Expectativas VENDIDAS vs. Realidade Crua!
Ponto de Vista

Expectativas VENDIDAS vs. Realidade Crua!

Nos últimos anos, a sensação de um governo indiferente tem se fortalecido, especialmente pela perceção de que ele apoia apenas as câmaras ou grupos políticos que considera alinhados com sua agenda, enquanto os demais são deixados à mercê das dificuldades. Em vez de buscar um diálogo amplo e soluções para todos, há uma clara priorização das áreas que pertencem a aliados, deixando as regiões ou setores que não têm apoio direto do governo à margem das políticas públicas. Isso cria um clima de exclusão e desconfiança, alimentando a ideia de que as ações governamentais são seletivas.

O Desafio Político de Cabo Verde

Em 2016, quando o Movimento para a Democracia (MpD) assumiu o governo de Cabo Verde, uma onda de otimismo bem ilustrada tomou conta do País. O partido trouxe consigo arrojadas promessas de mudança, renovação e avanços nas áreas social, econômica e política. Era um novo ciclo, e muitos cabo-verdianos depositaram grandes expectativas no novo governo. Porém, cinco anos depois, a realidade de muitos parece ser diferente daquilo que foi prometido. A pergunta é: as expectativas eram demasiadas ou foi ato deliberado para apenas angariar votos? Ou a realidade se revelou aquém da conta estabelecida?

O Contexto das Expectativas

Quando o MpD chegou ao poder, os cabo-verdianos estavam ávidos por respostas aos problemas: A desigualdade social, o desemprego jovem, a crise do custo de vida e a falta de infraestrutura em várias ilhas. A promessa era clara: desenvolvimento sustentável, combate à pobreza e mais oportunidades para todos.

Em plena crise global (e local) causada pela pandemia de COVID-19, muitos viam no governo atual a capacidade de liderar um processo de recuperação econômica robusto. A agenda do MpD prometia um país mais desenvolvido, descentralizado, e com melhores condições de vida para todos os cabo-verdianos. A própria retórica do governo enfatizava um Cabo Verde mais inclusivo, capaz de atender às necessidades de todos os cidadãos, de norte a sul.

Realidade: A Desconexão Entre Expectativa e Percepção

Com o passar dos anos, especialmente após 2020, as expectativas políticas enfrentaram um choque com a realidade. O governo, ao admitir que "não temos varinha mágica", reconheceu a dificuldade de resolver problemas estruturais de forma rápida. A promessa de uma economia robusta e estável foi desafiada pela crescente inflação e pelo aumento dos custos de bens essenciais, como alimentos e combustíveis. Em 2023, a inflação atingiu níveis elevados, e muitos cidadãos sentiram diretamente o impacto no bolso, especialmente devido à guerra na Ucrânia e às crises globais. Essa percepção de que os problemas não foram resolvidos como esperado gerou uma crescente frustração, com a sensação de que as soluções eram mais lentas e complexas do que o prometido.

As desigualdade Social e Acesso a Serviços: outro ponto crucial foi o impacto das políticas do governo nas desigualdades sociais. Apesar dos avanços em proteção social e descentralização, muitas regiões periféricas do país continuam a experimentar um acesso desigual a serviços básicos, como saúde, educação e infraestrutura. Os cidadãos que vivem fora dos grandes centros urbanos, especialmente nas ilhas mais afastadas, sentem que não tiveram a mesma atenção e desenvolvimento que as áreas mais centrais e turísticas.

Emprego e Juventude: A juventude cabo-verdiana continua a enfrentar desafios significativos em relação ao desemprego. Embora o governo tenha prometido mais oportunidades para os jovens, a realidade do mercado de trabalho, com a escassez de vagas e o crescente número de jovens qualificados sem emprego, tem sido uma dura realidade para muitos. A fuga de cérebros também é um reflexo desse desajuste: muitos jovens buscam oportunidades fora do país, em busca de melhores condições de trabalho.

Por Que Esse Descompasso?

Pode ser explicada pela própria natureza do processo de governança em Cabo Verde: um pequeno arquipélago insular com uma economia vulnerável a choques externos. Contudo, a principal razão parece ser uma combinação de expectativas elevadas, próprias de uma mudança de governo, com as dificuldades históricas e estruturais do país.

O descompasso entre o que foi prometido e o que foi entregue é um reflexo da complexidade do desenvolvimento e da governança em Cabo Verde. O desafio está em equilibrar as altas expectativas com a capacidade de entrega realista, sempre buscando um país mais justo e equitativo para todos.

Além disso, a falta de um plano robusto para uma verdadeira revolução social e econômica ainda é um ponto de crítica. Em um país como Cabo Verde, onde as disparidades regionais e a necessidade de infraestruturas sustentáveis são grandes, a expectativa de que em poucos anos tudo seria resolvido é irrealista.

Ajustar Expectativas ou Redefinir Prioridades?

Diante dessa realidade, surge a pergunta: o governo do MpD deve ajustar as suas promessas ou tentar redefinir suas prioridades?

Alguns analistas sugerem que o governo precisa reconhecer que não pode atender a todas as expectativas de uma vez, e que é preciso focar em áreas que trarão maior impacto social e econômico, como a educação e formação profissional de jovens, além de maior transparência e combate à corrupção.

Além disso, é essencial que o governo trabalhe para mitigar as desigualdades e aproveitar o atual cenário de recuperação económica para melhorar as infraestruturas básicas nas regiões mais afetadas, equilibrando o desenvolvimento urbano e rural.

Governo de MPD “parida de um máma“

Nos últimos anos, a sensação de um governo indiferente tem se fortalecido, especialmente pela perceção de que ele apoia apenas as câmaras ou grupos políticos que considera alinhados com sua agenda, enquanto os demais são deixados à mercê das dificuldades. Em vez de buscar um diálogo amplo e soluções para todos, há uma clara priorização das áreas que pertencem a aliados, deixando as regiões ou setores que não têm apoio direto do governo à margem das políticas públicas. Isso cria um clima de exclusão e desconfiança, alimentando a ideia de que as ações governamentais são seletivas.

Conclui-se que a política é, muitas vezes, um campo de altos e baixos, e o que parecia ser uma onda de otimismo em 2016 enfrenta agora a dureza das realidades de governar em tempos incertos. Cabo Verde, assim como qualquer outro país, não pode ser transformado de um dia para o outro. Porém, é fundamental que o governo compreenda as expectativas populares e procure, cada vez mais, conectar suas políticas com a realidade vivida pelo povo.

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