Covid-19. Riu Karamboa ameaça com falta camareiras que não forem trabalhar
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Covid-19. Riu Karamboa ameaça com falta camareiras que não forem trabalhar

O hotel Riu Karamboa, onde já foram registados dois casos do novo coronavírus em Cabo Verde e que está de quarentena, ameaçou com falta as camareiras que não forem trabalhar a partir desta segunda-feira, 30. Abaladas pelo confinamento, exigem testes o mais breve possível.

“Até agora, temos estado apenas nos quartos e sem trabalhar. Mas comunicaram-nos hoje que temos de começar a trabalhar a partir de segunda-feira e quem não for trabalhar tem falta”, revelou indignada, à agência Lusa, uma das cerca de 20 funcionárias abrangidas pela decisão do Riu Karamboa, um hotel cinco estrelas, com capacidade para 2 mil camas, quatro restaurantes, cinco bares/lounge e com dormidas a partir de 18 contos por casal.   

O primeiro caso de Covid-19 em Cabo Verde foi anunciado na Boa Vista no dia 19 de março, um cidadão inglês de 62 anos que morreu dias depois e foi enterrado na ilha.

O Governo colocou a ilha de quarentena até 4 de abril, com cerca de 850 pessoas no hotel, entre elas turistas, que já foram para os seus respetivos países, e cidadãos cabo-verdianos, incluindo 210 funcionários. Entretanto, no sábado, depois da declaração do Estado de Emergência, foi anunciado mais um caso no mesmo hotel, um técnico de manutenção, que passou a ser o segundo de infecção local.

Depois deste caso, funcionários revelaram que vão ter de ficar por mais tempo confinados aos quartos do hotel, mas sem uma data concreta, de modo que este domingo, 29, informaram que um responsável pelas camareiras convocou todas para se apresentarem ao trabalho a partir de segunda-feira, ameaçando com falta quem não comparecer.  

O problema, contaram à Lusa, é que nenhum dos quartos dos turistas foi desinfectado até agora, pelo que temem por algum contágio, não só nestes, como noutros espaços e entre elas.  

Outra funcionária disse que vão reunir-se na segunda-feira para decidirem se vão arrumar ou não os quartos do hotel, já que todas temem pela sua saúde, denunciando que até agora nem o quarto onde o turista inglês permaneceu foi desinfetado. 

Há mais de uma semana de quarentena, os funcionários reclamam também do facto de até agora nenhum ter sido sujeito a teste, excepto um caso suspeito, que deu negativo e o trabalhador foi para casa.

“Pelo menos se desse negativo poderíamos ir para casa também. Todas aqui têm família, filhos que todos os dias nos perguntam quando é que vamos para casa”, desabafou a funcionária, recordando que viu o técnico pelo menos duas vezes no refeitório do estabelecimento hoteleiro.

“Estamos desanimadas. Um dia dão-nos uma notícia boa, mas no dia seguinte recebemos uma notícia má”, reclamou desesperada a camareira, que pede “ajuda de todos”.

Na página criada pelo Governo sobre a doença, é referido que as pessoas que foram expostas ao novo coronavírus ou que regressaram de um lugar com transmissão local correm o risco de ser infetadas pelo vírus e devem praticar o autoisolamento por 14 dias. A Lusa tentou contactar a administração do hotel, mas sem sucesso.

Entretanto, abordado sobre o assunto, o secretário do Sindicato de Transportes, Telecomunicações Hoteleira e Turismo (SITTHUR), Carlos Lopes, explicou que, neste caso, trata-se de um supervisor que “quer mostrar serviço”, tendo criado um clima de mal-estar interno.

“É uma atitude a todos os títulos condenável, que contribuiu para agravar ainda mais o estado psicológico dos funcionários, que estão há mais de 10 dias em quarentena”, criticou o sindicalista, adiantando que vai ver esta situação com a administração do hotel.

Carlos Lopes também criticou o facto de até agora os funcionários não terem sido submetidos a testes de despiste do novo coronavírus, considerando que o hotel poderá ser um “fator de contágio”, com essa quarentena a renovar-se a cada caso confirmado.

O secretário do SITTHUR adiantou que vai entrar em contacto com o ministro da Saúde, Arlindo do Rosário, dando a conhecer o que se passa no estabelecimento hoteleiro, onde os funcionários também reclamam da falta de comunicação por parte das autoridades do país.

“Por exemplo, tomaram conhecimento que um colega estava infetado por meio das redes sociais, isso é inadmissível”, disse indignado o sindicalista cabo-verdiano.

O primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, incentivou esta semana o teletrabalho e o trabalho a partir de casa, salientando que “em nenhuma circunstância ficarão os trabalhadores prejudicados no seu vínculo laboral e no seu salário”.

No sábado, o Presidente cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, declarou a situação de emergência no país por 20 dias, uma medida para intensificar o combate ao novo coronavírus, que regista seis casos, entre as ilhas da Boa Vista e de Santiago.

Detetado em dezembro de 2019, na China, o novo coronavírus já infetou mais de 667 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 31.000.

Dos casos de infecção, pelo menos 134.700 são considerados curados.

Com Lusa

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