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Coronavírus. Morabeza & Amadorismo Cabo-verdiano
Ponto de Vista

Coronavírus. Morabeza & Amadorismo Cabo-verdiano

Cabo Verde sempre foi um país de brandos costumes. Somos caraterizados por sermos um povo humilde e acolhedor. Daí surgiu o termo morabeza cabo-verdiana.

Geograficamente, estamos localizados numa zona livre de catástrofes naturais, porém sofremos com a escassez e irregularidade das chuvas. Contudo, apesar dessa penúria, aliada à falta de recursos naturais, milagrosamente continuamos a sobreviver e a causar alguma inveja branca a muitos países vizinhos com abundantes recursos.

Historicamente, enfrentámos várias crises por causa das epidemias, sedo “duas delas foram as fomes que ocorreram em 1941/43 e 1947/48, matando cerca de 45.000 pessoas. Os mais atingidos foram as ilhas de São Nicolau e Fogo, onde cerca de 30% da população foi morta.

Sabe-se ainda que em 1946/48, Santiago perdeu 65% de sua população. E para fugir à morte vários outros milhares emigraram forçosamente para S. Tomé e Príncipe.” (in: https://pt.wikipedia.org).

Politicamente, Cabo Verde encontra-se muito bem posicionado no ranking dos mais democráticos dos PALOP e melhor governado, apesar de persistirem ainda muitas deficiências. Por conseguinte, nunca houve conflitos armados e os resultados eleitorais sempre foram aceites pacificamente, mesmo havendo alguma macaquice.

Por sermos um país cristão, acreditamos mais no poder Divino, em vez de também reconhecermos todo o trabalho e esforço dos sucessivos governos para que hoje estejamos onde estamos.

Por isso é que muitas vezes nunca levamos nada a sério. Daí o termo amadorismo. Colocamos sempre fé em Deus para que nada de mal nos aconteça. Aliás, sempre achamos que o mal acontece aos outros e nunca a nós.

“Coronovírus - Tudo Sob Controlo em Cabo Verde”

Ultimamente, o mundo está muitíssimo aflito por causa do CORONAVÍRUS, cujo epicentro é a cidade de Wuhan, na China. Esse vírus vem-se espalhando como grama na rubera, e vários países já se prontificaram em retirar os seus cidadãos com receio de ficarem contaminados. Para a prevenção, até já se escasseiam as máscaras e vitaminas C, em muitas farmácias europeias.

Entretanto as autoridades de Cabo Verde pedem calma e serenidade aos 16 estudantes enclausurados no Wuhan porque “está tudo sob controlo”. Ou seja, esse vírus pode infetar os outros, nunca a um cabo-verdiano porque acreditamos em Deus.
Em termos de comunicação e articulação institucional, tem-se notado muito amadorismo:

1º. Foi o Diretor do Serviço de Vigilância e Resposta às Epidemias que sem se articular com o MNE, afirmou “Cabo Verde está a preparar a retirada dos seus 16 estudantes que estão em Wuhan, com a parceria de Portugal”;

2º. Foi o Ministro dos Negócios Estrangeiros que no dia seguinte e, sem se articular com o MS, desmentiu e desautorizou o Diretor, afirmando que na verdade a retirada dos estudantes estava fora de questão para “evitar a disseminação do vírus;”

3º. Foi o próprio Primeiro-Ministro que quando confrontado com a chegada de estudantes (por meios próprios) afirmou que Cabo verde está preparado para os receber.
Ademais, ele já havia afirmado que “Cabo Verde está preparado para qualquer eventualidade que possa surgir.”

4º. Para remate final, veio o Diretor Nacional da Saúde (Artur Correia) também a pedir calma e serenidade à população, justificando que “já enfrentamos epidemias de grande envergadura e de dar uma resposta positiva a Cabo Verde (sic)”.
Na verdade acho que ele só pode estar a referir-se a essas fomes que dizimaram mais de metade da população.

Perante esse descompasso e amadorismo, alguns pais que podem, já resolveram mandar buscar os seus filhos. Dizem que já chegaram nove estudantes (Praia, Assomada e S. Vicente) e que foram convidados voluntariamente a ficarem em “quarentena domiciliar”, quando estes deveriam ir todos para os centros hospitalares que já estão ‘devidamente preparados’ e liberados só depois de 15 dias, mediante teste Negativo.

Já agora o que significa “quarentena domiciliar”? Eles não podem sair? Como tem sido o convívio familiar? Durante esse período de quarentena, o resto da família sai ou não?

Penso que deveríamos seguir o exemplo de Portugal (o nosso modelo), em relação aos 20 cidadãos que regressaram, onde estão a cumprir todos os protocolos internacionais exigidos para segurança e saúde públicas. E mesmo os testes serem Negativo, continuam de ‘quarentena’ até 14 dias. Isso chama-se Profissionalismo!

Perante esse amadorismo cabo-verdiano, devemos acreditar que o país está preparado para enfrentar uma epidemia de coronavírus?
Aqui sim, acreditamos mais no poder Divino!

Cidade da Assomada, 4 de fevereiro de 2020.

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Redação