Voto como Moeda Fiduciária e Políticas Públicas & Voto como Transmissão de Poder e Confiança
Ponto de Vista

Voto como Moeda Fiduciária e Políticas Públicas & Voto como Transmissão de Poder e Confiança

Abre-se dentro de dias o Mercado Eleitoral Autárquico. Os laboratórios partidários já estão a funcionar a todo o vapor no sentido de escolher os seus Vendedores de Promessas e Mercadores de Expectativas. O trabalho, ouve-se por ali, não está sendo fácil. Nas hostes partidárias muitos querem ser o escolhido e quase ninguém possui honorabilidade e confiança do cidadão-eleitor, cansado e desiludido com a polarização ideológica, existente no país, e que prefere reger a sua opção de escolha pela racionalidade individual. Todavia, crentes na forjada entidade abstrata - o povo, os partidos políticos vão ensaiar e deixar escapar nomes de alguns vampiros para a ciranda coletiva. 

Apercebe-se, no terreno, estando com as pessoas, que o juízo público está contra a polarização política e social, bem como a ineficácia por ela instituída. Porém, convém esperar pela sentença desta opinião pública no dia das eleições. Ao cidadão-eleitor e/ou ao povo importa a compreensão de que o seu Voto é tanto um Elemento de transmissão do Poder Originário, dele, para o seu representante, como é, também, um Instrumento Fiduciário para aquisições de bens e serviços, através de Políticas Públicas, com superior valor e interesse para aqueles que mais precisam desses bens. Ao compreender tais significados, o cidadão-eleitor precisa também saber que a sua escolha deve ser em perfis de indivíduos que lhe garantam confiança, competência e proximidade, de forma a majorar o eventual princípio virtuoso da autonomia dos representantes e garantir o utilitarismo da política, pela justa e equitativa distribuição de bens e serviços. 

De outro modo, escolhas suportadas em inabilitadas e ocas ideologias promovem a incapacidade de uma boa tomada de decisão do representante e criam distanciamentos excessivos e iníquos entre os interesses do cidadão e os interesses e ações concretas dos representantes. A alerta aqui vai mais no sentido da assertividade do cidadão na escolha do representante que ele presume, competente e com melhores condições de o representar e lhe proporcionar políticas públicas justas e equitativas, do que na escolha com base na crença ideológica do partido-marca. Ou seja, vendo pela explicitação destes significados do voto, o Cidadão Fiel deve evoluir-se para o Cidadão Assertivo, que age pela lógica de todo integral e não como mera soma de partes com interesses isoladas e divergentes. 

O que importa mesmo é que todos tenham a fé no voto e na ação política para manter acesa a expectativa utilitária no interesse dos agregados. Em correlação com o significado do voto, apraz também registar, aqui, para o cidadão leitor, que, em especial, o partido que sustenta o Governo já está a efetivar e a comunicar, permanentemente a sua ação estratégica, emparelhando o voto a máxima eficácia, através de iniciativas extraordinariamente controversas e volátil no campo do mercado eleitoral e da comunicação mediática. Veja-se pela triste e vergonhosa disputa em volta da distribuição do arroz e o eventual aumento das pensões sociais no Orçamento de Estado para 2024. Apoios sociais só são legítimos se forem meios para permitir mais oportunidades e não para garantir o destino das pessoas. 

Portanto, pensões e arroz perpetuam o cíclo vicioso da pobreza. Mas, então, porque fazem isso? Do que importa aumentar pensões e salários mínimos se os custos com a alimentação consomem todo o rendimento das famílias? Que desenvolvimento é este que o Governo está a gerar transformando largos segmentos dos cabo-verdianos em remediados, assistidos e dependentes do Estado para sobreviverem? Uma única resposta esclarece estas questões: A disputa pela vampirização do voto dos cidadãos para a reprodução do poder e institucionalização da legitimidade política

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