ENQUANTO OS EMPRESÁRIOS NACIONAIS SÃO INJURIADOS E HUMILHADOS PELA PRO-EMPRESA, E PELOS BANCOS COMERCIAIS ESTRAGEIROS OPERANDO EM CABO VERDE, O GOVERNO AVALIZA EMPRÉSTIMOS A EMPRESÁRIOS ESTRANGEIROS.
Dado à ingenuidade e/ou imprudência dos governantes, Cabo Verde tem vindo a acumular uma série de calotes, infringidos por vigaristas disfarçados em investidores estrangeiros.
Mesmo assim, insistindo em não aprender com os erros, o Governo acaba de aprovar avales no valor de 100 milhões de escudos (902 mil euros) para garantir empréstimos bancários a duas empresas privadas estrangeiras, a operar em Cabo Verde - CABOPLAST e KHIM NEGOCE.
Que garantias tem o Governo de Cabo Verde de que essas empresas estarão em condições de assumir os seus compromissos até o fim? São 60 e 84 meses, em conformidade com os prazos de maturidade dos empréstimos. Com o andar da carruagem, até lá, muita coisa pode acontecer.
O Governo alega que as Empresas CABOPLAST e KHIM NEGOCE pertencem a grupos económicos de Cabo Verde, quando, na verdade, são grupos económicos pertencentes a estrangeiros. O Governa mais alega que essas empresas operam no sector de importação e comercialização que constitui uma área estratégica e de elevada importância para a dinamização e crescimento da economia, e têm em curso vários projectos de investimentos estruturantes e de grande utilidade pública.
Que utilidade pública? Comercializam produtos de qualidade? São devidamente tributados? Fizeram algum investimento comunitário?
Temos empresas nacionais em expansão, operando nas mesmas áreas. São empresas pertencentes a nacionais, cujos lucros ficam no país, devendo também ser apoiados caso solicitarem aval do Governo junto das instituições financeiras do país. Ou será que são filhos de fora?
De facto, como diz o Governo, desde Março de 2020 Cabo Verde enfrenta uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística, sector que garantia 25% do PIB nacional. Todavia, isto não justifica os avales, porque as empresas Caboplast e Khim Negoce não têm nada a ver com isto. Os seus lucros são transferidos para fora de Cabo Verde, via bancos e também por “portas de cavalo”, fugindo ao fisco, como o diabo foge da cruz.
Além do mais, acho bastante estranho a empresa Khim Negoce ter dificuldades em garantir um empréstimo de 100 milhões de escudos à banca. Está operando há dezenas de anos em Cabo Verde, com notória expansão, pelo que devia estar financeiramente saudável, andando com os próprios pés. Isto prova que os lucros nunca ficaram em Cabo Verde.
Não precisamos de investidores estrageiros que não tenham pés para andar. Estrangeiros que quiserem investir em Cabo Verde têm que ter capacidade financeira para tal. Caso contrário não nos interessa.
Muitos vigaristas, disfarçados em investidores, já vieram para Cabo Verde, embrulharam os governantes, foram buscar milhões à banca, com aval do Governo, e poucos meses depois desapareceram, enquanto os investidores nacionais ficam cá comendo o pão que o diabo amassou.
Nós, empresários e contribuintes nacionais, não estamos interessados em pagar impostos, para o Estado ir viabilizar/avalizar empresas de estrangeiros, nossos concorrentes, que certamente andam fugindo ao fisco.
O tecido empresarial nacional, sufocado pela crise pandémica e por um sistema tributário, sem dó nem piedade, tem vindo a desaparecer lentamente. Creio que o plano nacional de retoma da economia pós-covide-19 foi concebido para apoiar empresas nacionais e não estrangeiras.
A destruição do tecido empresarial de Cabo Verde iniciou-se com a liberalização e instalação descontrolada de empresários chineses. Na altura, o Governo não se preocupou em salvaguardar espaço aos empresários nacionais, que acabaram por sucumbir perante a concorrência desleal dos importadores/retalhistas chineses, que também contribuíram para inflacionar o custo do arrendamento de espaços comerciais e residenciais.
Sou de opinião que, para salvaguardar os interesses dos nossos empresários, devia-se ceder aos comerciantes chineses apenas licenças de importação/grossista, por serem emissores (fabricantes) dos produtos por eles comercializados, preservando o espaço de retalhista aos comerciantes cabo-verdianos, estabelecendo o princípio de oportunidades para todos. Feito isto, não estaríamos atravessando esta fase crítica do empreendedorismo nacional.
Precisamos de um Governo suficientemente competente, capaz de gerir os interesses nacionais de forma a estabelecer um equilíbrio socioeconómico entre todas as ilhas do arquipélago.
Para que isso aconteça, precisamos ordenar o país neste sentido, de forma a motivar os empresários nacionais a investir em todas as ilhas e em todas as localidades, em função da população.
Com o tempo, estaremos perante um verdadeiro equilíbrio nacional tanto a nível económico, demográfico e social. Se tivéssemos feito isto, hoje não teríamos ilhas despovoadas e outras com crescimento populacional totalmente descontrolado.
Os nossos governantes precisam tomar consciência do país que temos, e agir em conformidade.
Um abraço de fraternidade a todos, de Santo Antão à Brava.
Mindelo,12 de Outubro de 2022.
ALCINDO AMADO
alcindoamado@hotmail.com
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