Caros amigos, estimados bairrenses,
Antes de tudo, aproveitamos para parabenizar e aclamar a CMP pelo início da tão esperada requalificação do pavimento das ruas do Bairro, desde já muito esperada pelos moradores, apesar de até esta data não ter sido apresentado o respetivo projeto e realizada a consulta pública, conforme manda a Lei.
Veicula-se informações que a referida requalificação contempla a construção de uma via pedonal na chamada “rua meio”, por sinal, a única rua com dois sentidos de trânsito e uma praça central, com função de distribuição do trânsito, tanto local como de atravessamento.
A transformação dessa rua, em uma via pedonal, remeteria todo o trânsito, para as únicas duas vias laterais, o que viria sobrecarregar e agravar os problemas a nível de circulação e de estacionamento automóvel, mas também, a nível da qualidade de vida.
Esses problemas são mais graves na “rua frente”, a mais movimentada do Bairro, tendo em conta a facilidade de comunicação com os bairros vizinhos a norte e sul, da cidade. Cerca de 90% do trânsito nessa rua é de atravessamento. Para quem vem da zona de Sucupira ou de sul da cidade, é muito mais fácil aceder aos Bairros de Eugénio Lima, Achadinha de Cima, etc., passando pelo Bairro, do que ir fazer a rotunda da ponte de Vila Nova.
A intensidade de tráfego no Bairro tende a aumentar com o crescimento dos bairros vizinhos, principalmente o Bairro de Eugénio Lima, já um dos maiores da capital, com a conclusão do Mercado do Campo do Coco, assim como, com o surgimento de novos edifícios com grande número de pisos na “rua frente” que já tem um Polidesportivo próximo.
Na “rua frente”, está em curso a construção de um edifício com 6 pisos, com pelo menos 24 moradias. Certamente, com esse precedente, outros edifícios de igual gabarito virão a ser construídos no Bairro.
O surgimento desses edifícios e a transformação da “rua meio” em via pedonal, vão provocar um aumento exponencial da necessidade de estacionamentos nas duas ruas laterais, o que agravar-se-á com a realização de eventos, sobretudo no Polidesportivo.
É facto assente que o aumento da intensidade de tráfego automóvel irá aumentar a poluição atmosférica e sonora, com consequências negativas, para o ambiente, para a qualidade de vida, e sobretudo, para a saúde das pessoas.
É nessa rua que circulam grande parte dos táxis para Eugénio Lima, os veículos pesados, os veículos militares, os autocarros, os carros de lixo, as ambulâncias, os bombeiros, os camiões para abastecimento e distribuição de mercadorias dos supermercados Calu&Ângela e da Cantina da Polícia Nacional.
É na “rua frente” que vão estacionar os veículos dos residentes da “rua meio” e seus visitantes caso ela for transformada em pedonal, para além dos próprios residentes e seus visitantes. É nessa rua que estacionam os veículos das pessoas que moram nas imediações do bairro e que buscam um lugar mais seguro para seus veículos. É nessa rua que estacionam os clientes da Cantina da Polícia. É nessa rua que estacionam uma boa parte dos utentes do Polidesportivo. Imagine-se o problema de estacionamento na “rua frente” quando for concluído o prédio de 24 apartamentos em construção.
Qualquer pessoa minimamente esclarecida entende que a “rua frente” irá ser um caos, caso for transformada a “rua meio” em via pedonal.
Por outro lado, se a quantidade de dióxido de carbono derivado da circulação automóvel nessa rua, já é preocupante, imagine-se quando se eliminar o trânsito automóvel na “rua meio” e despejá-lo, praticamente todo, na “rua frente”.
Temos a certeza que a CMP está de boa fé e empenhada em satisfazer uma velha reivindicação da população para a melhoria do pavimento do Bairro. No entanto, cremos que a Câmara tem sido manipulada e convencida de que a criação de uma via pedonal no Bairro é consensual. É falsa e puramente mentira que o projeto foi aprovado pelo grupo Pro-Cultura.
- Primeiro, porque o objetivo do grupo não era a requalificação do Bairro, mas sim, tentar salvar o Cinema.
- Segundo, porque o Grupo não tinha competência, representatividade, quanto mais, legitimidade, para aprovar coisa alguma.
- Terceiro, porque não havia projeto. Simplesmente, foi apresentada uma ideia, desde logo contestada, elaborada por alunos de Jean Piaget no âmbito de uma disciplina de arquitetura e trazida por um elemento do referido Grupo.
- Quarto, porque essa ideia não tinha associado nenhum suporte técnico, designadamente, o estudo de tráfego veicular e o respetivo estudo de impacto ambiental, que a pudesse credibilizar.
