• Praia
  • 29℃ Praia, Cabo Verde
O Maio não pode  + ESPERAR
Ponto de Vista

O Maio não pode + ESPERAR

Ao longo dos anos temos assistido a apresentações do projeto Little Africa Maio, um projeto de carater privado que é considerado o maior projeto de investimento em Cabo Verde.

“Considerado um projeto único, assim classificado pela organização mundial do turismo, não só um hotel de sol e praia, que está muito bem, mas também que inclui uma parte cultural… O projeto contém um serie de especificações, tais como, Hospital privado internacional, um colégio internacional e todos os facilites de serviços …”

“São 500 milhões de euros que proporcionarão a criação de mais de 8 mil postos de trabalho. O investimento promete mudar a realidade da ilha do Maio”.

Por outro lado, a empresa Internacional Holding Cabo Verde, Lda, liderado pelo Sr. Enrique Bañuelos, tem as suas exigências e uma delas é a construção de um aeroporto internacional na ilha, considerado uma condição “sine qua non”, ou seja, a condição sem a qual o investimento não terá o seu início.

Um outro ponto a ser discutido e que na minha opinião não está a ser feita da melhor forma, consiste na preparação da ilha para receber um investimento desse porte. Ideia essa, que Irei aqui dividir em dois pontos:

✅A socialização do projeto com a comunidade;

✅A infraestruturação da ilha para receber o mesmo.

 

INFRAESTRUTURAÇÃO DA ILHA

Começo por aquela que é a maior exigência do próprio investidor, a construção do aeroporto internacional, que até aos dias de hoje não tenho visto nenhuma movimentação no sentido atendê-la, o que me leva a concordar a 100% com o Presidente da Câmara.

“Enquanto autoridade municipal, defensora deste importante projeto instamos o Governo de Cabo Verde a acelerar este dossiê, sob pena de a Ilha do Maio ficar para trás, com consequências negativas a vários níveis” – PCMM, Miguel Rosa

Preveja-se que com a realização desse projeto, a ilha do Maio tornar-se-ia uma atração tanto a nível nacional como internacional, pois, teríamos aproximadamente quatro mil quartos que no seu pico atenderia +/- cerca de oito mil pessoas, o que exigiria muita mão de obra (cerca de oito mil postos de trabalho) portanto, um número superior a população que atualmente reside na ilha do Maio.

Nesse caso, baseando nessa estimativa, um dado importante a ser analisado é o facto de que, se cada posto de trabalho representar uma família, a população residente na ilha poderá triplicar, o que tornaria um grande desafio à todos os níveis, seja à nível estrutural,

infraestruturas, habitação, saúde, saneamento, segurança, vários desafios sociais, preparação dos profissionais, etc. Sendo que neste momento, a ilha carece de:

 a) Bombeiros

Estive na ilha e em conversa com vários bombeiros, percebi que eles têm uma força de vontade enorme e que realmente eles amam o que fazem e que para os dias de hoje a corporação está minimamente em condições de satisfazer as necessidades da ilha, mas, a mesma não têm nenhuma condição de atender as exigências que esse projeto, LAM, como de todo seu envolvente, trará para a ilha, pois as exigências serão no mínimo o triplo dos dias de hoje.

A corporação necessita de:

 - Quartel, equipamentos de desencarceramento, viaturas, uma melhor estruturação, treinos/ formação permanente (simulações, etc.).

b) Segurança/Polícia

Com o tal almejado desenvolvimento é fundamental termos uma Polícia cada vez mais preparada e muito bem equipada, pois, a ilha não será a mesma. O número de criminalidade com certeza irá aumentar e se quisermos manter o nosso estatuto de ilha calma e serena, apolícia nacional têm de ser uma das primeira instituições a serem devidamente equipada, com o aumento do seu contingente na ilha, aumento da sua frota (sem contar com os carros emprestados) entre outros.

c) Centro de Saúde

Sim, temos um centro de saúde, um edifício bem grande, mas que a nível de equipamentos é reduzido, carece também de pessoal especializado que suprime as necessidades atuais, problema esse que se agravará ainda mais se o almejado desenvolvimento se concretizar. Também, a nível de evacuação, deve ser criado um plano de evacuação eficaz.

d) Água

Por vários anos, sobretudo, o ano de 2021, ficou marcado pela penúria de água na ilha, que apesar de avultado investimento, da AEM, no sector, ainda o resultado está longe de ser o desejável. Com aproximadamente sete mil habitantes, a empresa “Águas e Energia do Maio” não consegue dar resposta a demanda. O que me leva a questionar: como será no dia em que tivermos o triplo da população atual?

e) Rede móvel

Uma ilha plana e com fácil acesso a todos os cantos, não se percebe o porquê de ainda termos uma cobertura deficitária na ilha. Sendo que, de entre aas treze localidades, apenas duas ou três

têm uma cobertura satisfatória, uma situação que me parece inaceitável num mundo cada vez mais digitalizado, é imperativo resolver esse problema.

A SOCIALIZAÇÃO DO PROJETO COM A COMUNIDADE

O projeto LAM foi apresentado ao público numa cerimónia na Câmara Municipal e ficou-se por ali, não há nenhum documento sobre, que possamos percebê-lo a fundo, salve exceção de um pdf de 43 páginas e que na sua maioria são imagens (95%).

Mesmo sendo um projeto de cunho privado, embora não seja caso isolado, pois, há muitos projetos públicos que são amplamente citados, mas que não há nenhum documento publicado para que possamos ter mais conhecimento, como por exemplo: o Projeto Maio 20/25.

Sabendo que em tudo na vida há sempre vantagens e desvantagens, nesse caso, é preciso trabalharmos os aspetos negativos (desvantagens) para atenuarmos os mesmos. E é nesse sentido que acredito que deve ser feito um trabalho de campo junto a comunidade para que seja estimulado conversas, reflexões sobre os impactos desse empreendimento e o papel da própria comunidade no combate aos males sociais que poderão surgir ligados ao projeto LAM.

Estamos a falar de males sociais (e citando aquilo que se passa em outras ilhas turísticas do país) como, a prostituição, o aumento do alcoolismo, aumento do uso de outras drogas, criminalidade, aumento do custo de vida, construção de casas clandestinas, construção de barracas, e “n” outros males.

Todavia, acredito verdadeiramente que o desenvolvimento da ilha não deve ser adiada por medo desses males, por que todo o desenvolvimento acarreta custos tanto económico como sociais e por isso, é fundamental o papel da comunidade na prevenção e no combate dos mesmo, sendo que para tal ela precisa estar ciente e preparada.

Por outro lado, também é preciso preparar a comunidade e principalmente a população jovem no sentido de tirarem melhor proveito. E neste quesito, vejo uma movimentação positiva por parte da CMM, bem como outras instituições e empresas privada, como a MBC.

CONCLUSÃO

Se não trabalharmos estes pontos citados e outros, não adianta em nada andarem por aí a dizer que teremos um ecoturismo, um turismo diferente da ilha do Sal e da Boavista. E o país não pode cometer o mesmo erro por três vezes.

E como disse e muito bem o presidente da Câmara Municipal, o Governo de Cabo Verde tem de acelerar este dossiê, sob pena de a Ilha do Maio ficar para trás.

E nós, Maenses, já queremos conjugar os verbos no presente.

                   EN                                                                  PT

• Beginning of construction in…   ↔    Início da construção em…

• Opening in…                                  ↔   Abertura em …

• Total time período of…               ↔   Tempo total período de…

 

© Nelson R. Fernandes

Partilhe esta notícia