«Porventura é para já a ativação de uma nova via política para assegurar a boa regionalização de Santiago, a instalação das condições de desenvolvimento incondicional das atividades ligadas ao mar, turismo, negócios e ordenamento do território e implementação (já em atraso) dos epicentros das plataformas previstas para a ilha»
Constituindo, durante parte dos séculos 16 a 19, plataforma de importância crucial do shipping internacional no atlântico, cosmopolita e caldeirão da miscigenação de povos, por vezes em franca expansão, mas acossada amiúde por duras crises que anulam ganhos contingenciais, a ilha de Santiago enfrenta hoje constrangimentos estruturantes que emperram o desenvolvimento integral dos seus espaços e da sua gente. Vítima de um longo período de ausência de uma governação amiga e atenta e de uma estratégia adequada de desenvolvimento vis-a-vis seu potencial, só recentemente pudemos constatar rasgas intervenções que, em termos de infraestruturas de desenvolvimento nas áreas educacionais, aeroportuárias, portuárias, rodoviárias, da agricultura (mobilização da água), e de saúde, catapultaram a ilha (que acolhe a capital) para um nível de integração mais consentâneo com o seu potencial no quadro de desenvolvimento do país.
Reconhecendo o feito nos últimos 20 anos que mudaram positivamente, nos termos acima apontados, as condições de integração no processo de desenvolvimento de Cabo Verde (de recordar que antes desse período, duas outras ilhas somente, lideravam as condições e estratégias de desenvolvimento de Cabo Verde), é hoje imperativo, todavia, apontar e trabalhar várias outras condições adversas que atentam profundamente contra o desenvolvimento de vários setores onde enorme é o potencial existente na ilha, particularmente no seu interior e que continuam a atolar Santiago no lamaçal daquelas com os piores indicadores de desenvolvimento no quadro nacional.
Efetivamente, ainda são incipientes as condições para o desenvolvimento do turismo (lá está, mesmo assim a ilha ocupa o 3º lugar graças à enorme labuta dos seus operadores), do comércio (falta de infraestruturas e de apoio para equipar os operadores informais e formais do comércio para pleitear com a mortal concorrência dos libaneses e dos chineses …), dos portos e da administração marítima (a melhoria parcial do Porto da Praia não foi acompanhada de um terminal da cabotagem, da desagregação e desenvolvimento das condições de pescas em toda a ilha, de gestão adequada (autónoma) desse porto e de instituição de níveis adequados de administração marítima e de estruturas de formação para o mar na região, da habitalidade de milhares de pessoas que escolheram a Praia para habitar e viver melhor, agricultura, da indústria, de eventos internacionais, da segurança e de atividades básicas de cultura e artes. Não obstantes enorme esforços e dedicação de recursos por parte da Áustria, a ilha quedou-se no caminho da estruturação de um plano regional e de um leque de estruturas económicas importantes para o desenvolvimento da ilha, particularmente do Santiago Norte.
Algumas intervenções há muito reclamadas e merecidas chegaram nos últimos anos á ilha toda, tendo constituído, motivo de forte reação de rejeição dos que participaram e tudo fizeram para a permanência de Santiago na cauda da caminhada de desenvolvimento do país. Foi assim que um autêntico movimento, sob capa de paladinos de regionalização/descentralização (que, a ser justa, defendemo-la também até às suas ultimas consequências), tendo denominado a ilha de República de Santiago, desenvolveram um processo triunfante de desconstrução (de seus projetos) e esvaziamento de atividades económicas de Santiago, materializado hoje, designadamente, através do abandono, migração e as péssimas condições de desenvolvimento de atividades do mar, do turismo e de eventos (sendo estes, elementos vitais de sustentação da Praia que tem poucas bases de desenvolvimento autónomo) e ausência do processamento de implementação, á semelhança das iniciadas noutras ilhas, das principais medidas de desenvolvimento dos epicentros das plataformas previstas para Santiago, i.e, do agronegócio, da praça financeira e dos tics. Santiago, em desfavor da sua enormíssima taxa de desemprego e do seu crescimento, permanece sem o seu parque industrial devidamente infraestruturado, centro de convenções de grande dimensão e centro de formação para o mar, com a particularidade de, no caso desta última medida, todos por cá esperávamos das autoridades de educação e do mar, o seu anuncio para Santiago, já que com o anúncio do instituto Agrícola para Santo Antão, julgámos que se contorna facilmente a desculpa de duplicação de estruturas já existentes no país (mais uma escola do mar aqui para o sul justifica-se plenamente ao se criar mais uma instituição agrícola em Santo Antão, existindo uma já em Santiago!).
