A Queda de Ulisses: Como a Arrogância Afundou o MpD
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A Queda de Ulisses: Como a Arrogância Afundou o MpD

A derrota do MpD nas eleições autárquicas é um chamado urgente para reflexão e ação. Persistir nos mesmos erros e ignorar os sinais evidentes de insatisfação popular será o prelúdio de uma ruína ainda maior. O povo de Cabo Verde demonstrou que não tolera mais a arrogância, a corrupção e a ineficiência. Cabe agora ao MpD decidir se deseja trilhar o caminho da renovação ou se resignar ao ostracismo político.

A recente derrota do MpD (Movimento para a Democracia) nas eleições autárquicas representa um marco histórico para o partido, mas, acima de tudo, expõe o fracasso da liderança de Ulisses Correia e Silva. Nunca antes o MpD sofreu uma humilhação eleitoral tão retumbante, revelando uma crise de identidade e um distanciamento preocupante entre a sua cúpula e as necessidades do povo cabo-verdiano.

Ulisses Correia e Silva conduziu o partido como se fosse sua propriedade pessoal, uma verdadeira taberna política, desprovida de organização democrática interna e de respeito pelos seus próprios militantes. Este resultado desastroso não é apenas uma derrota eleitoral, mas um reflexo claro da teimosia e da incapacidade de adaptação de um líder que insiste em ignorar os sinais de descontentamento vindos de todos os quadrantes.

A Mensagem Inequívoca das Urnas

Os resultados das eleições autárquicas não deixaram dúvidas: o povo das ilhas enviou uma mensagem cristalina ao Primeiro-Ministro, declarando que o país está doente. Crises profundas no setor da saúde, falhas gritantes nos transportes marítimos e aéreos, e uma crescente desigualdade social ilustram o cenário de decadência em que o país mergulhou. Esta derrota foi mais do que um mero revés eleitoral; foi o reflexo de um governo que perdeu a capacidade de ouvir e de agir em benefício do povo.

As Causas de uma Derrota Histórica

A derrota do MpD pode ser atribuída a múltiplos fatores interligados que revelam o esfacelamento da sua estrutura e a desconexão de sua liderança com a realidade.

1. Arrogância e Desrespeito aos Adversários
Durante a campanha, o partido demonstrou uma postura arrogante, chegando ao ponto de usar expressões desrespeitosas como “entregar a chave porque a chave é nossa”. Esta retórica não apenas alienou os adversários, mas também afastou eleitores que esperavam uma atitude mais humilde e responsável.

2. Erros Estratégicos na Comunicação Visual
Um dos exemplos mais emblemáticos foi a utilização da imagem de ministros em cartazes eleitorais. Nos Mosteiros, por exemplo, colocar a imagem da ministra das Infraestruturas, conhecida por ter paralisado obras importantes, foi um tiro no pé. A presença de figuras desgastadas, como Olavo Correia e Elísio Freire, apenas reforçou a percepção de que o partido está atolado em práticas desgastantes e divisões internas.

3. Divisões Internas e Exclusões Arbitrárias
O partido está dividido, e essa fragmentação é resultado direto da postura de Ulisses Correia e Silva, que excluiu membros capazes e experientes por questões pessoais. A crença de que poderia vencer eleições sem essas pessoas revela um grau alarmante de soberba e miopia política.

4. Mentiras e Manipulação das Sondagens
A escolha de candidatos foi outro ponto crítico. Na Praia, ficou evidente que Abraão Vicente era um nome inadequado para a capital, e mesmo assim, foi imposto. Isso evidenciou a manipulação de sondagens e a falta de abertura para alternativas mais viáveis dentro do partido.

5. Reflexo de uma Situação Interna em Colapso
A derrota é o espelho da crise interna que já vinha dando sinais desde as eleições presidenciais. O MpD transformou-se em um palco de promessas vazias, corrupção, nepotismo e favorecimentos escandalosos a familiares e amigos do governo.

O Caminho para a Redenção

Para salvar o MpD de um colapso iminente, são necessárias mudanças profundas e imediatas:

1. Remodelação Governamental Urgente
É imprescindível uma redução significativa no número de membros do governo e a extinção de figuras supérfluas, como a do Vice-Primeiro-Ministro.

2. Resolução das Crises no Transporte e na Saúde
Medidas concretas e eficazes devem ser tomadas para sanar os problemas nos transportes e na saúde, setores que têm impactado diretamente a vida dos cabo-verdianos.

3. Mudança de Liderança no MpD
Ulisses Correia e Silva deve reconhecer sua responsabilidade e renunciar à liderança do partido. Um novo líder, sem os vícios de poder e com uma visão renovada, é essencial para restaurar a credibilidade do MpD e reconquistar a confiança dos eleitores.

A derrota do MpD nas eleições autárquicas é um chamado urgente para reflexão e ação. Persistir nos mesmos erros e ignorar os sinais evidentes de insatisfação popular será o prelúdio de uma ruína ainda maior. O povo de Cabo Verde demonstrou que não tolera mais a arrogância, a corrupção e a ineficiência. Cabe agora ao MpD decidir se deseja trilhar o caminho da renovação ou se resignar ao ostracismo político.

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Comentários

  • Carlos Reis, 3 de Dez de 2024

    A acrescentar-se a tudo isso temos também o problema dos professores, muitos a passarem por penúrias, com salários em atraso já lá vão quase 4 meses, sem falar das pendências de várias outras classes profissionais com a promessa de que as reivindicações já estariam resolvidas este ano.
    Ou estamos perante um governo de gente mentirosa, ou incapaz de se comunicar de forma séria e assertiva

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  • Maurino de camões Brito Delgado, 2 de Dez de 2024

    E mais do que evidente que o Drº UCS não está em condições de continuar à frente do MPD e nem como Primeiro-Ministro. Que tenha consciência disso no interesse do Partido e de Cabo Verde!

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  • Casimiro centeio, 2 de Dez de 2024

    * nas estantes duma biblioteca...

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  • Casimiro centeio, 2 de Dez de 2024

    Os erros pecaminosos de Ulisses são um rol catastrófico que não cabe explicar neste pequeno espaço.Talvez nem caiba nos estantes duma biblioteca. Para mim, os mais graves estão relacionados com a sua fraca/mediocre competência e com o auge da corrupção, que se vem disseminando por todo o país e a nível internacional.
    A corrupção é a genetriz da maior parte dos vícios que pervertem a sociedade.

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