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“A tua miséria não é a minha!”
Colunista

“A tua miséria não é a minha!”

Como a “A tua miséria não é a minha!”, se assim permanecer, vamos continuar a assistir o crescimento da miséria no seio da nossa sociedade, servindo apenas de um sustento ao assistencialismo e para manter no poder políticos populistas. Faz todo o sentido questionar, se a miséria do povo é a miséria dos nossos políticos?

Ao solicitar a autorização para um novo empréstimo no valor de 300 Mil Contos, com votos à favor da bancada do MPD, o executivo Municipal e a bancada do MPD , vieram demonstrar que a miséria do povo não é a sua miséria. Com o novo empréstimo para investir em asfalto e calçada, ficou claro que a “insegurança alimentar” não é prioridade neste executivo, mas sim a continuação de mais asfalto e calçadas.

Com o risco de uma recessão mundial e com o aumento do custo de vida, originado por acontecimentos que antes eram impensáveis, como a pandemia, a invasão da Ucrânia e os desastres climáticos, o ano de 2023 será um ano de muitas incertezas e principalmente para os países em desenvolvimento. Isto, obriga urgentemente a adoção de novas políticas, a médio e longo prazo e não a pensar em eleições.

Primeiro a pandemia veio reforçar-nos o quanto que somos um país dependente do exterior e das remessas dos emigrantes, e exigir que  Cabo Verde tenha um outro tipo de política, que permita a redução dos efeitos das crises, principalmente da Europa ou  dos EUA.

"O empobrecimento e a crise social que se avizinham, com o aumento dos juros e dos bens essenciais, por conta dos níveis de inflação inacreditáveis vão destruir as nações. Uma pequena analogia, basta ver Portugal que é o país da Europa mais próximo de nós, onde cerca de 4,4 milhões de pessoas são pobres ou estariam no limiar da pobreza se deixarem de ter  os apoios sociais."

O Reino Unido é o maior mercado emissor de turistas, com valores acima de 24%, a taxa de inflação era de 10,1%, em Julho, a mais elevada em 40 anos e com aumento dos preços 13% em outubro. Aguarda-se ainda, o aumento drástico dos preços de energia e segundo o banco central a economia irá encolher até o final de 2023.

Sejamos realistas, a pobreza aumentou na europa que é o principal continente emissor de turistas para Cabo Verde e da maioria dos emigrantes que contribuem  com as suas remessas para a redução  da nossa pobreza. Mesmo com todas essas incertezas para 2023, continuamos a elaborar projectos que não contribuem para a diminuição dos problemas dos cabo-verdianos, nem o reforçar numa aposta séria e contributiva na agricultura, transporte público ou eficiência energética.

Quando refiro a uma aposta na agricultura, não é para concorrer com as outras ilhas, mas sim,  para complementar, é uma das soluções  para o problema da fome ou "insuficiência alimentar" como o queiram chamar.

Isso tudo, para dizer que é tempo de pensarmos nossa Ilha do Sal, não  para ganhar as eleições, mas sobre, o que queremos deixar para as futuras gerações e, como queremos enfrentar os problemas que advêm.

Com todo este dinheiro,  a expropriação dos terrenos em Terra Boa e investir na produção de água e na preparação do solo, seria a melhor opção para ajudar a combater a pobreza e apresentar mais uma alternativa para turismo, através da agricultura industrial. O abandono de Terra Boa tem contribuído para o aumento das acácias e da diminuição dos lençóis freáticos.

Os transportes públicos, para  combater a desigualdade social, são uma alternativa ao asfalto e mais calçadas, e irão melhorar a vida dos salenses e dos que nos visitam. Atualmente, a utilização dos autocarros eléctricos, na maioria das cidades, vem diminuindo os custos dos bilhetes e em alguns Países ou cidades os transportes públicos são gratuitos. No caso particular do Sal, iria contribuir para a diminuição dos custo de vida e permitindo que os baixos salários  sejam compensados com passes sociais ou isenções.

Se querem continuar a investir no turismo, este empréstimo, junto com a taxa turística  que para o ano de 2022 ronda os 350 Mil contos, seria melhor empregue na construção do miradouro dos Espargos. Sendo um dos locais turísticos de visita obrigatória. A construção do miradouro iria contribuir para a valorização daquele espaço, gerar mais rendimentos e, com as receitas, melhor a vida das pessoas. Eis, aqui, uma opção pilar do tão falado sustentabilidade do turismo.

Outra excelente solução para aplicação do dinheiro público, é a instalação de painéis solares em todas as infra-estruturas municipais, principalmente os desportivos, contribuindo assim, para a redução da fatura da eletricidade e a diminuição do valor do aluguer dos recintos. Um exemplo que vem sendo implementado em vários países, contribuindo para a criação de instalações verdes.

Cito aqui o que li no jornal ... - “São 1.444 painéis que serão instalados, representando um valor estimado pela autarquia de cerca de 750 mil euros.”, um projeto da Câmara Municipal da  Tábua, Portugal que pode servir como exemplo.

Este tipo de projeto não tem grande visibilidade, mas são projetos necessários e a sua implementação é de fácil esquecimento por parte da população, o que os transforma em projetos não prioritários por uma certa classe política. Apesar de serem projetos a longo prazo e que contribuem para a sustentabilidade financeira dos municípios,  continuam a fazer parte da agenda política como uma simples tendência que não se efetiva.

A implementação deste projectos exigem alguma coragem política, sendo projetos pouco populares, principalmente se não forem executados com alguma seriedade e com cuidado para que o mesmo possa beneficiar o maior número possível de pessoas. Uma boa comunicação é importante para que todos consigam entender estes projetos e a sua importância no combate à pobreza e projetar o desenvolvimento da Ilha e do País.

Reforço, que é o momento certo para que tenhamos projetos realmente estruturantes que contribuam para o desenvolvimento da nossa Ilha e do nosso país e, deixemos de utilizar a palavra estruturante para classificar projetos como calçadas e asfalto dentro das cidades, sem nenhum tipo de planeamento e que não contribuem para erradicar a miséria.

Ficou claro que a prioridade do MPD-Sal, executivo camarário liderado por Júlio Lopes e a bancada da Assembleia, não é criar alternativas ao turismo e protagonizar a tão propalada felicidade das pessoas, ou seja a desonestidade intelectual continua a ser a prioridade dos nossos políticos. Num momento  onde convivemos com muitos problemas conjunturais que deveriam trazer alguma aprendizagem como foi a pandemia do Covid-19. Os políticos não conseguem ou não lhes interessam ver além das calçadas, e criar projetos que resolvam realmente os problemas das pessoas.

Como a “A tua miséria não é a minha!”, se assim permanecer, vamos continuar a assistir o crescimento da miséria no seio da nossa sociedade, servindo apenas de um sustento ao assistencialismo e para manter no poder políticos populistas. Faz todo o sentido questionar, se a miséria do povo é a miséria dos nossos políticos?

 

 

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