O julgamento do advogado Amadeu Oliveira prossegue hoje, as 15:00, em São Vicente, com a auscultação do deputado Démis Almeida, na qualidade de testemunha indicada pela defesa, a partir do Tribunal do Sal, com recurso a videoconferência.
A mais recente sessão da audiência de discussão e julgamento decorreu na tarde de sexta-feira, 16, e foi um momento em que defesa e Ministério Público marcaram as suas posições opostas sobre a junção, o uso e a reprodução de declarações de deputados e do arguido no parlamento e fora dele.
A defesa, conforme prometera no período da manhã, avançou com um pedido de impugnação e requereu que fosse declarado ilegal a junção, o uso e a reprodução de todo o conteúdo das declarações dos deputados e do próprio arguido, quer em sede do parlamento, e/ou fora da Assembleia Nacional.
O Ministério Público não corroborou desta posição da defesa e pediu que essas declarações/documentos sejam valoradas na parte que dizem respeito às declarações do arguido, e em relação aos demais intervenientes as declarações prestadas na qualidade de testemunha.
Sobre esta questão suscitada pela defesa do advogado Amadeu Oliveira, a juiz-presidente do colectivo informou que o tribunal fará um pronunciamento posteriormente.
Este é um processo que se encontra em julgamento desde o dia 29 de Agosto e em que ao advogado Amadeu Oliveira é imputado dois crimes de “responsabilidade de titular de cargo político”, um dos quais na modalidade de atentado contra o Estado de Direito e o outro de coacção ou perturbação do funcionamento de Órgão de Soberania, e ainda dois crimes de ofensa a pessoa colectiva.
Trata-se, de acordo com o tribunal, de crimes que “não são comuns” no sentido de não serem julgados com frequência.
Até a passada terça-feira, 13, o tribunal tinha contabilizado 48 horas e 11 minutos de sessões de julgamento gravadas sem que ainda se tenha concluído a audiência de discussão e julgamento da causa, pois resta produzir mais prova, para além das alegações finais e mais declarações que o arguido deverá prestar.
Dados compilados pela Agência Inforpress, no Mindelo, indicam que este processo-crime é constituído, neste momento, por sete volumes que ascendem às 2.660 páginas.
Isto sem contar com um volume de 172 páginas referente ao processo disciplinar instaurado ao agente da polícia de fronteiras, o supervisor José de Morais, um auto de recurso ordinário de 228 páginas, um auto de reclamação crime de 230 folhas e ainda o despacho de pronúncia, de 18 folhas, sendo a matéria de facto constituída por 145 pontos.
O arguido apresentou ainda a sua contestação em 14 páginas.
Relativamente aos intervenientes processuais, a causa tem um arguido e 22 testemunhas arroladas, dos quais dois deputados da Nação, num processo que se destaca, de acordo com o tribunal, daquilo que é “a normalidade processual” pela sua “vastidão”.
O colectivo de juízes que julga a causa é constituído por três magistrados judiciais, a acusação está a cargo de dois magistrados do Ministério Público e a defesa do arguido é suportada por uma equipa de cinco advogados.
O advogado Amadeu foi detido no dia 18 de Julho de 2021 e, dois dias após a detenção, o Tribunal da Relação do Barlavento, sediado em São Vicente, aplicou a prisão preventiva ao então deputado nacional eleito nas listas da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID) pelo círculo eleitoral de São Vicente.
No dia 14 de Fevereiro, como resultado de uma Audiência Preliminar Contraditória, Amadeu Oliveira foi pronunciado nos crimes que vinha acusado e reconduzido à Cadeia Central de São Vicente onde continua em prisão preventiva.
Em 29 de Julho, a Assembleia Nacional aprovou, por maioria, em voto secreto, a suspensão de mandato do deputado, pedida em três processos distintos pela Procuradoria-Geral da República (PGR), para o poder levar a julgamento.
Em causa estão várias acusações que fez contra os juízes do Supremo Tribunal de Justiça e a fuga do País do condenado inicialmente a 11 anos de prisão por homicídio – pena depois revista para nove anos – Arlindo Teixeira, em Junho do ano passado, com destino a Lisboa, tendo depois seguido para França, onde está há vários anos emigrado.
Arlindo Teixeira era constituinte de Amadeu Oliveira, forte contestatário do sistema de Justiça cabo-verdiano, num processo que este considerou ser “fraudulento”, “manipulado” e com “falsificação de provas”.
Amadeu Oliveira assumiu publicamente, no parlamento, que planeou e concretizou a fuga do condenado, de quem era advogado de defesa, num caso que lhe valeu várias críticas públicas.
Os comentários publicados são da inteira responsabilidade do utilizador que os escreve. Para garantir um espaço saudável e transparente, é necessário estar identificado.
O Santiago Magazine é de todos, mas cada um deve assumir a responsabilidade pelo que partilha. Dê a sua opinião, mas dê também a cara.
Inicie sessão ou registe-se para comentar.
Comentários