Tantos permaneceram cativos de sonhos e de projetos até que uma intervenção maior ou uma oportunidade vinda de fora rebenta esses cadeados fortes que os mantinham na miséria de uma vida sem horizontes nem perspetivas…! Porém, o melhor será sair do marasmo da passividade, daquele fatalismo de quem acha que os pobres serão sempre subjugados, e ir ao encontro das oportunidades que trarão liberdade e futuro. Na verdade, há sempre uma solução: cá dentro ou lá fora!
Para uma pessoa levar a sua vida com tranquilidade e equilíbrio, à partida, duas coisas são fundamentais: a primeira, é ter saúde; a segunda, é ter trabalho. Um jovem pode aparentar ter uma boa saúde, mas se tarda a encontrar trabalho, bate a esta e aquela porta e não há porta a que bata que se lhe abra, ou é “tirado da porta”, como expressivamente se diz na minha Ilha de Santiago, ou a resposta que ouve é um “hoje não dá… volte amanhã…”, dito por quem o diz para despachar o assunto e não para abrir expectativas, aquele que procura trabalho vai como que perdendo o chão, não tem mais onde colocar a sua esperança, vai esmorecendo a sua autoestima e entra num ciclo vicioso: quanto mais se deteriora o seu ânimo e a sua autoconfiança, mais difícil se torna encontrar emprego.
A garra, a firmeza, a convicção que se tinha de ser capaz de se projetar em altos horizontes, cai por terra tantas vezes porque o possível empregador não foi capaz de se colocar no lugar daquele que lhe bate à porta candidatando-se a um emprego. Ferir as expetativas de alguém só porque não apetece…como se isso não bastasse, porém, não raro, há ainda uma outra nefasta consequência: aquele que foi “tirado da porta”, era a pessoa certa para levar a cabo um projeto de ponta, uma ideia para o país.
Quantas vezes a atitude de recusa não é apenas motivada por… “agora estou sem tempo”, “agora não é oportuno”, “mande-me o seu currículo” …, mas por outras razões: “o amiguismo”, o nepotismo, uma pessoa que já se tem para aquele lugar, a afinidade partidária…etc. Na evasão dos banquetes de Estado, ou dos ministérios, no círculo das cumplicidades partidárias ou religiosas, bom seria que houvesse espaço para meter a mão na consciência… sim, o confronto com a própria consciência denunciaria muitos campeões no fechar portas, por vezes com pesados cadeados de ferro, impedindo que alguém cresça, brilhe, seja feliz e faça felizes os que beneficiariam das suas competências.
Tantos permaneceram cativos de sonhos e de projetos até que uma intervenção maior ou uma oportunidade vinda de fora rebenta esses cadeados fortes que os mantinham na miséria de uma vida sem horizontes nem perspetivas…! Porém, o melhor será sair do marasmo da passividade, daquele fatalismo de quem acha que os pobres serão sempre subjugados, e ir ao encontro das oportunidades que trarão liberdade e futuro. Na verdade, há sempre uma solução: cá dentro ou lá fora!
Um jovem que sonha em adquirir o seu apartamento, ter o seu carro, a sua poupança no banco, não pode é ficar parado a ver a cheia passar até a tempestade acalmar. Neste ou naquela área de atividade, mesmo não sendo aquela que corresponde à sua formação específica, no seu país ou noutro sempre poderá singrar, quanto mais não seja poderá adquirir um maior amadurecimento, conhecimento e enriquecimento pessoal que lhe permitam, numa próxima oportunidade, voar mais alto.
Quantos daqueles que detêm hoje o poder político ou económico no nosso país, não fizeram já, eles próprios, este percurso, subindo a pulso na vida? Se tivessem presente quanto lhes custou singrar na vida, mais facilmente dariam a mão àqueles que passam agora pelas dificuldades que eles já passaram. Seria uma ajuda à sacrificada juventude do nosso país, uma ajuda ao próprio país que precisa, para se desenvolver, da sua juventude. Basta que lhe deem uma oportunidade profissional onde os jovens possam auferir um salário justo que valorize a sua autoestima e lhes permita viver com dignidade.
Contudo, mesmo na diáspora, não falta gente que vai contribuindo para o desenvolvimento de Cabo Verde. Até parece que a distância os motiva ainda mais e faz crescer o amor pela terra.
Comentários