Assim sendo, o quadro acima de condicionalismos impõem aos santiaguenses consideração e atuação no sentido de:
Instalar uma nova via política, se calhar com base em independentes que assuma os condicionalismos acima e contribua para o apetrechamento dos setores da ilha com vista ao desenvolvimento das condições ligadas ao mar, turismo, finanças, negócios, industria, ordenamento, urbanização, segurança, tics e agronegócio; Essa via que pode ser até um novo partido político, deverá juntar-se a outras forças nacionais que desenvolverá a agenda da estruturação das duas regiões de Santiago, do estatuto especial da Praia, da regionalização/descentralização e de toda e reforma necessária do país para que este tenha um sistema político, de governação e de administração compatíveis com a extrema pobreza do país;
Retoma da cooperação internacional da ilha, nomeadamente com a Áustria, para trabalhar programas especiais, designadamente de desenvolvimento do mar, turismo e negócios e concluir a elaboração do plano de desenvolvimento regional no quadro da regionalização em processamento; Países da CEDEAO, China, Brasil e alguns europeus há muto que referenciam Santiago como base para projeção no continente africano, com base nas interações logísticas seculares existentes entre esses espaços africanos. Bem pensada, a zona da Achada Grande na Praia, com as condições que tem para porto profundo q.b., aeroporto, parque industrial, comércio franco etc., seria hoje a tal plataforma logística e intermodal que hoje Cabo Verde necessita para materializar o tal link de negócios com o «land side» da África Ocidental;
O epicentro do agronegócio haveria de beneficiar de imensos investimentos efetuados e por efetuar para relançar a produção e comercialização em larga escala, incluindo para o setor do turismo, de carnes, queijos, ovos, doces, frutas, tecelagem, artesanato e culinária, gerando infraestruturas portuárias e emprego decente para inúmeros santiaguenses do interior que erram hoje por algumas ilhas (cidade da Praia incluída) sem condições (e por vezes também sem vontade) de os acolher; Propõe-se um novo enfoque do que resta da instituição agrícola existente em Santiago para conferir a formação mais capacitante para os operadores para mais e melhor produção agrícola e equipar melhor as barragens e outras fontes de água para uma maior e melhor produção «made in Santiago».
Santiago deve urgentemente tratar da cultura, artes… Muitos costumam dizer que, em potencial, a ilha é maior também naquilo que pode culturalmente oferecer ao turismo, particularmente, desde que se edifique (i) o seu centro de artesanato regional, (ii) rede de museus e incluindo o de arte contemporânea, (iii) feira de livros (por onde para as feiras anuais realizadas antes?), (iv) sessões regulares de teatro, música, culinária. Uma ilha/capital como Santiago/Praia não pode culturalmente depender de dois meses, num ano, de music awards, rock e atlantic expo, mas sim de teatro regular, ballet, dança, museus, feiras, artesanatos de forma durável e frequente e ter mecanismos de apoios com alguma racionalidade que permitam a qualidade e durabilidade que a ilha requer e que tem afetado o relançamento do carnaval, tabanca etc.; A orquestra capitalina e a conservatória iniciadas foram intervenções fugazes de grande monta (agora desaparecidas) e que finalmente trazia aquilo que a capital de um país, reconhecidamente rica em música, merecia! Cadê?
