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Argentina campeã do mundo. Honra e glória a Messi e vénia aos acólitos Enzo e Álvarez
Colunista

Argentina campeã do mundo. Honra e glória a Messi e vénia aos acólitos Enzo e Álvarez

Logo que abriu o campeonato mundial, muita gente, como eu – torcedor pela Alemanha – duvidou que a Argentina pudesse ir longe, ainda por cima com a derrota precoce ante a inofensiva Arábia Saudita. Os de Scaloni foram, entretanto, crescendo. E crescendo. Messi, obviamente, foi o pivot dessa metamorfose ‘pampa’, mas há dois elementos que foram essenciais ou preponderantes no jogo argentino: Enzo Fernandez e Alvarez. Onde não estava o génio, estavam eles, stoppers na defesa e bobinas na hora de acelerar a máquina ‘plata’.

Atrás, dois senhores, Martinez, com mãos e pés  milagrosos, e Otamendi, autoritário e ditatorial nos cortes e marcações. OS alpinistas argentinos provaram-no no jogo contra a Holanda – sabem atacar, mas se cansam com o tempo, a perseverança e sede do título lhes deu força nesses jogos – e contra a Croácia, time que tem toque de bola, eficácia de passe e talento q.b. para ir mais além.

Este jogo da final contra a França foi, de resto, recalque da partida com a Holanda. 2-0 inicial e quebra de ritmo até se permitir empatar, ir ao prolongamento e ganhar na sorte dos penalties. Num embate histórico – porventura a melhor final jamais disputada – Mbappé, com três golos numa final (!), sobressaiu a quinze minutos do fim. Durante toda a partida, não lhe permitiram rasgar a defesa com a sua estonteante velocidade. E quando  deram chance mostrou o que vale.

Sofrimento, drama, reviravoltas, lágrimas, houve de tudo na final do Mundial que apenas foi decidida nos penáltis, após o 3-3 que sobrou da montanha-russa dos 120 minutos de jogo. Porque houve, também, um hat-trick de Kylian Mbappé, príncipe-herdeiro do futebol, e dois golos de Lionel Messi, o dono do trono que finalmente, aos 35 anos e na despedida destes palcos, resgatou a Argentina para a conquista do terceiro Mundial da sua história. E, com que então, a coroa de Leo estava guardada para o fim.

Messi, para muitos, não esteve ao seu nível. Errado, Messi conteve o jogo, pausou o ritmo, acelerou quando era necessário e marcou quando era preciso. Génio, pois claro – o último desta geração rasa de futebolistas de primeira. Aliás, em sete jogos do Mundial foi eleito por CINCO vezes o melhor jogador em campo. Dá para comparar! Cio que nreão. Enfim, um recital de bola do génio de Buenos Aires, e que que ares!

A França foi a melhor seleção da copa Qatar 2022, pela coesão, pelo repentismo no ataque, com um super-Griezman como cérebro de uma equipa empenhada a atacar com poucos toques, e um Mbappé explosivo à frente da baliza. Grande França, grandes talentos. Mas a Argentina, que não era favorita, embora tenha chegado à Copa como campeã da América do Sul, jogou com o coração, com a sorte, com Mr. Messi. A ‘pulga’ mordeu todos eles e mereceu, pela carreira e pelo torneio, o troféu de melhor jogador. Enzo – que jogatana! – foi sem surpresa o melhor jovem e Martinez o guarda-redes do Qatar 2022. No jogo da final, Scaloni acreditou que estava tudo ganho na primeira parte, até substituir Di Maria (excelente jogo) e meter no relvado um desajeitado Acuña, que permitiu o crescimento dos gauleses até empatarem o jogo. Scaloni queria tapar a baliza, acabou destapando-a.

Como escreve o Expresso.pt, há quem acredite no poder oculto das coincidências, na obscuridade de energias que fazem mover coisas e que fazem deitar as cartas. Para os crentes, a substituição do delgado extremo pelo massudo Marcos Acuña terá remexido com as forças da Terra e alterou as tendências gravíticas desta final.

Porque aí a França despertou da letargia, sacudindo-se das correntes que a banalizaram durante mais de uma hora pela pista que a insuficiência auto-provocada da Argentina lhes deu. Com Di María se foi a única capacidade dos argentinos em arreliar adversários com um só jogador, além de Messi só ele havia. E um coxeio monumental começou aí.

Juntamente com a troca de Griezmann por Kingsley Coman, a França eletrificou-se com um desfibrilador, esperneou com vida, avivando-se cheia dela pela sua coqueluche precoce que tão discreta se mantivera até então. A iniciativa saltou para o lado de lá do campo, murchando a Argentina na sua ainda mais ultra dependência em Messi para criar e melhorando muito os gauleses a partir do momento em que Otamendi travou a corrida de Kolo Muani na área.

Há um momento especial que ‘Dibu’ Martinez gravou para a eternidade. Foi quando travou com o pé esquerdo o remate de Kolo Muani aos 117 minutos. Uma defesa que valeu uma Copa do Mundo. A terceira estrela para a Argentina de mister Kempes, D10s Maradona e conde Pompido.

Grosso modo, venceu a ‘Scaloneta’ – nome que se deu aos jogadores da Argentina de Lionel Scaloni – e o país dos pampas é tri-campeã mundial, outra vez, por causa de um único pé esquerdo de D10s, Messi, como fizera o titã, pai de Deus, Diego Armando Maradona em 1986.

No fim das contas, um Mundial, ab initium, desprezado, boicotado, discriminado, acabou por ser um campeonato do mundo de futebol ‘créme de la créme’, com muitas surpresas, tombos de gigantes (Alemanha, Espanha, Brasil), África entre os quatro (Marrocos) melhores, público imenso e respeitoso nos belos estádios. Houve jogos memoráveis, como o Inglaterra x França, nas meias-finais, Argentina x Holanda, na final, e claro, a final, seis golos em 120 minutos de futebol. Ganhou a equipa das pampas no totoloto dos penalties, com Martinez em destaque, Mpbappé a marcar três penalties ao mesmo guarda-redes num só jogo, e a classe de Messi a abrir o pontapé dos 11 metros com classe irreparável. Era o mundial dele, a vida dele, o jogo dele. E logrou esse feito, depois de perder a final de 2014 ante a Alemanha.

Nota: Gvardiol, da Croácia, para mim o melhor defesa central da prova e Mbappé é a promessa que o futebol tem futuro.

 

 

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SOBRE O AUTOR

Hermínio Silves

Jornalista, repórter, diretor de Santiago Magazine