Continuando esta série de artigos de opinião com os quais vou “conversar” com o celebre escritor e pensador Nicolau Maquiavel, quando ele escreveu o quão perigoso é libertar um povo que prefere a escravidão.
Relembrar que os fundamentos desta prosa com Maquiavel baseiam-se:
1. Nos quinhentos anos de dominação colonial portuguesa que deixou no DNA e no subconsciente do povo cabo-verdiano o medo e a opressão;
2. Quase cinquenta anos de Cabo Verde como estado soberano capturado pela corrupção e pelo domínio de uma oligarquia avarenta e egoísta, que despreza o equilíbrio social e que, por isso, incrementa as desigualdades sociais, a pobreza, o desemprego, a violência urbana e a privatização dos serviços públicos básicos, como a saúde e a educação, tudo em benefício dos seus interesses, das suas empresas e dos seus lucros.
Verdade, Nicolau, como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão!
3. Libertar uma comunicação social manipulada e sem capacidade de passar mensagens instrutivas da cidadania, é verdade, Nicolau, uma comunicação condicionada por um Governo Central que limita o debate livre das opções tomadas pelo mesmo Governo e a diversidade da opinião;
4. Recentemente numa conferência de imprensa, um jornalista cabo-verdiano apregoou em alto e bom som que ele não está preocupado com o código da deontologia profissional dos jornalistas, que ele respeita as ordens do seu chefe, porque se ele perder o emprego, ninguém vai cuidar da sua família (num outro contexto geográfico, a Ordem Profissional dos Jornalistas abriria uma sindicância e se se quer seguir este caminho, indico como testemunhas o Engenheiro Filomeno Rodrigues e a Dra. Maria da Luz Oliveira);
5. Recordar que dois jornalistas, Maria Ressa, das Filipinas e Dmitry Muratov, da Rússia, dividiram o prémio NOBEL DA PAZ deste ano, fruto dos seus trabalhos num ambiente muito mais adverso que Cabo Verde, pelos seus esforços na salvaguarda da liberdade de expressão, condição essencial para a democracia e uma paz duradoura;
6. Nicolau, é mister inventar um PRÊMIO NOBEL PARA OS JORNALISTAS DE CABO VERDE, porque é uma quimera libertar o povo de Cabo Verde desta tirania disfarçada numa cortina de fumo da democracia com jornalistas que estão mais preocupados com a sua vida pessoal do que com as regras da sua profissão!
Verdade Nicolau, como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão!
7. Entrando no campo pessoal, na vida pública que levo, enfrento assédio moral na rua, no emprego, em vários domínios da vida privada;
8. Sobre o assédio moral no emprego, não vou expor aqui, dado que o Tribunal Constitucional deixou-me sem a proteção devida, pois está na gaveta do Meritíssimo Juiz Conselheiro, Dr. Aristides Lima, desde 2018, um recurso de amparo derivado de um processo disciplinar anulado no Tribunal de Trabalho da Praia, mas que está barrado no TC por motivos que desconheço;
9. Esta é a justiça que o meu país me oferece, Nicolau, três anos a aguardar a decisão de um recurso de amparo para a salvaguarda dos meus direitos fundamentais!
10. Na rua, é assédio moral que nunca mais acaba, é assim que um grupo de jovens, militantes fanáticos do MpD, ao passar por mim, dirigiram-me palavras nada simpáticas, como: “dja nu calau boca”;
11. Falsa modéstia, Nicolau, é reconhecida em termos gerais, a justeza das nossas propostas, em defesa da justiça social; pelejando que:
a. O salário mínimo desses mesmos jovens passe dos miseráveis treze mil escudos para vinte mil escudos;
b. O acesso gratuito da saúde e mais investimento público na saúde, melhorando a qualidade primitiva do nosso sistema de saúde, que também tem benefícios difusos na vida desses mesmos jovens;
c. A luta contra o desemprego estrutural neste país que só acontece com a mudança do chip dos governantes - diversificação das atividades económicas em Cabo Verde, reduzindo a dependência económica do setor dos serviços – não pôr todos os ovos no cesto do turismo, o que também garante o futuro destes mesmos jovens;
d. A reestruturação do Estado, reduzindo a Administração Pública, uma estrutura do governo cristalizada na CRCV, com um poder judicial independente e um PGR eleito pelo povo, em defesa do rigor e da igualdade de todos perante a lei;
e. A luta contra a corrupção, facilitando o acesso desses mesmos jovens a um pedaço de terreno para a construção da sua habitação, entre outros aspetos da vida com impacto negativo na qualidade de vida desses mesmos jovens;
f. Estes mesmos jovens desesperados e sem esperança num futuro próximo decorrente de uma política utilitarista que não os dá uma perspetiva de vida de prosperidade e de paz e, em consequência, descambam na violência urbana, no álcool, na droga, na matança por motivos fúteis, na prisão, jovens náufragos da glória!
Enfim, Nicolau,
É este homem que merece ser calado, por isso, é verdade, Nicolau, é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão!
Finalizarei estas publicações com o próximo artigo no qual darei exemplos concretos da falácia e limitações do nosso sistema de saúde.
Praia, 15 de outubro de 2021
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