Logo que empossada, a Comissão Instaladora iniciou os primeiros passos para a instalação dos serviços e a consequente programação das atividades visando responder à demanda de um concelho carente, encravado, acusando baixa taxa de desenvolvimento económico e social.
Na verdade, em 2005, ano da criação do município de São Lourenço dos Órgãos, todas as vozes eram unânimes que a autonomia administrativa, financeira e patrimonial desta importante parcela do interior da ilha de Santiago constituiu a concretização de uma aspiração necessária e justa dos filhos da Freguesia de São Lourenço dos Órgãos, que se foi formando ao longo dos tempos e que se baseia no efectivo aumento da sua importância sob o ponto de vista histórico, geo-demográfico, económico, social, turístico, cultural e religioso.
Como em todo o processo de emancipação ou independência, a criação do concelho e a concretização desse sonho maior da população local, abriu enormes perspectivas para o seu desenvolvimento. O novo estatuto político-administrativo de S. Lourenço dos Órgãos, conseguido em Maio de 2005, foi, e continua sendo, um desafio para todos os seus filhos que foram chamados para conduzirem os seus próprios destinos e teve como corolário para os Lourentinos a proximidade aos centros de decisões, a capacidade de acesso directo a programas de investimentos e a fundos de cooperação descentralizada e o direito administrativo de poderem suprir as necessidades básicas da população e gerir as suas próprias expectativas.
Os principais indicadores socioeconómicos de São Lourenço em 2005.
Uma das razões que motivaram a criação do Município de São Lourenço dos Órgãos era precisamente o seu baixo performance de desenvolvimento no contexto do município de origem, mas também no contexto nacional, situando-se então na segunda posição como a freguesia mais pobre de Cabo Verde.
De acordo com os dados do censo 2000 e do Quibe 2006, São Lourenço dos Órgãos albergava, no ano da sua emancipação, 7.781 habitantes, o que correspondia a 1,7% da população do país, constituindo 1.473 agregados familiares. Na ocasião, a idade média da população era de 28 anos, ou seja, uma população extremamente jovem.
Apenas 2,5% dos agregados tinha ligação à rede de distribuição de água, correspondente a 17 habitações, sendo 5 em João Teves e 12 nas residências do INIDA em São Jorge. A eletricidade chegava a 27,2% da população, cobrindo apenas João Teves, Mato Raia, Lagedo, Careira, Várzea da Igreja, Mercado e São Jorge.
A nível do saneamento, só 15,1 % da população tinha uma casa de banho, e apenas 4% tinha acesso a um contentor de lixo. 83,1% da população cozinhava utilizando como principal fonte de aquecimento a lenha. O deficit habitacional qualitativo era de 65,8% e o deficit quantitativo era de 275 fogos.
A taxa de ocupação da população maior de 15 anos situava-se nos 32% e a taxa de desemprego global era de 38%, sendo que nos jovens o desemprego atingia os 46,5%. O nível de pobreza situava-se em 58,7%. A população com mais de 4 anos sem qualquer nível de instrução situava-se em 15%.
O desafio de priorizar onde tudo era necessário e urgente!
Diante deste cenário pouco animador, refletido nos indicadores de condições de vida apontados acima, cuja a fonte é o INE, a Comissão Instaladora definiu prioridades para construir um município capaz de corresponder às enormes expectativas e legitimas ansiedades da população, que queria medidas urgentes e de impactos imediatos.
Por isso, ações de ordem internas e externas foram desenvolvidas, estruturando os serviços mínimos de atendimento e de contabilidade e, ao mesmo tempo, era desenvolvido um diagnóstico da situação socioeconómica dos agregados familiares do município e, com isso, diversos estudos foram realizados e projectos foram elaborados para a mobilização de financiamento juntos dos potenciais parceiros de desenvolvimento do Município, quer a nível governamental, quer a nível das cooperações descentralizadas.
As intervenções programadas e conseguidas teve como principal objetivo a melhoria dos indicadores de condições de vida dos munícipes, onde é de se destacar o Diagnóstico Preliminar para Elaboração do PDM, liderado pelo Jovem Arquiteto do concelho, Eduardo Cunha; a construção das infraestruturas de armazenamento e distribuição de água domiciliária em diversas localidades do Concelho; o arranque da eletrificação do Concelho a partir da localidade de Órgãos Pequenos; os levantamentos topográficos e a abertura de diversos troços de estradas para desencravamento das comunidades, principalmente as das Zonas Altas do Concelho; a montagem e a implementação do Plano Ambiental Municipal; a construção de casas de banho em parceria com as Nações Unidas; o programa de reabilitação de casas degradadas em parceria com o Governo, Cooperação Portuguesa, SOLMI e Federação das Associações Comunitárias de São Lourenço dos Órgãos- FEDER-ÓRGÂOS; a reabilitação das infraestruturas desportivas em João Teves, São Jorge, Mercado e Órgãos Pequenos; a promoção de formação profissional dos jovens, dentro e fora do país; a Construção do Liceu Luciano Garcia e a reconstrução e reabilitação das Escolas e Jardins de Infância em parceria com o Governo, entre outras acções desenvolvidas pela Comissão Instaladora no período de de Junho do ano 2005 a Março do ano 2008.
Em todo esse processo, o engajamento e o apoio da Câmara Municipal de Santa Cruz, então liderada por um grande amigo de São Lourenço dos Órgãos, o Dr. Orlando Sanches, que, juntamente com a sua equipa de vereadores e ex-vereadores, nos incentivaram e, muitas vezes, disponibilizaram meios humanos, materiais e financeiros para suprir as exigências de arranque e as diversas dificuldades surgidas foram determinantes e de grande valia.
Foi um trabalho árduo, mas devidamente reconhecido pela população que não teve quaisquer dificuldades em sufragar o programa submetido pela equipa nas eleições de 2008, onde 75% dos eleitores responderam positivamente ao programa que então se encontrava em processo de execução no concelho, e fomos eleitos o primeiro Presidente da Câmara Municipal de um dos mais jovens municípios do País.
Com intenso trabalho desenvolvido pela primeira equipa camarária eleita em SLO no período 2008 a 2012, o mandato foi renovado em 2012 e podemos constatar em 2016, no final do 2º mandato, uma evolução acentuada e positiva dos principais indicadores de desenvolvimento e a melhoria de condições de vida da população local.
Com efeito, em 2016, consultando um documento do INE sobre curiosidades estatísticas do município de São Lourenço dos Órgãos podemos constatar que 72,7% dos agregados familiares passaram a ter acesso à rede de distribuição de água, a electricidade chegava a 93,1% das famílias – só Poilão e Ribeirão dos Órfãos continuavam sem energia eléctrica. 64,2% das famílias passaram a ter acesso a uma casa de banho. 48,2 % das famílias passaram a ter acesso a um contentor de lixo e 33,4% passaram a cozinhar com gás.
A nível social, a taxa de ocupação da população maior de que 15 anos (população activa) passou de 32% para 42%. A taxa de desemprego global desceu de 38% para 4,5%, o desemprego jovem, que situava em 46,8%, passou para 15,2% e o nível de pobreza, que era de 58,7%, passou para 49,7%. A população com mais de 4 anos sem qualquer nível de instrução que situava em 15%, reduziu para 9,0%.
Bem-haja a criação do município de São Lourenço dos Órgãos!
“Kau klaru ca mesti kanderu. Só ka ta odja kenha qui ka kré”
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