A Associação para Defesa do Consumidor de Cabo Verde (Adeco) defendeu esta quarta-feira, 24, em declarações à Lusa, a responsabilização da empresa estatal de eletricidade pelos prejuízos causados com os apagões que duram desde o início do mês, na capital, Praia.
“A lei indica claramente que a empresa de fornecimento de energia deve ser responsabilizada nesses casos e defendemos que os consumidores devem atuar nesse sentido. Não é normal que o abastecimento seja interrompido com prejuízos vários para pessoas e pequenas empresas e não haja responsabilização”, disse Nelson Faria, presidente da ADECO.
Os cortes prolongados e imprevisíveis, por causa de avarias nos geradores da central elétrica da capital, “já passaram os limites” do normal, disse.
“Temos recebido um conjunto de reclamações dos nossos associados por causa desta situação de intermitência de fornecimento de eletricidade” que “já chegou a um ponto desesperante, em que as pessoas não têm previsão, não tem regularidade de acesso ao serviço e ficam condicionadas”, acrescentou, referindo diversas queixas de consumidores, que vão desde a inutilização de produtos alimentares a estragos em equipamentos.
As reclamações vão ser enviadas para a Empresa de Produção de Eletricidade de Cabo Verde (EPEC) “para serem sanadas e resolvidas”, caso a caso, explicou, ao mesmo tempo que a Adeco “está em comunicação com a empresa, para que esta situação seja reparada o quanto antes. É uma urgência”.
“Não temos registo de um histórico desta dimensão, mas em pequenas situações, a empresa já foi acionada” e sanou os problemas, disse.
Nelson Faria pediu ainda que a comunicação da EPEC “seja feita com verdades e de forma tempestiva”, numa alusão aos comunicados que tem divulgado nas redes sociais, prometendo o fim dos apagões, mas sem que tal aconteça.
Por outro lado, defendeu que “a empresa deve ter um processo de gestão dos riscos” de maneira a haver “salvaguardas” no caso de avarias de geradores.
Marco Cruz, antigo presidente da Adeco, também ouvido pela Lusa, referiu que a crise energética reflete os “problemas graves de sustentabilidade financeira” do setor elétrico estatal, em que cerca de um terço da energia fornecida na capital não é cobrada – por perdas técnicas, mas com “um componente muito grande de fraude e roubo”.
“É um roubo colossal” que, segundo refere, consiste num “problema cultural, em que as pessoas não querem pagar mais. Já há uma cultura de roubo”, indicou.
“Enquanto isto não se resolver”, dificilmente haverá sustentabilidade, disse, acrescentando que é necessário o contributo de todos - governos, câmaras municipais, reguladores, consumidores e cidadãos.
Marcos Rodrigues, presidente da Câmara de Comércio do Sotavento (CCS), principal agremiação empresarial de Cabo Verde, disse hoje à Lusa que a falta de energia na capital, Praia, desde o início do mês, está a afetar “brutalmente a economia”.
O ministro da Indústria, Comércio e Energia, Alexandre Monteiro, explicou, há uma semana, que metade dos seis grupos geradores da ilha de Santiago tem sofrido avarias e depende de peças do exterior.
"Nunca tivemos esta situação nos últimos anos", disse, numa entrevista à televisão pública, classificando-a como uma "anormalidade", prometendo planos para haver mais potência de reserva nestas situações.
Na segunda-feira, a Empresa de Produção de Eletricidade (EPEC) informou que um conjunto de peças tinha chegado e chegou a ser instalado, mas voltou a registar-se uma nova avaria.
"Até à resolução, com apenas três grupos operacionais, poderá ser necessário manter cortes de energia por défice de potência", comunicou a empresa, acrescentando que vai reforçar a manutenção da central, mas sem dar prazos para resolver o problema.
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