia para regressarem;

A taxa de violência e criminalidade campeia pelos campos e pelas cidades transformando cidades inteiras em reféns de grupos de criminosos e pessoas e famílias são sujeitas a um recolher obrigatório após as 19 a 20 horas;

Um Governo cujo partido que o sustenta exclui e discrimina as mulheres afrontando as letras da lei da paridade de género que objetiva garantir a efetividade do equilíbrio de poder entre homens e mulheres em todas as esferas da governação, diga-se, igualdade na representatividade no número no Parlamento, nas chefias das comissões especializadas e nas suas presidências e na própria presidência da Assembleia Nacional, igualmente, no Governo, nas Autarquias locais, no poder legislativo local e também no executivo local, em todas as posições elegíveis, do Presidente da Câmara aos vereadores e do Presidente da Assembleia Municipal aos deputados municipais;

Um Governo cujo Primeiro-Ministro é o prior avaliado em toda a série histórica produzida pelo afrobarometer durante o período democrático e que, como ex-Presidente de Câmara Municipal, produziu o maior elefante branco da história da administração do país;

Um Governo que tem a administração pública mais incompetente, burocrática, atrasada, morosa e disfuncional dos últimos tempos;

O desespero do Governo e de seu partido é tal que, apesar de toda a incoerência e contradição de seus atos e indicadores de governação, não coíbem de organizar um evento milionário e inoportuno quanto à prioridade, só para os amigos e seus prepostos lhes fantasiarem de democratas e lhes incensarem! Chegamos quase ao fundo do poço!

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