É minha convicção de que a boa avaliação que os praienses fazem da gestão do município é fruto do percurso do seu presidente, da experiência adquirida ao longo da sua trajetória no mundo académico, no associativismo comunitário e no exercício de funções públicas. Um percurso que, na labuta do dia a dia, forjou um líder para a Praia e uma inspiração para o país.
Conheci o Francisco Carvalho em 2000 em Lisboa nas minhas regulares idas à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Recém-chegado de Cabo Verde, Francisco rapidamente se destacou como uma liderança no seio dos estudantes cabo-verdianos em Lisboa. Com a experiência associativa adquirida na sua comunidade, Vila Nova, e na docência no antigo Ciclo Preparatório da Calabaceira, Francisco Carvalho estava à frente de muitos de nós em termos de maturidade, de liderança e de sentido institucional.
Com a criação do Núcleo de Estudantes Cabo-verdianos da Nova - NEC-NOVA, o nº26 da Avenida de Berna tornou-se o epicentro da vida cultural e recreativa dos estudantes cabo-verdianos radicados em toda a região da Grande Lisboa. Ali nasceu o único jornal de estudantes que tínhamos na época e que foi para muitos de nós a primeira experiência de publicação de artigos de opinião e de resumos de temas de pesquisa académica. Tertúlias, debates e saraus culturais, eram uma constante, devidamente contrabalançadas com as mais desejadas festas estudantis e as tardes de futebol no ISEL.
No seio do NEC-NOVA nasceu o que viria a ser a futura Associação de Jovens Investigadores Cabo-verdianos - AJIC, cujo primeiro presidente foi precisamente Francisco Carvalho. A AJIC foi uma organização pioneira na realização de encontros de jovens investigadores, numa época em que os eventos de pesquisa eram uma raridade, até mesmo entre os seniores. Para além de ter proporcionado a criação de uma de rede contactos entre jovens investigadores cabo-verdianos (e de outras nacionalidades que pesquisam sobre Cabo Verde) a uma escala planetária, numa altura em que ainda não havia redes sociais digitais, a AJIC foi fundamental no despertar do interesse pela pesquisa avançada e pela formação pós-graduada. Muitos de nós que optamos por seguir a carreira académica temos esta dívida de gratidão para com a AJIC e o seu primeiro presidente.
De regresso à Cabo Verde voltei a estar em contacto com o Francisco Carvalho quando em 2008 ele convidou-me a fazer parte de um projeto de pesquisa, tendo como tema “Juventude e Violência Urbana em Cabo Verde”, que estava preparando para submeter a financiamento internacional. Enquanto jovem sociólogo e docente universitário Francisco Carvalho estava na altura muito atento e preocupado com a problemática da violência, do crime e da delinquência juvenil que vinha se configurando como um fenómeno emergente na Cidade da Praia. O projeto foi financiado pelo Conselho para o Desenvolvimento da Pesquisa em Ciências Sociais em África - CODESRIA, e foi aplicado nas Cidades da Praia, Mindelo e Espargos, tornando-se assim num dos primeiros estudos de âmbito alargado sobre a temática em Cabo Verde.
Em 2016 voltamos a estar juntos num novo projeto intitulado “Competências Adquiridas: um Passaporte para (re)Integração” cujo objetivo foi contribuir para que, partindo das suas próprias competências, os imigrantes e suas famílias oriundos da CEDEAO conseguissem uma melhor integração na sociedade cabo-verdiana. Financiado pela Organização Internacional das Migrações - OIM, o projeto beneficiou cerca de 20 pequenos negócios de imigrantes na Praia, Santa Cruz e Espargos.
Em 2018 Francisco Carvalho voltou a desafiar-me a integrar um novo e ambicioso projeto de investigação tendo como tema “Potencialidades das Migrações entre Cabo Verde, Guiné-Bissau e Senegal” e que consistia em identificar as causas determinantes para o desenvolvimento das migrações entre os três países da CEDEAO e por via desta pesquisa, apontar desafios e tendências para o futuro das migrações na nossa sub-região.
Neste pequeno texto destaco apenas os projetos nos quais tive o prazer de trabalhar diretamente com o Francisco Carvalho e que me tornaram um testemunho das suas capacidades intelectuais, mas sobretudo da sua humildade e entrega à causas públicas.
E por falar em causas públicas podia destacar ainda a importante contribuição do Francisco Carvalho no resgate do Carnaval Praiense, enquanto dirigente do Inter-vila, numa altura em que o próprio Ministério da Cultura queria simplesmente ditar a sua extinção, ou os vários programas implementados junto da nossa diáspora no período em que exerceu a função de Diretor-geral das Comunidades.
Julgo ser importante trazer este testemunho, num momento em que os praienses são chamados a avaliarem o que foi o primeiro mandato de Francisco Carvalho à frente da Câmara Municipal da Praia. Apesar de todas as adversidades e limitações impostas pelo governo, Francisco Carvalho termina o mandato com obra feita e com todas as condições para renovar o mandato.
É minha convicção de que a boa avaliação que os praienses fazem da gestão do município é fruto do percurso do seu presidente, da experiência adquirida ao longo da sua trajetória no mundo académico, no associativismo comunitário e no exercício de funções públicas. Um percurso que, na labuta do dia a dia, forjou um líder para a Praia e uma inspiração para o país.
Comentários