O administrador-único da Inforpress negou haver tensão na agência e agora ele próprio, mais do que a tensão, criou a bomba que lhe pode explodir nas mãos a qualquer momento. Bastava, caso não seja verdade as denúncias dos jornalistas, desmontar os argumentos dos críticos com a sua verdade, com as suas provas - pois afinal, houve convite sim da FAAPA para a cobertura do mundial de clubes.
Mas não. José Vaz Furtado preferiu o caminho mais hostil, e foi ao extremo de forma radical, irracional, arbitrária e anti-democrática: demite o jornalista Geremias Furtado apenas porque sim. E agora sim tem o seu 'querido' cargo tremido. Porque não quis perceber o que estava a acontecer. Porque quis jogar o gato e o rato, preferindo ser predador em vez de líder, elemento aglutinador, um pacificador. A sua última frase no Direito de Resposta publicado no Santiago Magazine é sintomático: "os gestores decidem", disse, assim mesmo, fria e imperiosa sentença.
Furtado abriu guerra pesada, convencional, com a imprensa, no momento ingrato que decidiu demitir um jornalista (sem razão plausível), por sinal sindicalista, de resto, presidente do sindicato dos jornalistas, AJOC. Se a quizília era facilmente sanável agora virou guerra nuclear com toda a guarda a entrar no terreno cá dentro e principalmente as organizações internacionais.
Furtado fez envergonhar o governo que, desprecavido e desprevenido, terá agora de justificar perante os observadores internacionais tamanha arbitrariedade num país de direito democrático onde tolerância à crítica devia ser uma normalidade. Agiu, creio eu, no ímpeto da raiva, de cabeça quente, quando de um gestor era esperado melhor articulação com os seus colaboradores ao invés da política do 'posso, quero e mando'.
Neste momento já terá interiorizado a asneira que fez, mas pode ser tarde. Porque se não havia tensão na Inforpress, como Furtado apregoa, agora a situação ficou insustentável, mesmo que volte atrás e readmita o jornalista Geremias Furtado nos quadros da agência. Ainda que faça mea culpa e se justifique perante o governo.
Evidentemente que uma simples explicação sua sobre o que estava a acontecer na Inforpress suavizaria as hostes e ficava à apreciação da sociedade quem tem ou não razão. Haveria a hipótese - como se viu nos comentários à notícia do descontentamento dos jornalistas porque o director de informação da Inforpress foi cobrir os jogos do mundial de clubes em Marrocos - de poder conquistar a opinião pública ou ao menos ficar menos chamuscado.
A opção pelo radicalismo estalou o seu verniz de impoluto gestor. Foi ele mesmo quem, depois de negar de todo haver tensão na empresa, resolveu se tornar no epicentro de um terramoto que abalou as estruturas do estado de direito democrático em moldes há muito não vistos em Cabo Verde: atentado à livre opinião e tolerância à crítica. E é ele que, irresponsavelmente, garante liquidar todas as dívidas para com o jornalista, estando implícita até uma eventual indemnização (o contrato de trabalho de GF com a Inforpress cessaria em Junho, portanto, daqui a quatro meses), tão simples assim, porque não sairá do seu bolso e sim do nosso, o Estado.
Com efeito, se José Vaz Furtado queria, com o seu silêncio prévio, defender o seu posto, agora com a sua radicalíssima e estapafúrdia decisão de demitir um profissional porque lhe crítica a gestão (provando que não tolera opinião contrária, um modo arbitrário de gerir uma empresa pública), se pôs a jeito para ser também amputado do cargo. A porta, para já, está entre-aberta, pois o executivo não poderá ficar indiferente a este escândalo público de dimensões internacionais, com nova baixa na cotação nos índices de liberdade de imprensa e de expressão. Tic-tac-tic-tac, o cronómetro já está a andar.
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