A cultura da originalidade e a 4ª revolução tecnológica
Colunista

A cultura da originalidade e a 4ª revolução tecnológica

Cabo Verde não deve sonhar muito, mas sim orientar-se humildemente ás provas e modelos de sucessos capazes de indicar-nos caminhos outros que a sempre eternal Ajuda Cooperação ao Desenvolvimento... os chamados, países emergentes, deviam ser seguidos pelas pequenas economias e paises sobretudo pelos “periféricos”, como é o caso de Cabo Verde, criando condições para as oportunidades de instalação da chamada Quarta Revolução Industrial que devem ser abraçadas e assimiladas, tendo em consciencia que essa inovação trará consigo a possibilidade de aprender, desaprender e reaprender em rápida sucessão o que permitirá uma adaptação a elas, para o bem e progresso desta nação jovem trazendo a ou mais felicidade para o povo das ilhas, com a prática da justiça social...

“… para Bruna Lopes & David Lopes …”

Cabo Verde, nossas dez ilhas, é uma nação, um povo, uma “mistura”, que tem a capacidade de enriquecer ou distorcer a sua própria “ótica preceptiva”, o que potencializa o que podemos chamar de “pensamento lateral”... Vou justificar-me melhor, olhando para o passado, mais precisamente para os anos 30 do século anterior orientando-me para a perturbada resposta solução apresentada no ensaio, do investigador cultural portugues Manuel Ferreira, “ A Aventura Crioula” quando defende a alegação que Cabo Verde não é nem África nem Europa, optando talvez apressadamente para o “simplicismo”: Cabo Verde é igual a Cabo Verde...

Entretanto o próprio título da obra é bastante esclarecedor e a simbiose manifesta-se para mim, assim: se Cabo Verde é igual a África, a África não é igual Cabo Verde, na certeza porém que Cabo Verde não é igual á Europa. Sim é verdade mas somos Africanos!

Entendi o problema nosso como nação descurando ainda “neste tempo moderno” a cultura da nossa própria originalidade, quando os parlamentares na sessão do dia 25 de Março de 2021, num esforço inútil pseudo-intelectual (político partidário) propondo uns como ideia da data de nascimento de um patrono autóctone outros originalmente, o dia data internacional da celebração da Mulher Africana para incarnar, celebrar ou festejar oficialmente o “Batuco “, a manifestação cultural cabo-verdiana de essência a 100% africana, que só agora, é que mereceu ser elevada á categoria de Património Nacional…, proposta inicial indicava, também, como data da celebração, o dia da Mulher Africana!

O “Batuco” manifestação cultural essencialmente celebrada pela Mulher Cabo-verdiana, que também é Africana, mais que qualquer outra actividade cultural cabo-verdiana, marcou e assegurou significativamente, desde os tempos remotos, a resiliência da nossa sociedade arquipelágica a “grandes mudanças” e teve força persuasiva durante a Revolta de Rubon Manel, aqui na ilha de Santiago... o poeta Caboverdiano Dambará já tinha cantado em prosa, sábiamente que “ ... batucu m ka sabi é cusé, nu nasi no athal, no ta mori nu ta dexal ...” (que os estudiosos da lingua nacional desculpem as gralhas, mas ainda não há suporte escolar para a nossa lingua !!).

A quarta revolução ou o salto tecnologico que se avizinha e a retoma pós Covid19, representam desafios superlativos para a nossa pequena economia de subdesenvolvimento o desafio que temos pela frente, testará não sómente a nossa   capacidade de inovação a dispositivos tecnológicos, mas, ainda mais significativamente, a resiliência cultural nas nossas dez ilhas, a grandes mudanças, e felizmente, temos barreiras resistentes tais como Batucu, Tabanca, Funana e outros mais...

Cabo Verde, como país implantado no atlantico á beira da mãe Àfrica continental, é  também por laços geoestratégicos, culturais e históricos, país “periférico” ao mundo ocidental.

Os valores ocidentais que nos legaram a colonização, que se identificam com a civilização greco-romana e com o cristianismo-judaísmo, não tinham outros propósitos que conquistas e explorações e não eram claros. porque desde o início o mundo ocidental que nos colonizou teve problemas de identidade não resolvidos. Sua longa coexistência com muçulmanos e judeus e a reação de um fundamentalismo católico que se fechou ao Renascimento e ao Iluminismo tornaram aquele mundo um componente complexo,  amalgamado em circunstâncias cheias de dramas com o vergonhoso negócio de esclavagismo africano e muitas outras traumas ainda por estudar ou esclarecer... O resultado foi uma identidade plural forçada e complicada. Uma identidade sujeita a conflitos sociais, morais, religiosos, economicos e presupostamente psicológicos, fazendo emergir a busca de uma raiz conciliadora que foi permanentemente esquiva, sobre a presuposta ideia de trazer a civilização a outros mundos...os menos cultivados...!!

Cabo Verde viveu cinco séculos, de colonização com a condição de povo da periferia ocidental com herança e cultura africana mais que evidente e esta condição, dotou-nos de uma forma particular de pensar e viver a nossa propria capacidade de sobrevivencia (verificou-se e provou-se, que estávamos abandonados á nossa própria força cultural e inteligencia humana) conseguindo movermos-nos dentro da lógica convencional, de criamos como povo e nação, um importante reservatório de intuição e imaginação com o qual  impregnamos o nosso existencialismo como país nação uno e indivisivel sob a sigla e marca cultural que identificamos como: caboverdinidade e ou morabeza.

Não precisamos procurar experiencia outra que o modelo da China, que poucos anos atrás era país do terceiro mundo, hoje emergente e ainda por enquanto secalhar por apenas mais dez anos segunda potencia economica, antes de ascender á liderança como primeira potencia economica mundial, salto garantido, graças á transferencia de tecnologia, mudanças económicas e domínio da alta revolução tecnologica. Cabo Verde não deve sonhar muito, mas sim orientar-se humildemente ás provas e modelos de sucessos capazes de indicar-nos caminhos outros que a sempre eternal Ajuda Cooperação ao Desenvolvimento... os chamados, países emergentes, deviam ser seguidos pelas pequenas economias e paises sobretudo pelos “periféricos”, como é o caso de Cabo Verde, criando condições para as oportunidades de instalação da chamada Quarta Revolução Industrial que devem ser abraçadas e assimiladas, tendo em consciencia que essa inovação trará consigo a possibilidade de aprender, desaprender e reaprender em rápida sucessão o que permitirá uma adaptação a elas, para o bem e progresso desta nação jovem trazendo a ou mais felicidade para o povo das ilhas, com  a prática da justiça social...

Associando os talentos socioculturais, profissionais e investimentos da nossa diaspora ao processo de um desenvolvimento verdadeiro de Cabo Verde, com método, sistematicidade e disciplina, solidificado nas âncoras de conhecimentos aceitos, e feitos cientificos abordaveis dado que os recursos não abundam por estas bandas e adoptando a fluidez do salto tecnológico, Cabo Verde poderá efectuar a mudança qualitativa há muito,desejada em todas as nossas ilhas habitadas...

miljvdav@gmail.com

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