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Consciência e coerência em democracia
Ponto de Vista

Consciência e coerência em democracia

Se é claro que a Democracia é um património inalienável do povo cabo-verdiano, não deve ser menos claro que este tema deve fazer parte sistemático do currículo escolar dos nossos alunos, se entendemos que pela educação se transforma o destino duma sociedade. Como professor e encarregado de educação, temos o ponto de vista de que, a retirada dos planos de estudo dos ensinos básicos e secundários das disciplinas como F.P.S. e Educação para Cidadania, disciplinas cujos currículos incluíam temas que tratavam de questões importantes para a consciência cidadã e democrática, não foi um boa opção. É certo também que essas disciplinas não produziram os efeitos desejados, muito por culpa da falta de consciência da sua importância e consequente má seleção e preparação dos professores para a sua orientação.

Nesta semana dedicada à nossa República, consideramos de extrema importância que seja feita por cada um de nós, uma reflexão sobre o estado da nossa Democracia, analisando o seu percurso, os seus ganhos, desafios e perspetivar o seu aperfeiçoamento.

Dos discursos proferidos no ato solene da comemoração do 13 de Janeiro, tanto por parte dos representantes partidários, como dos mais altos representantes da nação (Presidente da Assembleia Nacional e Presidente da República) e do comentário do próprio Primeiro-ministro, pudemos perceber que todos comungam da ideia de que a nossa Democracia é um capital comum a todos os cabo-verdianos fruto do esforço do povo e nunca património de qualquer ceita, organização política e quem quer que seja. Nos discursos ficou também bem evidente que as Democracias estão a ser alvo de ataques vis de extremistas e personalidades que elegem o discurso do ódio e do populismo, pondo em risco a sanidade daquele que é até o momento, o regime que melhor responde aos anseios das populações, com referência aos casos da invasão a sede das instituições democráticas no Brasil e do Capitólio nos Estados Unidos.

Embora Cabo Verde esteja inserido no mundo que é agora cada vez mais global e, verificamos que cada vez mais, estão a sair da caixa indivíduos com atitudes de ódio, populismo, desrespeito pela história dos homens e mulheres dessas ilhas, elegendo na linha de frente, os seus interesses e ambições pessoais e partidários em detrimento dos interesses coletivos e da nação, não estamos condenados a seguir o mesmo caminho, ou seja, o caminho da degradação dos princípios democráticos.

Entendemos que, se para muitos falta a consciência dos princípios democráticos, para outros, não falta a consciência, mas sim, a coerência.

Cabo Verde não tem recursos naturais, mas tem recursos humanos capazes de fazer história no capítulo da Democracia. Devemos ser audaciosos para sonharmos alto com os pés bem firmes e posicionarmos como um exemplo da Democracia a nível mundial.

O sonho de uma Democracia sã e de referência deve ser acalentado por cada um de nós e cada um deve assumir a sua responsabilidade. Chamamos atenção aos políticos, aos representantes das instituições públicas, tanto nacionais como locais, as igrejas, a sociedade civil e sobretudo aos professores e aos dirigentes das instituições de ensino.

Se é claro que a Democracia é um património inalienável do povo cabo-verdiano, não deve ser menos claro que este tema deve fazer parte sistemático do currículo escolar dos nossos alunos, se entendemos que pela educação se transforma o destino duma sociedade.

Como professor e encarregado de educação, temos o ponto de vista de que, a retirada dos planos de estudo dos ensinos básicos e secundários das disciplinas como F.P.S. e Educação para Cidadania, disciplinas cujos currículos incluíam temas que tratavam de questões importantes para a consciência cidadã e democrática, não foi um boa opção. É certo também que essas disciplinas não produziram os efeitos desejados, muito por culpa da falta de consciência da sua importância e consequente má seleção e preparação dos professores para a sua orientação.

O silêncio e a passividade dos professores, académicos e pesquisadores não são salutares para nenhuma Democracia, pois assim, os políticos ficam com espaço de manobra suficiente para decidir de acordo com os seus interesses. Lembremos que segundo a Bíblia, o pecado acontece também por omissão.

O dia da Liberdade e da Democracia deve ser celebrada e discutida nas escolas, ainda muito mais do que já tem sido hábito.

Nuca curta alusão a nossa realidade escolar, fica aqui o nosso reconhecimento às escolas do concelho e do país que tiveram e tem a iniciativa de proporcionar um espaço de debate com a comunidade educativa sobre o tão nobre tema.

Do mesmo modo expressamos a nossa reticência pela forma como algumas escolas se engajam no debate deste tema, ancorado a um partido político, que não deixa de ter responsabilidade de proporcionar este debate, mas num ambiente próprio, com opção envolver a todos de forma livre e cidadã, mas nunca de forma institucional. Afirmamos isso no sentido de demonstrar que na democracia é preciso saber distinguir Partido de Estado, pois, já não estamos no regime de partido único e a atitude sobretudo dos condenam tal regime, deve ser também diferente.

Urge darmos um passo em frente. As escolas têm um papel preponderante na educação democrática. Neste momento que se comemora a semana da República, as instituições da educação tem uma oportunidade de proporcionar um debate objetivo, científico e apartidário do tema, dando espaço aos professores, pesquisadores e especialistas na matéria, sem desmerecer o olhar dos políticos.

Na escola os políticos também podem ser chamados ao debate, mas de forma transparente e equidistante, evitando iludir os nossos educandos para uma visão enviesada e oportunista do tema.

A nossa Democracia precisa de cidadãos conscientes e coerentes.

Euclides Cabral
Professor, Licenciado em Ciências Sociais, Mestrando e pós graduado em Relações Internacionais e Diplomacia Económica

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