Estranha-se que preço de muitos produtos (sobretudo o do óleo alimentar) já esteja a refletir o impacto da guerra, mesmo sabendo que esses produtos foram importados muito antes do início da guerra! Não deveriam continuar a ser vendidos no mesmo preço que vinha sendo vendido até então?
“Cabo Verde está exposto a condições bastantes adversas e uma variedade de riscos (…), porém, muitas vezes temos acreditado muito na sorte e descurado as medidas preventivas.” JMN-PR
Há dias, um amigo e colega de trabalho que é muito ferrenho, disse-me que o Governo liderado por Ulisses Correia e Silva, tem tido muito azar na sua governação, desde 2016: primeiro por causa dos três anos consecutivos de seca, depois a pandemia da COVID-19 e agora a guerra na Ucrânia; que por isso deveríamos ser mais moderados nas críticas feitas à atual governação. Concordei com ele, porém, disse-lhe também que esses factos têm ajudado muito o partido. O nosso diálogo ficou interrompido porque tocou o sino de entrada.
Essa discussão surgiu na sequência das recentes subidas dos preços do pão, dos combustíveis e, por ultimo, da inesperada subida do preço do óleo, justificando-se com a crise na Europa.
Na verdade, a par dessa surpresa perante o aumento exagerado do óleo alimentar que subiu em mais de 50%, houve mais três surpresas que ninguém esperava: i) a reação da Inspeção Geral das Atividades Económicas (IGAE) que diz que “infelizmente” não pode fazer nada porque “o mercado é liberalizado”; ii) o silêncio da Agência Reguladora Multissetorial da Economia (ARME) que é o órgão responsável para colocar ordem no mercado de preços e iii) a passividade do Governo perante todas essas preocupações.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO:
Face a essas inquietações, gostaria de deixar algumas questões para reflexão:
a) Se a IGAE não pode fazer nada, a ARME continuar em silêncio e o Governo sereno e sossegado, o que será do povo, num futuro próximo?
b) Cada comerciante pode aplicar o preço que entender aos seus produtos, sem nenhum controlo por parte das autoridades?
c) Haverá ou não regulação dos preços dos produtos por parte da ARME? Ou não tem essa competência?
d) Com essa escalada de preços, Cabo Verde não estará à beira da emergência alimentar?
Estranha-se que preço de muitos produtos (sobretudo o do óleo alimentar) já esteja a refletir o impacto da guerra, mesmo sabendo que esses produtos foram importados muito antes do início da guerra! Não deveriam continuar a ser vendidos no mesmo preço que vinha sendo vendido até então?
Por outro lado, por oportunismo e ganância, dizem também que muitos comerciantes já estejam a aproveitar a oportunidade para fazer açambarcamento de alguns produtos de primeira necessidade, para mais tarde virem explorar o povo através do mercado negro (especulação). E esses mesmos comerciantes, daqui a algum tempo, aparecerão em Workshop e na TV como exemplos de grandes empreendedores.
REAÇÕES DAS AUTORIDADES
Em Portugal, que é o nosso modelo político e principal fornecedor dos produtos alimentares e não só, o Primeiro-ministro, António Costa, já assegurou que “há neste momento reservas para assegurar que não haverá falta de bens essenciais em Portugal nos próximos tempos (…) e que se vai acelerar o processo de implementação de 100% das energias renováveis (…) ”, evitando a continuação da dependência energética dos dois países em conflito.
Da parte das autoridades cabo-verdianas já houve uma reação muito tímida por parte do Ministro da Agricultura, afirmando que “o governo vai adotar medidas para mitigar os impactos dos aumento dos preços dos produtos em decorrência da guerra na Ucrânia”. Só que ele não disse que medidas serão essas. No entanto, os produtos já começaram a subir. Até a gordura de porco que custava 500 escudos (5 litros) agora custa 800 ou mais.
O Presidente da República já veio ao público alertar “para se adotar uma cultura de poupança e evitar o consumismo, tendo em conta a crise (…) e para a implementação de uma gestão criteriosa dos bens por parte de todos [gestores públicos] ”.
Em relação ao governo, espera(va)-se alguma mensagem de esperança e tranquilidade e dizer que medidas de mitigação concretas serão essas que estejam já a ser preparadas, face à agudização da crise. Porém, os principais responsáveis continuam tranquilos, juntando-se ao povo que neste momento está a navegar num mar de incertezas.
Talvez o executivo esteja a acreditar muito na sorte crioula e descurando as medidas preventivas, conforme alertou o PR.
Portanto, não se sabe se há garantias de que não haverá ruturas dos géneros da primeira necessidade, num futuro muito próximo, se haverá alguma medida compensatória face aos aumentos e se Cabo Verde está ou não na iminência da emergência alimentar.
Sendo assim, resta-nos apenas depositar a nossa esperança em PUTIM que acabe logo com essa maldita guerra e, ao mesmo tempo pedir a DEUS que o cenário da FOME (di me divera) não bata à porta dos cabo-verdianos.
Assomada, 14 de Março de 2022.
Adalberto Teixeira Varela
Professor do ES
Comentários