- Quinto, porque mesmo que houvesse projeto e lhe competisse, a aprovação e o licenciamento de obras urbanísticas dessa natureza, implicam o dever da participação e da consulta pública, nos termos da Lei.
Como todos devem saber, as vias pedonais não se criam só por que a maioria gosta ou quer, por interesse pessoal ou por estar na moda. As vias pedonais têm funções específicas no contexto da organização viária de uma localidade. A definição do uso de cada via é feita com base em estudos técnicos especializados, entre os quais, o estudo de tráfego e estudo de impacto ambiental, que se desconhece.
Em 1954, quando, nem havia arquitetos nem urbanistas, no país, os projetistas do Bairro tiveram a visão, a inteligência e preocupação de estruturar a circulação viária de forma a garantir maior fluidez, maior rapidez e maior economia do trânsito e colocaram ao centro, uma via com uma praça central ao meio, com função de distribuição rápida de trânsito local e de atravessamento.
É caricato, hoje, 66 anos depois, num contexto de crescimento urbano acelerado, com uma forte pressão veicular sobre as escassas ruas do Bairro, há ainda quem pretenda eliminar o trânsito de uma delas, a principal, para criar uma pedonal, com claro prejuízo para a boa circulação rodoviária e a saúde dos seus vizinhos e amigos.
De todo modo, independentemente dos requisitos urbanísticos e ambientais, que por lei deviam ser observados, designadamente, o dever da participação e da consulta publica, põe-se a questão da necessidade de uma via pedonal, no Bairro. E pergunta-se:
1. É necessário sacrificar uma rua para se construir uma pedonal, num bairrinho com cerca de 200 m de cumprimento e 60 m de largura, com apenas 3 ruas e escassa população?
2. Quais as vantagens que essa pedonal trará para o Bairro?
3. Vale a pena pôr em risco a saúde das pessoas com o aumento da poluição atmosférica e sonora?
4. Por que razão algumas pessoas se acham no direito de terem o privilégio do sossego e melhor qualidade de vida, em prejuízo da saúde de outras pessoas? E de dormirem tranquilamente, enquanto o seu vizinho aguenta todo o barrulho, engole o fumo de carros e não tem espaço para estacionar seu veículo?
5. Não há melhores alternativas para espaços infantis, recreativos e de socialização, sem prejudicar a circulação viária, a qualidade ambiental e a saúde das pessoas?
Craveiro Lopes é dos únicos bairros da capital com mais espaços que podem ser potenciados para a realização de atividades infantis, recreativas, culturais e desportivas, sem prejudicar a circulação viária, a qualidade ambiental e a saúde das pessoas.
Temos duas Praças que sempre foram os nossos pontos privilegiados de encontro, de convívio e de socialização. Temos o Largo do Polidesportivo. Temos o Largo do Cinema e do Centro de Saúde. Temos passeios largos que nos permitem circular sem problema e em segurança.
Assim, por que, em vez de se criar uma via pedonal que mais serve para nos afastar do que nos aproximar, não aproveitamos a boa vontade da Câmara para lhes pedir para melhorarem esses espaços, com infraestruturas, paisagismos, área verde, iluminação, fitness park, parque infantil, pistas de skate e patins, a fim de se criar condições para a realização de atividades infantis, recreativas, culturais e desportivas?
Teríamos muito mais a ganhar se nos uníssemos e pensássemos como tirar o máximo proveito da iniciativa da Câmara e apoiá-la a fazer um projeto com uma visão holística, sustentável, integrada e que sirva a todos e não prejudique ninguém.
Por isso, esta missiva serve, simplesmente, para convidar a todos que reflitam tranquilamente, com calma, sem extremismos, sobre como podemos melhorar o Bairro, já que a Câmara, finalmente, já cá está.
Assim, vamos unir esforços e juntos com a Câmara pensemos como pôr de pé um projeto de valorização do Bairro no seu todo e que contemple, designadamente a:
- Melhoria da Praça Central e da Praça da Escola Baixo;
- Iluminação pública, pintura das casas e asfaltagem das ruas;
- Criação de espaços verdes, arborização e jardinagem;
- Reposicionamento do parque infantil e instalação de um Fitness Parque;
- Pista para patins, skate, triciclos, etc.;
- Redes de água, de energia, de telecomunicações, de esgotos;
- Um repuxo no antigo chafariz da Praça Central;
- Reconstrução do monumento da Escola Baixo;
- Beneficiação da Escola Baixo e do Centro de Saúde;
- Criação de um centro multimédia, de uma escola de música, dança, teatro,...;
- Estaleiro e pista de ensaio para Carnaval,
E tudo mais que possa contribuir para a melhoria da qualidade de vida no Bairro e felicidade de todos.
Grupo de Cidadãos atentos do Bairro Craveiro Lopes
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