Quando minha paz se retira e a voz treme perante o absurdo, oiço as gargalhadas vazias que reagem às anedotas já retalhadas de velho que nem mesmo aos seus autores convencem.
E assim tem sido o debate que vence o tempo e perde o compasso da marcha deste povo manso que de tanto ouvir as mesmas anedotas, já nem a panela consegue levar ao lume e cumprir com as recomendações básicas das organizações mundiais que respondem pelo direito à alimentação.
Esta mesma anedota que maltrata a consciência enquanto a casa de concreto cai e a ribanceira acumula mais plástico e entulho, dói na alma o triste espetáculo, cujo espectador adormece na sala vazia à espera dos aplausos que demoram em chegar.
Esta cidade virou de facto uma anedota. Aquela que renega seu filho porque este prefere a cor amada da criança, que se esqueceu do cão sarnento que madruga à porta do mercado dos alimentos, que tira o guarda ao pescador e deixa desprotegida sua casa à beira mar, é esta anedota que já cheira mal e suas vacas comem o mesmo lixo que Lagoa Gémea faz fumo na sua lixeira e é esta mesma ilustre anedota que definitivamente não tem terreno para seus filhos construírem seus aposentos.
Meu Deus! Quão estúpido já fui, eu que um dia me fartei de rir desta anedótica anedota. Ainda bem que hoje sou livre e posso gritar até por todos ser ouvido: DESTA ANEDOTA NUNCA MAIS TIRAREI UMA ÚNICA GARGALHADA, POIS ACABOU A PALHAÇADA.
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