Escola do Mar em Santiago era para ontem!
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Escola do Mar em Santiago era para ontem!

Recentemente, embora timidamente e de forma descontinuada, foi anunciada pelo Sr Secretário de Estado Adjunto da Educação o estabelecimento de um pólo da escola do mar na Praia, Santiago, no quadro do trabalhos que realizou em S.Vicente para a criação do campus do mar nessa ilhas.

Enquadramento

Tendo nos últimos anos abordado sistematicamente a necessidade de tal escola para Santiago e todo o sul, enquanto técnico do sector e presidente da Pró-Praia, considero, assim, como alguns potenciais parceiros para avançar com uma iniciativa privada a respeito, que se trata de um dos projetos mais esperados e impactantes para o sul e Santiago, a par do centro de convenção de grande porte e parque industrial para suster a dinâmica e evitar o colapso da economia de Santiago e não só, minimizando as mais altas taxas de desemprego do país prevalecentes na ilha.

Os argumentos a favor

Santiago goza das seguintes condições que alimentarão o sucesso e o pleno funcionamento dos cursos de varia ordem da futura escola, designadamente por: i) Ter o Porto da Praia, o maior do país em termos de movimentação de cargas (que é o que interessa em qualquer porto), sendo aquele que tem os mais resultados financeiros das atividades portuárias do arquipélago, e que constitui um dos maiores centros coletores e de distribuição de cargas e passageiros marítimos do país; ii) Possuir a maior frota pesqueira, quer de embarcações artesanais quer de semi-industriais; iii) Ter (embora instalado e a funcionar sob condições adversas), um dos maiores complexos de pescas do país, sendo o mais procurado pela frota pesqueira do pais e ser aquele que alimenta o maior mercado interno de consumo do pescado que é o da Praia; iv) Ostentar uma das orlas marítimas mais apetecíveis do país, cujas obras representam um dos maiores investimentos do país; v) Integrar um grupo restrito de ilhas com a maior frota mercante, (vi) ter o mais elevado número de agencias de navegação e de transitários e constituir um dos maiores centros coletores e distribuidores de carga e passageiros marítimos, vii) Ter o maior «trade» do país o que reverte a favor do shipping já que o comércio externo processa-se a mais de 90% por via maritima ; viii) Ter uma frota mercante como os fast ferries e Praia d´aguada, Verde lines, Nsa Senhora da Graça, Djondade etc que constituem boa parte da tonelagem efetiva nacional (ix) a experiencia demonstrar que constitui vantagem poder contar com tripulação e gestores formados e disponíveis na região, (x) Ter milhares de jovens na cintura da Praia, nas cidades e espaços rurais do norte e sul de Santiago, nas ilhas do Boavista e Maio que buscam na ilha, capacitação para o emprego nas várias áreas marítimas acima e particularmente a bordo do navios estrangeiros ávidos de marítimos cabo-verdianos que garantem rendimento a partir dos cem mil escudos mensais a esses profissionais; (xi) Ter carência absoluta de técnicos (esta é a situação geral em pelos menos sete outras ilhas exceto S.Vicente) para a administração autónoma do seu setor marítimo, portuário, das pescas, a intermediação do shipping, a reparação naval, o sistema de controlo/segurança marítima e a gestão costeira.

Nenhuma outra ilha tem fatores tão importantes para garantir o sucesso de uma escola do mar em termos de atendimento e produção de uma importante oferta de mão de obra marítima para os mercados local e internacional.

Algum inquérito já efetuado indica que, á semelhança do que aconteceu com o alargamento do ISCEE á Praia, a escola seria um sucesso em termos de potenciais formandos para atendimento dos cursos da Escola do Mar da Praia para servir todo Sotavento na Praia/Santiago, já que, seguramente, com a proximidade e apoio familiar não distantes, as condições financeiras do atendimento dos cursos seriam mais favoráveis. Não se trata, portanto, de ter mais uma escola lá no norte para servir a todos mas sim ter uma autónoma na Praia para servir bem em termos de acesso e impacto no emprego e gestão marítima da região!

Estamos perante um projeto há muito merecido aqui porque Santiago iniciou, em primeiro lugar, na região oeste africana, a aventura marítima, competindo com armadores reinóis, após século XV , quando muitas ilhas estavam ainda por serem povoadas, oficialmente. No presente, as condições são excelentes e o futuro confirmará o sucesso de eventual investimentos no setor do mar em Santiago porque a ilha tem quase tudo que uma economia marítima pujante requer: maior volume de carga marítima em «trade», orla marítima apetecível para investimentos turísticos, dinâmica das pescas com investidores a processarem investimentos nas embarcações, incluindo nas da marinha mercante e milhares de jovens e profissionais a busca de capacitação para emprego marítimo.

Que fazer para a rápida implementação

Por isso rogo e estou certo que esse projeto tão importante para Santiago não vai ficar pelo tímido anuncio do governante, mas sim suscitará empenho qb das gentes da região, dos seus deputados, dos seus jornalistas, dos presidentes da câmaras de todo sotavento e sobretudo dos jovens e profissionais do mar que devem sair á rua para combater pela sua qualificação e emprego, para entrada de divisas e para aumentar os rendimentos para as famílias.

E enquanto a escola teima em demorar…

É grave a situação de capacitação para emprego e de disponibilidade de quadros em geral para o mar nesta região. Por isso, á semelhança do que tem sido feito com a Escola de Hotelaria e Turismo na Praia que, compulsivamente, tem sido obrigado pelo governo, a receber dezenas de formandos de S.Vicente e do Fogo e a ministrar cursos nas ilhas de Boavista e Sal, tudo custeado por nós todos/governo ( na Praia, damos tudo isso por bem), proponho que, enquanto se estabelece o Pólo de Formação para o mar para Sotavento na Praia, se faça o mesmo em relação a jovens e profissionais da cintura da Paria, Interior de Santiago e de outras ilhas que não tem sido beneficiado (ou o tenha sido de forma humilhantemente desproporcional) com formações pagas por nós/governo, para que também eles possam se sustentar, contribuindo para mais divisas para o pais e para o desenvolvimento do setor nas suas ilhas!

Num dos números do jornal A Nação, apresentei os resultados económicos da criação de uma nova escola do mar no sul, fornecendo, complementarmente á sua congénere em Mindelo, mais algumas centenas de oficiais da marinha mercante e de pessoal de mestrança e marinhagem ao shipping nacional e particularmente ao internacional, o que permitirá a C.Verde e varias famílias, angariar em divisas, o correspondente a milhares de contos ao mesmo tempo que resolve parte importante do desemprego no sul do país. Filipinas tem 66 escolas marítimas, mais de 20% do PIB gerado pelo negócio de colocação de marítimos «abroad» e milhões de euros em remessas de marítimos para as famílias. Por isso, é mister que seja constituída a comissão para a instalação da escola do mar para sotavento (nas suas vertentes de localização/terreno, pessoal docente, equipamentos (simuladores …), biblioteca, etc com a brevidade possível e, para isso, todos devem contribuir, anulando o silêncio que se seguiu o tal anuncio tímido do governante, tendo havido, entretanto, como habitualmente, um enorme barulho durante a semana toda, á volta das restantes vertentes do projeto do campus ali para o norte! Quando é que as coisas mudam e todas as ilhas passam a merecer igual pressão em relação a seus projetos para o mar!!!???

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