Desde anos 90 que os santiaguenses reclamam pelo novo hospital de raíz, hoje fortemente exigido pelo Dr. Óscar Santos e também pelo seu partido nas plataformas apresentadas recentemente (só que hoje o governo se cala a respeito!). Na altura o Fórum de Desenvolvimento de Santiago (estávamos em 1996) levou um «chega para lá» irónico do então governante de saúde (que sabíamos jamais faria hospital para Praia), mas que lá foi dizendo que o hospital sairia em 2007. Mesmo com essa troça estamos em 2018! Curiosamente a autonomização do porto da Praia foi também aprazada para esse ano após pressão exercida e falhada no anos 90, por todos cá em Santiago. Nada até hoje, mesmo que de novo inserida no programa do Governo! Estamos pois com o Óscar na luta por um hospital que traga mais valias para tratamento de doenças e problemas de saúde que mais matam hoje em Santiago e em todo o mundo como o câncer, diabetes, avc e diagnósticos errados e que ajudaria o país a estancar boa parte de divisas hoje gastas para tratamento dos poucos felizardos que conseguem aceder às evacuações/assistências;
Santiago é ilha com um dos maiores recursos para o desenvolvimento da economia marítima: maior porto do país em termos de carga movimentada (é o maior indicador dum porto), maior setor de pescas (ver estudo efetuado em termos da população/comunidades piscatórias envolvidas, mercado interno, numero de embarcações artesanais e semi-industrial), maior volume de empreendimentos que valem milhões na orla marítima e de empresas intermediárias (agentes e transitários) e do shipping em pujante crescimento, reclamando o desenvolvimento de subsetores de suporte como escola do mar, administração autónoma e competente para o porto e para a administração marítima. Os construtores navais (pois os há tb aqui em Santiago, na Gamboa, no Mosquito, no Tarrafal, no Rincão, …) labutam á espera do estaleiro que nunca descola após estudo elaborado pelo programa PRAO e os pescadores esperam sem dia pelo complexo de pescas de São Martinho e pelas outras infraestruturas das pescas e delegação da AMP no Santiago Norte. É urgente estancar a absoluta indiferença em relação ás demandas do setor do mar em sotavento/Santiago e continuidade de programas para equipar uma ilha só para o mar num arquipélago com outros polos de desenvolvimento marítimo, pois isso é um crime contra os berros e desesperos de jovens do sul do país á procura de emprego no mar e de operadores laboriosos mas carentes de administrações competentes locais de suporte; a regionalização deve pois trazer essas áreas de governação para a região e assim adaptar os processos atuais de desenvolvimento ao potencial e ambição da ilha; Tudo pode no entanto falhar se Santiago continuar na profunda sonolência de não colocar seus quadros na esteira da busca de parcerias e experiencias, cujo processo atual não tem contemplado, deixando os interesses de Santiago fora do processamento normal das novas medidas de desenvolvimento do setor em Cabo Verde;
A ilha deve intensificar o ordenamento e embelezamento das suas cidades, e povoados e orla marítima devendo a Praia corrigir aí imediatamente o tapamento, a opacidade e a invasão das praias de mar com construções impróprias e ilegais. É urgente que a cidade da Praia/Governo acione o projeto de 4 bairros a serem financiados pelos chineses de forma a aniquilar de vez as bolsas de habitações cinzentas, ilegais e inseguras que povoam as encostas e linhas de agua da capital. Um programa apoiado de concurso de bairro mais bonito do ano, complementaria esse projeto chinês eliminando a atual inconformidade que grassa a cidade, projetando essas medidas, com as devidas adaptações, às cidades de assomada, Santa Cruz, Calheta e de Tarrafal;
A par da escola do mar para sotavento em Santiago, por incúria dos governantes, a ilha não tem o seu parque industrial nas cidades da Praia e de Assomada á semelhança do implantado em São Vicente. A Praia foi se desenrascando como de costume contra o sistema, desenvolvendo algumas indústrias que teimaram a se instalar. Assomada não conseguiu. Nenhuma cidade do mundo avançou a sua industria e potenciou criação de empregos sem parques ou polígonos industriais, para atrair atividades que geram emprego! Da mesma forma foi negado á Praia o seu centro de convenções que os ministros também acharam ser bons demais para a Praia, não obstante esta cidade ter nesse empreendimento a sua maior vocação e um dos poucos meios de sua sobrevivência autónoma. São milhares de empregos decentes aos quais os santiaguenses continuam a não aceder por incúria (maldade? Não acredito!) de governantes, ainda que seja via parcerias público-privadas. Hoje, ao par de métodos modernos financeiros e outros, o hard e o software de incubação, de centros internacionais de negócios e de parques tecnológicos são essenciais para se fixar investimentos e criar emprego cuja estatística da ilha é a mais desfavorável do país (o atual processamento de parque tecnológico e relançamento do Centro Internacional de Negócios para catalisar a fixação de empresas e criação de emprego só pode merecer o nosso positivo apreço. Veja-se o expediente do Premier Português, para a fixação do Google no parque de Oeiras, da unidade para a capacitação de pessoal no sistema operativo de android!).
Tudo se deve fazer para melhorar a segurançadas pessoas e seus bens na ilha sem a qual não haverá desenvolvimento. A par de todas as medidas indicadas atrás é preciso mais educação, civismo, segurança e sensibilidade para o belo (daí o teatro, a arte!) e para o bem ambiental para vencer os principais desafios de desenvolvimento de Santiago devendo todos (políticos, jornalistas, e outras forças sociais) se baterem para o efeito.
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