O presidente da Associação de Apoio aos Doentes Evacuados de Cabo Verde (Girassol) em Portugal avisou hoje que a sustentabilidade e a continuidade da organização estão em risco, por falta de meios para ajudar quem a procura.
Em conversa com à Inforpress em Lisboa, Peter Mendes, presidente da associação desde 2018, explicou que para prestar o apoio humanitário, psicossocial e de mediação intercultural, a Girassol Solidária, como é mais conhecida, recorre aos financiamentos, nomeadamente da União Europeia, o que está “cada vez mais difícil” e acaba por se revelar “um desafio muito grande para a sobrevivência” da instituição.
“Girassol é um projecto muito importante, só que a sua sustentabilidade ou a sua continuidade está em risco, porque para poder continuar, pessoas têm que sacrificar-se para a porta continuar aberta, mas só que isso não é sustentável”, frisou o presidente, indicando que o protocolo financeiro que tem com a Embaixada de Cabo Verde em Portugal é único e exclusivo para a gestão de apartamentos.
Ainda, entre 2017 e 2020, a associação teve uma parceria com a Câmara Municipal de Lisboa, em que foi possível ter um funcionário remunerado, o que é “mais confortável”.
Segundo o responsável, é com esses tipos de financiamentos que a associação consegue ter uma pessoa a trabalhar como funcionário remunerado, o que não acontece neste momento, já que os financiamentos que recorrem sempre têm um ‘timing’, por isso, actualmente, o Girassol está a tentar estudar uma forma de ter um financiamento contínuo.
Peter Mendes acredita que neste momento, quem consegue fazer algo para que a associação não feche a porta, é o Estado de Cabo Verde, porque o que a mesma tem estado a fazer, “directa ou indirectamente, é contribuir para a dignidade das pessoas para a redução de custos por parte do Estado de Cabo Verde”.
“Se não for o Estado de Cabo Verde a dar um apoio contínuo ou tentarmos perceber de que forma será possível esse apoio, a associação poderá terminar, porque a forma que sempre houve, de instituições darem respostas a nível de voluntariado, já não existe”, garantiu o presidente do Girassol.
Desde a sua criação, em 2007, a associação já apoiou mais de 700 pessoas, sendo que alguns doentes recebem o apoio do Girassol desde o início, por serem doentes a fazer hemodiálise.
Em 2021, a associação apoiou mais de 200 pessoas, entre doentes e também emigrantes que procuram apoio da associação, disse Peter Mendes, esclarecendo que apesar do foco de actuação ser as pessoas que estão em tratamento, às vezes recebem emigrantes à procura de apoio e não podem negar.
“Durante muitos anos, pessoas que vinham para tratamento a Portugal, se não tivessem amigos ou familiares para as receberem, ficavam em pensões que acabaram por fechar. Naquela altura, quando chegavam as pensões, os doentes mais antigos traziam-nas ao Girassol. Normalmente, os mais antigos mostram a associação, mas também chegam através do gabinete da embaixada, hospitais e outras instituições”, contou.
A Associação Girassol já recebeu, entre outras personalidades, por acreditar que fazem um trabalho “importante”, visitas do anterior Presidente da República, e do ministro da Saúde, Arlindo do Rosário, com o qual, em uma reunião, deram a conhecer o projecto e apresentaram uma proposta de apoio, que estão a aguardar uma resposta.
Girassol trabalha com três valências, sendo uma delas no Gabinete de Apoio Sócio-legal, em que prestam o apoio social e legal a nível de legalização, da alimentação, dos vestuários, de esclarecimentos.
Existe ainda a valência de acompanhamento ao serviço externo, em que, se for necessário, acompanham os doentes às instituições, nomeadamente Serviços Estrangeiros e Fronteiras (SEF), hospitais e outras que forem necessárias.
Por fim, há a valência do acolhimento em residência, em que a associação tem três apartamentos que gerem, através do protocolo com a Embaixada de Cabo Verde, onde acolhem as pessoas durante o seu período de tratamento.
A Associação Girassol é uma organização sem fins lucrativos que apoia doentes transferidos de Cabo Verde e, antes da pandemia da covid-19, os doentes também podiam deslocar-se diariamente à sede da instituição para diversos fins, ou simplesmente para um momento de lazer, ouvir música ou jogar oril, a fim de aliviar um pouco as saudades da terra longe.
Comentários