Sociedade

Um dos dois médicos do Hospital Agostinho Neto com coronavírus é, afinal, pediatra e terá uma relação próxima com o outro médico positivo ao Covid-19, que teria estado na zona de tratamento dos pacientes com o pandémico vírus. Esta manhã, dezenas de profissionais de saúde estiveram à porta do HAN a exigir que se lhes façam testes porque desconfiam do seu quadro clínico.

O director nacional da Saúde confirmou ontem, 27, que pelo menos dois dos 16 casos positivos ao Covid-19 surgidos neste domingo são referentes a dois médicos do Hospital Agostinho Neto. O que Artur Correia não disse, e que Santiago Magazine considera ser do interesse público a sua divulgação, é que um desses profissionais de saúde é, na verdade, uma médica pediatra que trabalha há algum tempo na pediatria do hospital central da Praia.

Este dado eleva os níveis de preocupação e alerta para uma observação mais cuidada a toda a pediatria e sobretudo às crianças internadas nessa secção do HAN, assim como seus familiares e funcionários que estiveram em contacto directo com a referida médica.

Como contraiu a doença? Às antenas da TCV esta tarde, o presidente do Conselho de Administração do HAN, Júlio Andrade, garantiu que esses profissionais de saúde contraíram a doença fora do quadro do seu trabalho, ou seja, não em tratamento de pacientes com Covid-19. Mas, segundo sabe este jornal, a médica terá uma relação muito próxima com outro médico (também pediatra e que também circula pela maternidade), que terá passado pela zona de tratamento dos doentes com Covid-19 e que foi o primeiro caso positivo entre os profissionais de saúde.

Júlio Andrade, na sua declaração, fez saber que na verdade são quatro os profissionais de saúde com coronavírus no HAN e não dois (não falou em médicos mas sim profissionais de saúde), versão que encontra eco na posição de outra fonte deste diário digital, segundo a qual haverá também enfermeiros eventualmente com Covid-19 no hospital central da Praia.

E em declarações ao Santiago Magazine, o PCA do HAN não quis revelar, entre os quatro casos positivos no Hospital Central da Praia, quem é médico ou quem é enfermeiro, “para evitar que as pessoas comecem a entrar em pânico. Se disser alguma coisa estarei a denunciar a sua identidade”. Ainda assim, explica que houve um primeiro caso positivo entre os técnicos de saúde e que depois surgiram mais três. E que entre os quatro há sim um casal, insistindo em não revelar mais informações relevantes para se perceber como o coronavirus vem se propagando na população. “Em relação ao primeiro caso, foram feitos testes aos contactos identificados e todos deram negativo”, garantiu, acrescentando, que serão feitos os mesmos procedimentos em relação aos contactos dos outros três casos descobertos. A médica e os restantes quatro tecnicos de saúde com Covid-19 foram colocados em isolamento seguindo os protocolos.

Questionado por este jornal sobre o respeito ao distanciamento que obriga os próprios profissionais de saúde a afastarem-se dos seus familiares, Júlio Andrade reconheceu que todas as recomendações foram comunicadas e que inclusive o HAN disponibilizou todos os equipamentos de protecção necessários para evitar o contacto entre eles. “E equipamento não falta”, reforçou, notando a propósito, que o HAN teve de “dispensar alguns técnicos com problemas de alcoolismo que poderiam colocar em risco o ambiente de trabalho”.

Com efeito, fonte do HAN, que preferiu falar em anonimato para evitar represália, diz que boa parte dos profissionais de saúde no principal centro hospitalar do país está apreensiva com seu estado de saúde. Por isso, um grupo de dezenas desses técnicos, entre médicos, enfermeiros e ajudantes de serviços gerais, esteve esta manhã à porta do espaço montado pelo hospital para cuidar de pacientes com Covid-19 a exigir que lhes seja feito o teste de despistagem. O PCA do HAN confirmou esta informação e apelou à calma dos profissionais que, sob sua tutela, trabalham no HAN.