P.S. Trata-se de uma mera narrativa e qualquer semelhança com a nossa realidade é mera coincidência.
Marina era uma aluna que tinha muitos problemas com os professores, por causa do seu mau comportamento e do fraco aproveitamento. Ela tinha já completado os 18 anos e ainda estava no 9° ano, pelo terceiro ano consecutivo. Os pais eram emigrantes em França e, por isso, vivia com a avó. No primeiro dia de aula, ela tinha dito que o seu sonho era emigrar para França, arranjar muito dinheiro para poder comprar bons carros, roupas, sapatos e perfumes de marca.
Marina gostava muito de estar no liceu, mas não tinha nenhum interesse nas aulas. Na verdade, a escola era o espaço onde ela aproveitava para “passagem de moda”. Exibia muita ostentação: levava boa quantidade de dinheiro ao liceu, trocava sempre de telemóvel, usava vestuários de marca e, cada dia, ela apresentava um modelo diferente de penteado. Nunca prestava atenção nas aulas, porque, ou estava a mexer no telemóvel, ou a olhar-se ao espelho.
Quase todos os dias, Marina tinha conflito com um ou outro professor.
Na qualidade de diretor da turma, um dia eu fui obrigado a mandar chamar a sua avó. Entretanto, no lugar dela, veio o pai da Marina que se encontrava de férias. Os professores de turma aproveitaram para o conhecer e, ao mesmo tempo, aproveitaram a oportunidade para apresentar as suas queixas. Não houve nenhum professor que falava algo de positivo sobre a Marina.
O pai, depois de ouvir atentamente cada um dos professores, ele deu uma boa repreensão à filha. Ficamos muito contentes e, eu pensei logo: "a partir de agora ela vai melhorar."
No final da conversa, o pai rematou:
- Eu peço-vos pardon pelo comportamento da minha filha. Quando chegarmos à casa, vamos ter uma “boa conversation”. Aliás, já lhe disse várias vezes que ela tem de estudar e mudar de comportement, a fim de ter uma profissão no futuro. Donc, ela tem de ser qualquer coisa na vida! Mesmo que seja professora!
Todos nós ficámos estupefactos, não só com a frontalidade do pai, mas sobretudo com aquele seu ar de menoprezo.
O pai despediu-se e, os dois, saíram da sala. Todos nós permanecemos na sala, a olharmo-nos uns aos outros.
- Pois é, colegas… Esta, eu nunca esperava ouvir – desabafou o professor Manuel. Já ouvi, muitas vezes, a dizer-se por aí que a nossa profissão é a mais nobre e que é a mãe de todas as profissões, mas hoje fiquei desiludido.
- Tens razão, meu caro colega – respondeu a dona Josefina, professora de Filosofia. Hoje em dia nenhum pai quer que o seu filho seja professor. Contudo, todos querem um bom professor para o seu filho. Na altura em que eu decidi abraçar esta profissão, foi por vocação e paixão. Apesar de, na altura, surgir várias oportunidades, eu decidi ser professora.
- Sim, a senhora que já está quase na reforma, vá-se aguentando, mas eu que estou ainda no início da carreira, não vou continuar – respondeu o professor Marcos que era o mais novo e recém contratado. Na verdade, eu formei-me na área técnica, mas acabei por vir dar aulas porque tenho compromissos com o banco e precisava de um emprego. Foi a primeira oportunidade que surgiu e não podia recusar.
O senhor Brito, professor mais antigo e que também estava na sala, pediu a palavra:
- A nossa profissão deixou de ser valorizada. Perdemos o afeto que outrora as pessoas tinham por nós. Antigamente éramos muito respeitados e estimados em qualquer localidade onde trabalhávamos. Já fomos uma espécie de agente de autoridade local e ninguém ousava nos contrariar. Vocês, os professores de agora, são responsáveis por essa desvalorização e desrespeito pela nossa classe. Trouxeram muitas modernices, nomeadamente computadores, internet, redes sociais, direitos dos alunos, etc., e esqueceram-se dos seus deveres. Imaginem, até já foi proibido expulsão da sala e os castigos físicos! Por isso é que os alunos não estudam, nem respeitam os professores.
O professor Marcos, respondeu imediatamente:
- Sr. Brito, com todo o respeito que tenho por si, mas eu não posso concordar consigo. Vocês os professores de outrora, continuam agarrados aos métodos antigos que já não se adequam aos tempos modernos. Hoje tudo mudou. Vivemos na era de novas tecnologias e da globalização. Já não precisamos de manuais, mapas ou cartazes, por exemplo. Agora temos tudo isso na nossa mão. Basta um clic, Sr. Brito!
- Pois é – respondeu o professor Brito, meio irritado. É por causa dessas modernices que estamos nesse descalabro, como recoheceu uma antiga Ministra de Educação. Não é possível ter um bom sistema de ensino sem manuais e sem habituarmos os alunos a lerem livros. Aliás a leitura é o nosso calcanhar de Aquiles porque muitos professores também não têm essa prática. Assim, como é que se vai transferir esse hábito para os alunos?
Tocou-se o sino e cada um foi para a sua sala de aula.
P.S. Trata-se de uma mera narrativa e qualquer semelhança com a nossa realidade é mera coincidência.
Feliz dia a todos os meus colegas de Agora e de Outrora.
Adalberto Teixeira Varela
Professor no LAC
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