Na recente história da nossa democracia sempre recordamos a velha máxima dos guardiães da democracia segundo a qual “o povo é quem mais ordena”. Foi, sob este lema, que os políticos, através de uma luta titânica, se submeteram à legitimação do povo, no passado dia 25 de outubro, para eleição autárquica ocorrida em todo o País.
Consumado o facto, conhecida as vitórias obtidas durante a luta, a hora parece ser de governar de acordo com as expectativas do povo. Entretanto, em vez de se iniciar a governação, assiste-se a mais alguns atos de disputa no seio dos eleitos. Só que, desta feita, parece-me que não haverá ganhador, mas apenas perdedor.
Ora bem, espera-se que neste pequeno e frágil País os políticos cumpram a missão para que são eleitos com responsabilidade e serenidade. Almeja-se que assumam os seus cargos e passem a discutir e implementar as pautas que interessam seus municípios e Cabo Verde em geral.
Se, de facto, é o povo quem mais ordena, o País tem de ser governado e de acordo com os interesses do povo. Para tal, os atores políticos deveriam saber ultrapassar os conflitos e desavenças políticas, obrigando entre eles a uma relação de poder em vez de uma briga pelo poder. Enquanto se assiste a briga de compadres percebe-se, claramente, a inação da governação autárquica em praticamente todo o País. E existem casos paradigmáticos, que depois de toda uma controvérsia para “eleição” da mesa da Assembleia, agora a contenda parece ser para a assunção de cargos e protagonismos dentro da Câmara.
Em face a essa luta pelo poder, pode se questionar até que ponto, na nossa democracia, é o povo quem mais ordena? Isso se tivermos em consideração que a eleição autárquica determina vencedor para a Presidência da Câmara Municipal. Portanto, havendo um vencedor, este deveria ser, obviamente, quem daria a modulação de como quer governar. E, se assim for, a distribuição de pelouros deveria obedecer aos preceitos do Executivo que tem essa missão, sempre em articulação com os outros intervenientes.
Tenho aqui por mim que o momento histórico parece ser propício para esse campo de força que envolve atores políticos que estão mais preocupados na busca do poder do que na procura de uma relação de poder a bem do País. Porém, não sendo sociólogo, nem político, escuso-me de tentar verificar esse fragmento de interesse que poderá estar a afetar a relação de poder desses compadres. Mesmo assim, confesso que me parece preocupante quando se percebe que os nossos atores políticos batalham para ocuparem cargos não em defesa de interesse coletivos, mas apenas por obstinações. E, em uma briga desta natureza, as duas partes podem até ganhar, mas a sociedade perderá de certeza.
Os políticos precisam perceber que a eleição já ficou para trás e que agora precisam trabalhar independentemente das suas ideologias. Portanto, para o bem do País e da nação, devem ter a consciência de que essas brigas não levam comida à mesa do povo.
Comentários